Publicado em 07 out 2025 • por Marcio Rodrigues Breda •
Há quem veja a biblioteca como um lugar de silêncio. Mas, para quem a escuta de verdade, ela fala — nas vozes que narram, nos saberes que resistem, nas histórias que se entrelaçam entre páginas e pessoas. Foi com essa sensibilidade que a palestra “Sistema Público de Bibliotecas – O papel dos equipamentos culturais na promoção do acesso ao livro e à leitura”, realizada na tarde desta segunda-feira (6 de outubro) durante a 1ª Bienal do Livro de Mato Grosso do Sul, convidou o público a repensar o sentido desse espaço que, mais do que abrigo de livros, é abrigo de mundos.
A conversa reuniu Jeimy Hernández Toscano, da Colômbia, diretora técnica de Leitura, Escrita e Bibliotecas da UNESCO e Melly Sena, diretora de Memória e Patrimônio Cultural da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, em um diálogo que cruzou fronteiras geográficas e simbólicas, revelando a biblioteca como um território de criação e cidadania.
Com a experiência de quem atua na formulação de políticas públicas de leitura em diversos países, Jeimy defendeu que a biblioteca contemporânea é, antes de tudo, um projeto político – um espaço de encontro, troca e construção de sentidos, que deve refletir as necessidades e a identidade de cada comunidade. Para ela, o conhecimento e a cultura não residem apenas nos livros, mas nas pessoas. E é nesse diálogo que a biblioteca encontra sua força transformadora.
A palestrante apresentou o exemplo de uma comunidade indígena no Pacífico colombiano, que recebeu uma biblioteca financiada pelo governo. Em vez de seguir o modelo técnico e padronizado, com livros catalogados e normas globais, o grupo redefiniu o papel daquele espaço: transformou-o em um lugar de aprendizado digital, criação de blogs e denúncia de violações de direitos humanos. Essa experiência, contou Jeimy, revela a potência da biblioteca quando ela é apropriada pela comunidade e se torna um instrumento de resistência e afirmação cultural.
Para a representante da UNESCO, repensar o papel das bibliotecas é romper com a lógica hierárquica do conhecimento e valorizar os saberes tradicionais e locais, em diálogo com diferentes disciplinas. “Quando a biblioteca incorpora a cosmovisão de um povo, ela se torna viva — um organismo que escuta, aprende e se transforma junto à comunidade”, enfatizou Jeimy.
A discussão ganhou contornos regionais com a participação de Melly Sena, que abordou o trabalho desenvolvido pela Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul na valorização dos espaços de leitura, memória e patrimônio cultural do Estado. Melly destacou o papel da Bienal como ambiente de reflexão e fortalecimento das políticas públicas de democratização do acesso ao livro e à leitura.
Ao reunir vozes locais e internacionais, a 1ª Bienal do Livro de Mato Grosso do Sul reafirma o compromisso do Estado em fazer da leitura uma ponte entre culturas, gerações e territórios, promovendo a inclusão e o reconhecimento da diversidade como pilares fundamentais para o desenvolvimento humano e cultural.
O evento acontece até 12 de outubro no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo, na Capital, e celebra o poeta Manoel de Barros, escritor pantaneiro de reconhecimento internacional que completaria 109 anos. A Bienal do Livro de Mato Grosso do Sul é organizada pelo Instituto Imole com apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura e do Governo Federal.
Fotos: Daniel Reino