O Teatral Grupo de Risco (TGR), coletivo artístico de Campo Grande, completa este mês 27 anos de atividades culturais. Sua tradição é montar peças teatrais críticas e que possam ser apresentadas em espaços públicos diversos, especialmente na rua, para que suas mensagens realmente consigam chegar até os cidadãos, de maneira especial, até os anônimos, invisíveis. O espetáculo “Revolução Muda”, foi o primeiro que foi encenado nas ruas da capital Sul-Mato-Grossense. Até os dias atuais, diversos atores de Mato Grosso do Sul exercitaram o fazer teatral sob a direção do (TGR) e consolidaram sua atuação nos palcos do Estado, do Brasil e da América do Sul, tendo se apresentado no Chile, na Argentina, na Bolívia e no Paraguai.
Com mais de trinta espetáculos produzidos, adultos, infantis, de bonecos e também documentários, a tônica é utilizar a arte como instrumento de inclusão social. Essa perspectiva levou o coletivo a realizar quinze projetos culturais sobre meio ambiente, violência contra a mulher, prevenção e saúde para populações de baixa renda, assentamentos rurais e juventude da periferia. Alguns destes trabalhos são reconhecidos nacionalmente como projetos modelos, tais como Prevenindo com Arte e Mulheres em Cena, ambos financiados pela UNESCO e Ministério da Saúde.
Para conhecer um pouco mais sobre a trajetória do grupo e comemorar mais este aniversário, a Assessoria de Imprensa da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) entrevistou uma das primeiras diretoras do coletivo, Roma Roman. Acompanhe a entrevista:
FCMS – Depois daquela fase na qual você esteve um pouco desestimulada com as dificuldades de se fazer teatro no MS, agora, neste aniversário de 27 anos do grupo, o entusiasmo voltou ao Teatral Grupo de Risco?
Roma Roman – Quem não fica estupefato diante do cotidiano? Essa é uma constante em todos os que pensam outra perspectiva de sociedade e o teatro é uma ferramenta muito forte para ser trabalhada quando pensamos nisso. O entusiasmo existe, porém é difícil levar socos no estomago diariamente e seguir a sugestão que circula da felicidade perene, não acha?
FCMS – Como você vê o engajamento dos artistas do TGR na luta pelo desenvolvimento cultural de Campo Grande? Esse ativismo é resultado da ideologia do gupo, que sempre procurou fazer um teatro crítico?
Roma Roman – Sim, como disse Brecht, a arte não é um espelho para refletir a realidade mas um martelo para lhe dar forma.
FCMS – Você a credita que o púbico sul-mato-grossense amadureceu com o passar dos anos para entender as diversas estéticas teatrais que o teatro de Mato Grosso do Sul oferece?
Roma Roman – O TGR procura contar a história dos que não figuram na história oficial. Seus trabalhos, como os de outros coletivos, estão em constante busca, dialogando uns com os outros, trocando, buscando conhecimento, fazendo crítica, trocando saberes, aprendendo e apreendendo entre nós e, na medida do possível, com outros artistas além das fronteiras do MS. No que se refere ao público, me parece que ele, principal motivo da nossa existência, entende sim, porém, é preciso chegar aos espaços mais distantes.
FCMS – Na sua visão, o Festival de Inverno de Bonito e o Festival América do Sul conseguiram promover a visibilidade dos grupos teatrais de MS a outras fronteiras?
Roma Roman – Não posso comentar a respeito pois não acompanhei o desenrolar dos mesmos, porém, acredito ser de enorme importância uma avaliação criteriosa de todas as ações que a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul se propõe realizar, as quais devem contar com a participação ativa dos artistas, não só do teatro mas de todas as outras áreas.
FCMS – Qual é o trabalho que o TGR fez que você considera mais significativo e que deixou saudades?
Roma Roman – Guaicuru – histórias de admirar é um que eu considero muito significativo, mas também Mburêo me toca bastante… Sabe é difícil falar de um só trabalho. Hoje eu considero que Guardiões, que está praticamente iniciando sua trajetória e que é uma obra aberta, ainda vai nos encantar tanto quanto os que menciono acima.Poderia falar também dos filmes que produzimos, como é o caso de “lº Ato – A liberdade é dentro”, que é maravilhoso, contundente ou de “Caá – A força da erva”, enfim, são muitas histórias por trazemos de cada trabalho, o processo de pesquisa, o processo de montagem, tudo fica reverberando em cada um dos envolvidos e nos marcam.
FCMS – O que vem à mente dos diretores do grupo quando lhes vêm a vontade de trabalhar a identidade sul-mato-grossense?
Roma Roman – Como mencionei antes, pensamos em trazer as histórias dos invisíveis, contribuir mesmo que modestamente, para que de algum modo possa existir uma base fundante forte, em que haja amorosidade, respeito e solidariedade. Eu mesmo, sou um poço de ideias que se entrelaçam.