Campo Grande (MS) – Um espetáculo de dança sem música. É o que o Conectivo Corpomancia apresentou nesta terça-feira, durante a Semana Pra Dança 2015. Foram duas apresentações do “Escalenas” no teatro Aracy Balabanian do Centro Cultural José Octávio Guizzo: às 19h30, para alunos da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, e às 20h20, para o público em geral.
Após a exibição do vídeo Maxixe, de Breno César, gravado em 2010 no Recife, como parte do Festival Cuerpo Digital – Mostra de videodanças “Miradas Corporales”, as três bailarinas do Corpomancia entraram em cena com o espetáculo que apresenta a mulher no foco principal. “Escalenas” foi contemplado pelo Prêmio Funarte de Dança Klaus Vianna 2013, da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e pelo Prêmio Célio Adolfo de Incentivo à Dança 2014.
A quantidade de espectadores foi limitada a 100 pessoas por apresentação, que ficaram colocadas no palco. As bailarinas intérpretes criadoras Franciella Cavalheri, Laura de Almeida e Roberta Siqueira “encarnaram amizades, amores, estados emocionais, encontros e desencontros, humores: sentimentos e ações que fazem parte do universo feminino”, como consta na sinopse do espetáculo.
Durante bate-papo após a apresentação, a diretora e coreógrafa Renata Leoni e as bailarinas explicaram que o “Escalenas” surgiu do encontro do Corpoancia com a coreógrafa Esther Weitzman, do Rio de Janeiro, convidada para reavaliar o trabalho “Maria, Madalena”, de 2010, do repertório do grupo. “A Esther fez uma desconstrução em vez de direção do espetáculo, num fim de semana que passamos com ela”, diz Roberta.
A diretora e coreógrafa Renata Leoni disse que houve uma modificação no “Escalenas” a partir da experiência que o grupo teve no Norte do País. O espetáculo circulou em fevereiro e março deste ano por quatro cidades do Norte: Porto Nacional e Palmas, em Tocantins, Rio Branco, no Acre, e Belém do Pará, pelo projeto “Corpomancia em Circulação”, contemplado pelo Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2013.
“Quando estávamos no Norte do Brasil fomos muito influenciadas por aquela cultura, temperos, dança. Imbuídos daquele sentimento, colocamos a dança mais para fora, para o exterior. Ficamos com esse gás, essa energia. Quando voltamos, fomos afinando o trabalho, pois achamos que estávamos com um tom a mais. O espetáculo provoca um pouco. Algumas pessoas dizem que sentem vontade de entrar no palco, na dança, no jogo”.
A crítica catarinense Sandra Meyer, professora do Curso de Artes Cênicas da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), dançarina, coreógrafa e professora de dança moderna e contemporânea, assistiu à apresentação e afirmou que foi um encontro de dançarinas de muita qualidade. ”Construir a dramaturgia é um dos pontos mais delicados. Vocês fizeram a transição do mundo das ideias para a dramaturgia. Houve muitos jogos de relação. No triângulo escaleno, nos três pontos as relações criam ressonância com o espectador sem perder as relações entre si. Vocês fizeram com que o público jogasse com vocês”.
Francisco Araújo, produtor cultural, disse que a dança contemporânea obriga o espectador a prestar atenção na cena. “O espetáculo não tem música, a luz é muito sutil, as quebras, tudo isso provoca em nós sentimentos muito interessantes. Trazer isso para o palco é de muita coragem. Faz com que a gente busque uma relação com o que é mostrado”.
O músico Gilson Espíndola afirmou que é uma ousadia fazer dança sem música. Para cada pessoa na plateia, é uma música. “Se houver mil pessoas, são mil músicas diferentes. Vocês dão às pessoas a oportunidade de criar sua própria música. Sugiro que no final do espetáculo façam uma provocação com o público, seria muito legal”.
As apresentações da Semana Pra Dança 2015 continuam nesta quarta-feira (20), no teatro Aracy Balabanian, com o espetáculo “Mudança”, da Cia do Mato. A entrada é franca. Mais informações no Núcleo de Dança da FCMS pelo telefone (67) 3316-9169.
Fotos: Daniel Reino – FCMS