Campo Grande (MS) – Após estrear no Memorial da Cultura uma agenda de projeções e debates que incluem os movimentos populares e a causa indígena, o Cineclube Guarani exibe na quarta-feira (25 de maio), às 19 horas, no Museu da Imagem e do Som da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul o filme “Moolaadé”, do diretor senegalês Ousmane Sembene. A entrada, como sempre, é franca.
A história de Moolaadé situa-se num vilarejo africano afastado de qualquer cidade grande, num lugar onde prevalece o costume da “purificação” feminina, isto é, a tradição da excisão clitoriana como rito de passagem. Collé, a birrenta, é a única mulher deste vilarejo que não permitiu que sua filha fosse mutilada. Para tanto, invocou os poderes da “moolaadé“, algo como uma deprecação mágica que só pode ser quebrada por quem a invocou.
Isto tem um alto preço: sua filha vira uma “bilakoro” (mulher impura) e pode por isso perder um casamento promissor; o marido de Collé também fica desmoralizado perante a comunidade e recebe por isso pressões quase insuportáveis do irmão mais velho. O conflito irá aumentar quando quatro meninas lhe pedem também a proteção de uma “moolaadé” com o fim de fugir à excisão e Collé, em atitude desafiadora, aceita o papel de protetora.
O conflito se intensificará quando duas mentes masculinas esclarecidas, alimentadas pelo manjar iluminista da cultura francesa, entrarem no conflito: o filho do líder da vila e o ambíguo comerciante (misto de usurário, conquistador barato e humanista) apelidado de “Mercenário”. Eles são, por assim dizer, a consciência superior daquele cosmo, já que adquiriram a capacidade de olhar aqueles valores culturais numa perspectiva distanciada. São, em certo sentido, alter-egos do diretor.
Em uma crítica muito aprofundada sobre o filme e o trabalho de Ousmane Sembene, falecido em 2007, o poeta e ensaísta Wanderson Lima, professor de Literatura da Universidade Estadual do Piauí logo de início cita as oportunidades em que o diretor senegalês foi comparado a Glauber Rocha, mas também suas diferenças.
“De fato, ambos propõem a produção de uma arte política mediada por requintes experimentais e conflitos ideológicos dilacerantes, esquivando-se da miséria (em todos os sentidos, especialmente o estético) que é a arte didática. Mas enquanto Rocha é épico desde o ponto de partida, logrando uma representação cósmica dos conflitos humanos que abarca do político ao metafísico, Sembene, neste “Moolaadé” (2004), vale-se de outra estratégia: começa com os pés no chão, como quem fosse apenas contar a narrativa de uma mulher birrenta e, aos poucos, vai fazendo sua história crescer até adquirir dimensões épicas”.
Cineclube Guarani – A proposta é levar sessões gratuitas de filmes e debates aos espaços onde o cinema não costuma chegar. O nome do projeto é uma homenagem do grupo ao Povo Guarani. Formado por ativistas de movimentos sociais campo-grandenses, o novo coletivo tem por objetivo descentralizar o acesso à arte e à informação e alcançar os mais diversos públicos do município: comunidades quilombolas, aldeias urbanas, moradores de bairros periféricos.
Para alcançar o ideal o grupo vem planejando ações com o intuito de arrecadar fundos para aquisição de seus próprios equipamentos: projetor, caixa de som e telão. Os cineclubistas levarão na ocasião bilhetes de rifas (que custam 2,50) do prêmio “Coleção de Filmes de Almodóvar”.
Após a exibição do filme, o debate será mediado por João Aquino, acadêmico do curso de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Serviço: A sessão acontece no dia 25 de maio (quarta). Será gratuita e aberta à comunidade geral. A classificação indicativa do filme é 14 anos. O Museu da Imagem e do Som fica no Memorial da Cultura e da Cidadania, na Avenida Fernando Correa da Costa, 559, 3º andar, Centro.
Contato para a Imprensa – Carolina Sartomen: 9244-4213