Campo Grande (MS) – A chuva é quase um personagem. Ela está lá, presente nos momentos em que os protagonistas se apaixonam, cada um no seu tempo. “Cheiro de Chuva”, do Núcleo Cena Viva, uma das atrações do projeto Boca de Cena – Mostra Sul-Mato-Grossense de Teatro e Circo 2016, apresenta no palco as sutilezas da paixão. A peça será encenada no dia 20 de abril (quarta), às 20 horas, no Centro Cultural José Octávio Guizzo.
Pode ser entendida como uma metáfora bastante atual do indivíduo no mundo moderno, em que apesar de todo o desenvolvimento tecnológico e do avanço das redes de comunicação interativa, muitas pessoas ainda se sentem sozinhas, isoladas e com receio de se aproximarem, preferindo relações virtuais.
O espetáculo, no entanto, é uma reflexão sobre o amor, a solidão e o isolamento, mas também sobre a possibilidade do encontro, da mudança e da transformação pelo autoconhecimento.
O espetáculo apresenta uma professora de dança de salão que ensina seu aluno a dançar uma coreografia que será apresentada na festa de seu aniversário de casamento. A peça retrata o último dia de aula após um ano de ensaios. Ao longo do tempo se apaixonam, mas são incapazes de expressar seus sentimentos. Dirigem suas falas aos espelhos da sala de aula, sem nunca se ouvirem. Por meio destes monólogos solitários, ora cômicos, ora ternos ou poéticos, o público entra em contato com seus pensamentos, lembranças, fantasias e devaneios.
A chuva é um dos simbolismos desse amor no contexto da obra: Foi em um dia chuvoso que o aluno veio pela primeira vez ao encontro da professora; e esta, por sua vez, nos conta que apaixonou-se pelo aluno ao vê-lo na rua protegendo-se de um aguaceiro.
O Núcleo Cena Viva é formado por alunos e professores do curso de Artes Cênicas da Universidade Federal da Grande Dourados. No palco contracenam os atores Vânia Marques e José Parente, que também assinam a cenografia e dirigem o espetáculo ao lado de Gil Esper.
José Parente é ator, diretor e professor de teatro com formação acadêmica pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Iniciou suas atividades artísticas em São Paulo, onde participou de inúmeras montagens desde os anos de 1980. É professor efetivo do curso de Artes Cênicas da UFGD e co-fundador do Núcleo Cena Viva.
Vânia Marques é atriz profissional, formada pelo Teatro-Escola Macunaíma de São Paulo. Possui formação complementar em canto e técnicas vocais e corporais. Foi aluna de Neide Neves, com quem estudou a técnica do Movimento Consciente, também conhecida como Técnica Klauss Vianna. Sua formação inclui ainda um período no curso de Comunicação e Artes do Corpo da PUC de São Paulo.
Gil Esper é formado em artes cênicas pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, onde também fez mestrado na linha temática de arte e tecnologia da imagem. Seu principal interesse de pesquisa centra-se nos aspectos de visualidade da cena, tendo se destacado como iluminador, cenógrafo e diretor em Belo Horizonte, funções que lhe rendeu diversos prêmios em espetáculos teatrais.
A peça foi escrita pelo dramaturgo Bosco Brasil, um dos mais conceituados autores do teatro brasileiro, responsável por espetáculos como Esquina dos Otários (1983), Jornal das Sombras (1986), Morto não Assina (1993), Qualquer um de Nós (1996), Os Coveiros (1998, que ganha nova montagem sob o título Abelardo e Berilo em 2008), Corações Encaixotados (2006), Cem gramas de Dentes (2007), Longe da Vista Chinesa (2009), entre outros. Em 1994 conquistou os prêmios Moliére e Shell com a peça “Budro”. Seu texto mais conhecido e encenado, Novas Diretrizes em Tempos de Paz, ganhou o prêmio Shell e APCA de 2001 e foi encenado em diversos países.
“Cheiro de Chuva” é o segundo espetáculo da companhia. O primeiro foi “A Lição”, de Eugene Ionesco, que estreou em 2009 na cidade em São Paulo e foi apresentado no período de 2010 a 2013, em Dourados e outras cidades do Mato Grosso do Sul.
De acordo com o diretor José Parente, a meta do Núcleo Cena Viva é a pesquisa da linguagem cênica. Em seus espetáculos, o grupo se interessa em investigar mais profundamente as questões que envolvem a atuação, o trabalho corporal e vocal, as relações entre corpo, movimento e objetos e mais recentemente a interface entre teatro e tecnologia.
“Achamos que o espetáculo tem muita coisa a dizer ao público em geral. É um texto sensível, às vezes engraçado, que nos dá a oportunidade de fazer um bom trabalho. Também é muito atual, pois fala de amor, relacionamentos, solidão e autoconhecimento. As pessoas saem do teatro emocionadas. De alguma forma o público se identifica com a história, pois a maioria já vivenciou alguma situação parecida. Quem nunca se sentiu sozinho ou triste por ter tido alguma decepção com outra pessoa? E quem nunca parou pra pensar no sentido da própria vida? O espetáculo nos faz refletir sobre essas e outras coisas. O interessante é que cada um pode fazer a sua leitura pessoal. Então, para nós é muito gratificante fazer esta peça”, avalia Parente.
Serviço: Diariamente, ao longo do Festival Boca de Cena, que acontece de 18 a 23 de abril, a Fundação de Cultura publicará reportagens sobre as peças que fazem parte do projeto, que conta com apresentações gratuitas de grupos teatrais de Mato Grosso do Sul e de outros estados, além de seminários e oficinas. Saiba mais no nosso site: www.fundacaodecultura.ms.gov.br.