Campo Grande (MS) – O cinema marginal continua vivo. Foi o que mostrou o filme “Febre do Rato, de Cláudio Santos, exibido pelo Cineclube Marginália nesta quarta-feira (1º de março), no Museu da Imagem e do Som. O longa recebeu oito prêmios no 4º Festival de Cinema de Paulínia: melhor ficção, ator (Irandhyr Santos), atriz (Nanda Costa), fotografia (Walter Carvalho), montagem (Karen Harley), direção de arte (Renata Pinheiro), trilha sonora (Jorge Du Peixe) e longa de ficção (Júri da Crítica).
O colaborador do Cineclube Marginália, Marcos Roney H. Simões, explicou que o cinema marginal surgiu na década de 1960, durante a ditadura, no Brasil. “Não havia investimento, eram filmes muito deformados, ruins de enxergar, preto-e-branco, em que a crítica não podia estar muito explícita. Foi um movimento característico dessa época. Hoje em dia o cinema marginal vem mais caracterizado pelos assuntos tratados, como a pichação, lixo, fabelas, pobres, não tem tanto o quesito da precariedade na estética”.
Em “Febre do Rato”, de 2012, a estética faz menção ao movimento, com “seus erros, falhas, escuros, invisível. Fala da ditadura, da repressão. É como se o cinema marginal estivesse presente em 2012. Normalmente estes filmes não chegam aos cinemas de grande porte, não tendo visibilidade muito grande, por isso decidimos trazer para todo mundo poder assistir. Nós do cineclube gostamos daqueles filmes que deixam a pessoa angustiada, queremos sair do clichê happy end. Uma coisa que não se vê todo dia na TV, queremos incentivar a conversa com os amigos, que as pessoas fiquem ‘matutando’ sobre o filme, que adquiram senso crítico, vejam uma estranheza”.
Esta é a primeira exibição do Cineclube Marginália, que iniciou suas atividades como Cineclube Guarani. “Nós viemos do projeto Cinema de Horror, daí montamos nosso próprio cineclube. Primeiro chamou-se Cine Guarani, mas achamos que o nome não estava legal, hoje virou Cineclube Marginália, com exibições mensais no MIS”.
O advogado Rodolfo Zago e a terapeuta ocupacional Giovana Rinaldo vieram pela primeira vez ao MIS. Eles são do interior de São Paulo e estão na Capital há pouco tempo. “Deve ter sido a coisa mais difícil do mundo fazer cinema na época da ditadura. Foi muita resistência. Lá na minha cidade [Jundiaí] tinha um cineclube e eu frequentava. Quero começar a vir aqui também”.
Os amigos Hugo Norberto, jornalista, Sonia Stransky, empresária, Patrícia Ortiz de Castro, professora de História da Arte e Camila de Freitas Vieira, assistente social, ficaram sabendo da exibição por um site de notícias. “Acho importante essas exibições, são pouco divulgadas, temos uma cultura que não dá muita abertura para essas coisas. É gratuito e é à noite, então quem gosta sai procurando. É um trabalho de formiguinha, não dá para desistir. Por isso estamos sempre aqui. Tem que haver essas exibições, é genial. Na maioria das vezes são filmes bem escolhidos, de vários países, com gêneros diferentes”.
O Cineclube Marginália continua suas exibições no fim deste mês, com uma semana de cinema em homenagem às Artes Cênicas. Mais informações no MIS pelo telefone (67) 3316-9178.