Campo Grande (MS) – Como parte da programação da Semana Estadual dos Povos Indígenas 2016, foram inaugurados na manhã desta terça-feira (26) os bustos de Marçal de Souza e Marta Guarani, no Parque das Nações Indígenas. Estiveram presentes Edna de Souza, filha de Marçal; Susiê Guarani, filha de Marta, e Valquíria, Eder e Marlene Parlagreco, filhos e esposa do falecido escultor Paulo Rubens Parlagreco, autor dos bustos.
Marçal de Souza, o Tupã-Y (pequeno Deus), foi defensor incansável dos povos nativos brasileiros e sul-americanos e um dos líderes precursores das lutas dos guaranis pela recuperação e pelo reconhecimento de seus territórios ancestrais em Mato Grosso do Sul e estados vizinhos. Foi também um dos criadores do movimento indígena brasileiro, tendo sido um dos fundadores e participado da primeira diretoria da União das Nações Indígenas.
Marta da Silva Vito (Marta Guarani) nasceu em 29 de julho de 1942 na aldeia Jaguapiru, em Dourados. As principais lutas giraram em torno da demarcação de terras indígenas, do reconhecimento da dignidade do povo indígena e do combate à opressão de índios e índias. Mudou-se para Campo Grande em 1975 e conseguiu feitos importantes, como a criação da Delegacia Regional da Funai em Amambaí e a fundação da Associação Kaguateca, buscando a unificação dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul e o agrupamento das nações Kadiwéu, Guarani, Terena e Caiuá.
Paulo Rubens Parlagreco nasceu em 10 de dezembro de 1944, onde viveu até 1989, quando então, se transferiu para a cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, vindo a falecer em fevereiro deste ano. Vem de família de artistas: filho do desenhista e arquiteto Rubens Parlagreco, sobrinho do pintor e escultor Francisco Parlagreco, neto do pintor Salvatore Parlagreco, sobrinho-neto do pintor Beneamino Parlagreco e do poeta Carlo Parlagreco. Por parte de mãe, é neto do poeta Manoel Rodrigues da Cunha.
Realizou sua formação profissional na Escola Paulista de Belas Artes (EPBA), e nos últimos anos de sua vida dedicou-se a uma produção com procedimento estético diferenciado em escultura, relacionando questões históricas e sociais da cultura brasileira.
A solenidade foi iniciada com um pequeno discurso da filha do escultor Parlagreco, Valquíria, que afirmou ser uma honra, uma emoção muito grande participar da inauguração dos bustos. “É um projeto que meu pai tinha desde 2011. Vem sendo construído desde essa época. Colocamos os bustos no parque e faltava inaugurar. Estou feliz com o apoio da Secretaria de Cultura em divulgar a arte e homenagear os artistas”, disse, emocionada.
A subsecretária de Políticas Públicas Indígenas, Silvana Terena, disse: “A Semana dos Povos Indígenas para nosso povo é momento histórico. Reconhecer a trajetória de luta desses povos é importante para que a sua memória seja preservada. Esse é um momento histórico para nós, povos indígenas. Agradecemos a Sectei que organizou essa celebração. Nossa luta jamais poderá ser esquecida. Eles morreram lutando pelos seus direitos. Quando Marçal morreu eu tinha oito anos, não tive a oportunidade de conhece-lo. O Paulo [Parlagreco] que fez essa escultura vai deixar nossa marca de luta. Nem com a dor da perda de muitos de nossos parentes nós deixamos de lutar”.
A filha de Marta Guarani, Susiê, agradeceu a Sectei por esse “grande momento, a inauguração desses bustos de lideranças do Estado. Isso vai ficar marcado na história, mais um ato de representação para a posteridade. Tenho orgulho de ser filha de Marta Guarani e sobrinha de Marçal de Souza. Agradeço à Valquíria e ao pai dela por essa homenagem”.
A filha de Marçal de Souza, Edna, agradeceu a homenagem em reconhecimento pela luta dos povos indígenas, “levando a conscientização na luta pelos seus direitos. Meu pai tinha consciência que em breve poderia morrer por essa causa. Hoje não existem mais pessoas desse timbre. Reconheço que a Fundação de Cultura abriu uma pequena brecha pelo reconhecimento desses povos. Essa instituição abriu uma luz no fim do túnel para que esses povos sejam reconhecidos e tenham memória. É uma homenagem áquele que chegou no limiar da sensibilidade do povo indígenas para que outras pessoas possam se identificar nesses momentos a luta do povo. Ele idealizou a união das nações indígenas do Brasil inteiro a lutar pelos seus direitos. Ele morreu em 25 de novembro de 1983. As ideias nunca morrem, perpetuam-se através dos séculos”.
Edna de Souza falou também sobre a homenagem ao escultor Parlagreco. “Foi um artista ligado espiritualmente que se dedicou horas e horas a esse trabalho”.
Viúva do escultor, Marlene Parlagreco disse sobre o processo de criação dos bustos. “Ele fez a maquete do Marçal por foto de jornal, depois recebeu fotos para fazer a escultura. Seu interesse veio por uma notícia que ele leu no jornal e gostou da história do Marçal. Depois ele fez a maquete da Marta. Dentro da minha casa só eu via esse trabalho. Agora que ele está no parque é importante pois traz ao público os bustos. A escultura era uma oração para ele”.
O secretário de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação, Athayde Nery, afirmou ser este um momento comovente, emocionante, de pessoas que têm alma guerreira. “Morreram pelos seus sonhos, por amor às causas libertárias. Mato Grosso do Sul e o Brasil ganham com essa homenagem. O Parque das Nações Indígenas começa a resgatar essa ligação com os povos indígenas”.
Logo após os discursos, que aconteceram no interior do Museu de Arte Contemporânea (Marco), os presentes se dirigiram aos bustos, que ficam na entrada do parque. Três índios representantes de diferentes etnias realizaram um ritual homenageando os expoentes da luta indígena brasileira, após o que foi descerrada a placa logo abaixo dos bustos.
Os presentes dirigiram-se ao Museu das Culturas Dom Bosco, onde foi realizada palestra do professor doutor Casé Angatu, sobre “Histórias e Culturas Indígenas – saberes e perspectivas: desafios do ensino, pesquisa na escola pública. Casé é professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). As atividades foram encerradas com uma visita ao museu.
A programação da Semana Estadual dos Povos Indígenas continua com exibição de filmes e exposições no Museu da Imagem e do Som (MIS). Neste dia 26 de abril serão exibidos “Flor Brilhante e as Cicatrizes na Pedra” e “A Procura de Marçal”. Já no dia 27 será a vez de “A Nação que não esperou por Deus”. As exibições acontecem sempre a partir das 19h30 e a entrada é franca. Também aberta ao público será a exposição fotográfica Kuña Porã: Matriarcas Kaiowá e Guarani, que será inaugurada nesta terça-feira (26), às 13h30.
Fotos: Edemir Rodrigues