Campo Grande (MS) – Muita dedicação e amor pela música. Os alunos e professores do projeto “Orquestra de Violoncelos de Campo Grande”, do Fundo de Investimentos Culturais da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, manifestam todo o seu carinho pelo instrumento durante as aulas de formação continuada que acontecem todos os sábados de manhã no Centro Cultural José Octávio Guizo.
O projeto, que recebeu recursos do FIC no valor de R$ 62.884,60, pretende, por meio de duas ações, difundir o instrumento no Estado de MS, com a realização de uma formação continuada (aulas do instrumento) tendo como resultado a criação de uma orquestra de violoncelos com os alunos e a circulação de concertos didáticos com um trio de violoncelos formados por professores, pelo interior de MS (os concertos serão complementados por uma vivência e contextualização histórica após a apresentação musical).
São quatro horários com duas turmas que atendem no total 21 alunos (o projeto previa inicialmente 30 alunos, mas foi readequado devido à pandemia) durante 11 meses, atividade que proporcionará a criação de uma orquestra de violoncelos que, além da realização de concertos, tem o objetivo de demonstrar o aprendizado dos alunos durante o curso, tendo como meta a realização de 2 concertos com o grupo.
O proponente do projeto e professor de violoncelo Marcelo Gerônimo da Silva explica que o violoncelo é o instrumento mais próximo da voz humana. “O timbre dele é muito agradável, combina com vários gêneros musicais, tanto o clássico como o popular, e pode ser usado como orquestra porque tem o registro grave, médio e agudo, soa muito bem. Quando ouvi pela primeira vez, fiquei apaixonado”.
Marcelo estuda música desde os dez anos na Igreja Evangélica, começou com violino e mudou para o violoncelo em 2004. Em 2007 entrou para a Orquestra Sinfônica Municipal de Campo Grande, em 2012 formou-se no curso de Música da UFMS. Há cinco anos montou a Orquestra de Violoncelos de Campo Grande. Ele diz que teve muita dificuldade no início em fazer aulas de violoncelo em Campo Grande, porque aqui não tinha professores. “Eu fui para São Paulo fazer aulas. Mas hoje, com o projeto, a ideia é expandir o movimento do violoncelo aqui em Campo Grande. O projeto tem alunos de várias idades, desde dez até 60 anos. A nossa intenção é levar a música até as pessoas, oportunizar o aprendizado. A música abrange concentração, respeito, porque tem a pausa das músicas, que exigem respeito a quem está tocando, coordenação motora, matemática – porque tem a contagem de tempo – ouvido/audição. Hoje em dia muita gente só quer falar, não quer ouvir. A música exige ouvir, mexe com os sentimentos, traz lembranças”.
Felipe da Silva Máscoli também é professor no projeto. Assim como Marcelo, iniciou seus estudos na Igreja, fez pós-graduação na cidade de Natal e na Alemanha e fez seu mestrado também em Natal. Ele é de Campo Grande, mas buscou formação nesses outros locais pela dificuldade de estudar o instrumento aqui na Capital. Ele explica que a perseverança é fundamental para se tocar o violoncelo. “Eu ‘comprei’ a ideia com o professor Marcelo, está sendo muito legal participar do projeto. Os alunos têm prazer em tocar, em mostrar aos outros o que aprendeu. Para você começar a produzir um som que agrade alguém às vezes demora um bom tempo. Tem gente que encara o desafio, tem gente que abandona”.
O monitor do projeto, Henrique Lucena Silva é filho do professor Marcelo. Ele diz que a equipe ficou muito feliz com a aprovação da proposta pelo FIC-MS. “Nós estávamos precisando de financiamento para mostrar esse mundo do violoncelo, da música, que é enorme, para as pessoas. Está sendo muito legal, a gente conseguiu adequar o projeto de acordo com o momento da pandemia de um jeito que funciona e os alunos estão empenhados, bem animados com o projeto”.
O aluno do projeto, Pedro Henrique Sabino, tem 17 anos e começou na música com violino, aos 7 anos. Quando tinha 12, experimentou o violoncelo. “Eu sempre queria estudar violoncelo, mas não tinha o instrumento ¾ próprio para o meu tamanho quando comecei. Eu acho o som do instrumento bonito, os concertos de violoncelo são muito bonitos”.
Pedro Henrique pretende ser professor de física, não quer se profissionalizar na música, mas afirma que o instrumento trouxe muitos benefícios para sua vida. “A música me acalma. É muito divertido, é legal você poder aprender e a música revigora as pessoas. A minha família toda toca, canta na Igreja Católica, isso me deu mais vontade de seguir em frente e não desistir”.
Outro aluno do projeto, Josué da Silva Soares, de 47 anos, estuda violoncelo há três anos. Ele diz que o principal benefício deste projeto do FIC é que oportuniza ao aluno estudar com diversos professores. “Este projeto é bem interessante porque está tendo rodízio de professores. Você vai somando ideias e ganhando novas formas de fazer um mesmo exercício, é bastante enriquecedor”.
Josué afirma que estudar individualmente é bacana, mas é bem legal em grupo também, como é feito no projeto, é outro aprendizado. “Eu tenho expectativa de participar também dos concertos, de tocar para outras pessoas, mas eu tenho satisfação em tocar para mim mesmo, eu gosto de ouvir o som do instrumento”.
Os concertos serão realizados nas cidades de: Aquidauana, Coxim, Corumbá, Nova Andradina, Ponta Porã, Naviraí, Três Lagoas e Campo Grande, concerto e vivência com uma hora de duração cada, totalizando duas horas de atividade. Segundo o professor Marcelo, a ideia é que sejam realizados a partir do ano que vem, no meio do ano.
Sobre o violoncelo
O violoncelo é mundialmente difundido, principalmente pelo fato inicial de J.S. Bach ter utilizado inusitadamente como instrumento solo (sem acompanhamento de outros) na série das 6 suítes. Posteriormente ganhou papel protagonista dentre os principais compositores como: Haydn, Beethoven, Dvorak e Villa-Lobos.
No Estado de MS nos anos de 2004 e 2005 há relatos da existência de somente um violoncelista profissional atuante no mercado, algo que nos últimos anos devido à facilidade de aquisição do instrumento e a chegada de profissionais de outros estados possibilitou um maior fomento para o violoncelo em Mato Grosso do Sul. Algo que ainda necessita de um estímulo para atingir as cidades do interior e novos alunos que tenham vontade de aprender o instrumento, mas que devido ao alto custo das aulas ou à dificuldade de acesso a professores não têm essa oportunidade, que o presente projeto pretende sanar em parte.
Quem quiser participar do projeto, ainda dá tempo. As aulas contemplam iniciantes e também alunos que já têm contato com o violoncelo. Mas para participar, o aluno deve possuir seu próprio instrumento. Há uma lista de espera para novos estudantes, que vão sendo inseridos caso haja desistência. Interessados podem entrar em contato com o professor Marcelo Gerônimo da Silva, pelo telefone: 67 9 9121-6182.
Texto e fotos: Karina Lima