Campo Grande (MS) – Na sexta-feira (27/03) o último seminário da programação Mostra Boca de Cena realizado no MIS (Museu da Imagem e do Som) foi colocado em discussão “O teatro e seu público”, mas o assunto acabou por encorpar-se em artes cênicas nas escolas. Mediado pela jornalista e diretora teatral Lu Bigatão, com os convidados Roma Roman, do Colegiado Setorial do Teatro de Campo Grande, Luiz Ishikaua, Assessor Geral do Sebrae, Solange França, técnica de arte da Secretaria Estadual de Educação e Ana Lúcia Américo da Sedhast (Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho).
Durante a conferência foram apontados problemas e soluções para o desenvolvimento do teatro nas escolas e também nas empresas, o chamado teatro corporativo. Para Luiz Ishikaua Assessor Geral do Sebrae, apesar da instituição ser um grande consumidor das artes cênicas em seus eventos e ações, não aponta para as empresas esse meio como solução corporativa, mas incentivou os artistas a se tornarem empreendedores, buscando as alternativas que o Sebrae propõe. “Só sobrevive quem empreende”, enfatizou Ishikaua.
Muitos questionamentos foram feitos quanto ao teatro nas escolas entre os participantes do seminário, que apontaram a rejeição que muitos diretores tem das artes, especialmente as cênicas. Também foi citada a lei que proíbe a cobrança de ingresso nos estabelecimentos de ensino público do Estado, o que muita vezes inviabiliza a realização de peças. Ainda no âmbito escolar foi colocada em pauta a questão de que nas escolas estaduais a dança está ligada à área de educação física o que gerou discussões por parte dos artistas presentes.
Outro ponto polêmico também foi em torno dos diretores de escolas que muitas vezes filtram os temas que podem ser abordados dentro das escolas, o que gera insatisfação dos artistas que muitas vezes tem suas peças impedidas de serem apresentadas nas instituições de ensino. “É necessário compromisso com as artes dentro do âmbito da Educação”, disse Solange França, sinalizando que os questionamentos feitos durante o seminário serão levados para a Secretaria de Educação.
Para Roma Roman, do Colegiado Setorial de Teatro o seminário é importante uma vez que se tem a oportunidade de se refletir sobre o fazer teatral no Estado e foi além em suas considerações quando enalteceu as artes cênicas. “É preciso que a gente repense as relações horizontais e o teatro pode contribuir para melhorar as relações interpessoais. Estamos tentando tornar uma sociedade mais humana”.
Já o ator Jair Damasceno, com quarenta e dois anos de atuação, elogiou a proposta do Seminário. “Agentes importantes do governo juntos, nunca tínhamos tido um fórum como este”. Ainda enalteceu a Cultura como forma de quebrar padrões. “É preciso manter canais de diálogo, de agentes interessados na quebra de paradigmas de todos os setores. A cultura chega a toda a sociedade, que nem o povo percebe”.
O diretor de Teatro Marcelo Mariano, de Coxim, ficou empolgado com a realização da Mostra Boca de Cena, que também contemplou o interior. “É um início muito proveitoso essa aproximação da Fundação de Cultura com os artistas. Tem que mostrar todas as caras das artes, quebrando paradigmas.
Logo que o Seminário terminou por volta das onze da manhã, o Calçadão da Barão do Rio Branco se tornou palco para a Companhia Última Hora de Teatro de Dourados. A peça Tristão e Isolda foi apresentada para os transeuntes que passavam por lá. Uns deram uma olhada e foram embora. Outros pararam um pouco mas também se foram. E gente que parou, gostou e ficou como foi o caso da dona Rosana Gomes, que junto com a filha Samira de 12 anos, assistiram toda a peça e ficaram encantadas já que nunca haviam assistido a um espetáculo de teatro, “Achei bonito, muito bonito, romântico”, disse Gomes empolgada.
“Tristão e Isolda” nasceu nos corredores da Universidade da Grande Dourados, mas especificamente no curso de Artes Cênicas. A peça foi composta em quatro meses e a companhia está começando sua trajetória com um ano de existência e se passa no período medieval e qualquer semelhança entre “Romeu e Julieta” de Shakespeare é apenas um detalhe. Com figurino que possui material reciclável é uma ideia que desde do início foi acalentada pela companhia. Uma mistura de drama e comédia,encantou aqueles que estiveram no Calçadão naquela manhã.
Questionado sobre o desafio que é fazer um espetáculo de rua, o ator Junior Souza, que atua já há dez anos, disse que as interferências externas são o grande obstáculo, mas que também podem acabar ajudando os atores em alguns casos. “É preciso ser maleável para conseguir prender a atenção do público. Mas a interferência pode ajudar quando souber trabalhar com isso”.