Desfile de Moda Autoral exalta ancestralidade, essência criativa e sustentabilidade de marcas locais

  • Publicado em 05 abr 2025 • por Daniel •

  • Na passarela, 10 marcas e 20 modelos provaram que a moda é para todos e todas

     

    Desde a antiguidade, a moda é um instrumento de expressão e transformação social. E foi exatamente o que o público do Campão Cultural viu na passarela durante o desfile de Moda Autoral realizado neste sábado (05) na Praça do Rádio. De acordo com a coordenadora do evento, Karla Velasco, a moda autoral se diferencia da indústria tradicional justamente por valorizar a moda como arte e identidade. “Essa é a essência da moda dentro do Campão Cultural. As coleções refletem experiências pessoais de seus criadores, valorizando o artesanato e incorporando a riqueza natural e a diversidade cultural que definem o estado”, explicou.

    Xuvé – raízes ancestral

    Dez marcas de moda autoral, selecionadas por meio de edital, apresentaram 10 looks cada uma.

    A XUVÉ – Raízes Ancestrais abriu o desfile unindo arte, cultura e consciência ambiental para apresentar a força indígena Terena e a biodiversidade do Cerrado e do Pantanal.
    Na sequência, Ayele Tissu encheu a passarela de cores vibrantes e símbolos tradicionais para reforçar a conexão histórica entre o Brasil e a África.
    Já a C4 Bordados e Criações uniu tradição e inovação no artesanato, combinando o bordado filé, tradicional da região Nordeste do país, com tecidos como jeans e algodão cru, adaptados ao estilo sul-mato-grossense.

    A marca Emília Leal Arte Nativa apresentou moda sustentável e ecológica, utilizando matérias-primas residuais e pinturas artesanais inspiradas na iconografia indígena, afro e na biodiversidade do Cerrado-Pantanal. Seu desfile contou com apresentação ao vivo e a energia do grupo Vosmecê. 

    Jardim Caleidoscópio

    Artista visual e designer de moda, Fran Comparin enfrentou o desafio de adaptar a estampa digital – que tem melhores resultados em tecidos mais pesados e quentes e propícios para o clima frio da região Sul, onde estudou moda – a tecidos mais leves e frescos, que possam ser usados no clima de Campo Grande. “A estampa digital ‘pega’ melhor em tecidos como o nylon, por exemplo, que é muito quente para o clima do Mato Grosso do Sul. Então há três anos, quando voltei a morar aqui, me dediquei a pesquisar outros tecidos que também se adaptem bem à técnica, mas que sejam mais confortáveis para o calor”, explicou.
    Participando pela primeira vez do Campão Cultural, Fran apresentou a coleção “Jardim Caleidoscópio”, para representar o frescor também por meio das estampas de plantas, folhagens e flores.

    LidyLo é uma marca de moda feminina retrô inspirada na mulher sul-mato-grossense: forte, imponente e destemida. Com referências aos cortes dos anos 1950, traz um toque contemporâneo marcado pela transparência e pelo preto, suas assinaturas.

    performance Andrômeda Black

    Já a marca Márcia Lobo Crochê celebrou a essência do Carnaval brasileiro com peças artesanais vibrantes que homenageiam as manifestações populares e a liberdade de expressão dessa festa icônica. Com músicas tradicionais de carnaval embalando o desfile, os modelos não resistiram e exibiram muito samba no pé em cima da passarela.

    A Ajuberô Ateliê utiliza técnicas como o upcycling para transformar roupas descartadas em arte e criar peças que celebram corpos negros e LGBTQIAPN+, enaltecendo diversidade, pertencimento e consumo consciente.

    Touché – arte e moda urbana

    Há mais de 10 anos, a Touché une arte e moda urbana, expressando temas como música, literatura e cinema, incorporados a designs contemporâneos.

    Inspirada na cultura hip-hop e no movimento street dance, a marca FNK traduz a fusão entre estilo e expressão corporal, sob a visão do coreógrafo Edson Clair. 

    O encerramento ficou por conta de uma performance de Vogue com a artista Andrômeda Black e dançarinos. 

     

     

    Um desfile de inclusão
    Quem esperava encontrar apenas mulheres brancas, altas e extremamente magras na passarela, deparou-se com um verdadeiro desfile de inclusão: os 20 modelos selecionados entre os 108 inscritos foram escolhidos de forma que todas as marcas pudessem desfilar com modelos que representassem suas identidades. A escolha contemplou diferentes gêneros, etnias e biotipos, promovendo a pluralidade e a diversidade, com candidatos de 18 a 80 anos.

    Terezinha Rockenbach

    Destro

    Uma das modelos mais aplaudidas a cada vez que subiu na passarela, a aposentada Terezinha Rockenbach, 76 anos, era a única modelo 60+ do casting. Selecionada para desfilar 5 looks de 5 marcas diferentes, Terezinha conta como foi a experiência. “Eu tenho me divertido muito participando dessas coisas novas. Recentemente, fiz uma propaganda para um órgão público e acho que isso abriu meus olhos para novas oportunidades. É um ambiente leve e de muito respeito. Tenho me divertido”, afirmou.

    Representando a comunidade LGBTQIAPN+, Destro, 15 anos, viu na seleção do Campão Cultural uma oportunidade para lutar por respeito. “Aqui em Mato Grosso do Sul, é muito difícil uma mulher trans conseguir visibilidade. É muito bom mostrar pros outros e pra nós mesmos que podemos ocupar esses espaços, ainda mais nesse momento em que o cenário da moda local está tão fortalecido. É importante crescer e crescer com respeito”, defendeu.

    Jhony Maik

    Larissa de Paula

    O social media Jhony Maik, 22 anos, já fez alguns desfiles de passarela e também fotos para marcas de roupas. Ao saber da seleção para o desfile de Moda Autoral, não só se inscreveu, como chamou o amigo, o estudante Vinicius de Oliveira, 24 anos, para participar também. “Já ouvi de algumas pessoas que deveria tentar a carreira de modelo, mas nunca levei a sério. Esse processo seletivo foi uma espécie de confirmação de que quero mesmo tentar. É meu primeiro desfile, estou nervoso, mas muito animado”, contou.

    Portadora de uma síndrome genética rara que afeta o tecido conjuntivo, a Síndrome de Marfan, a publicitária Larissa de Paula, 28 anos, encarou a oportunidade de desfilar no Campão Cultural como uma forma de resistência contra os diferentes tipos de preconceito que sofre. “Como mulher com deficiência e mulher negra com deficiência, ocupar esse espaço é uma demonstração da minha força e da importância da minha existência”, declarou.

     

    A beleza do desfile (cabelo e maquiagem) foi assinada pelos estilistas Fabio Mauricio, da F.M, e Hígor Euzébio, da Eu H Handemade. 

    O Campão Cultural acontece até o dia 6 de abril. Para conferir a programação completa, acesse o site ms.cultural ou siga a página @festivalcampaocultural no Instagram.

    texto: Bianca Bianchi

    fotos: Maurício Costa Jr.

     

    Categorias :

    Campão Cultural, Inclusão, LGBTQIAPN+, MODA

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