No último dia 11 de julho, o poeta douradense Emmanuel Marinho apresentou seu mais novo trabalho “Bicicleta do Poeta” na 1ª Feira Literária de Bonito. Artista de com reconhecimento nacional e internacional, no fim de junho, ele também recebeu o título da Organização das Nações Unidas (ONU), de “Guardião dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), numa solenidade ocorrida na capital sul-mato-grossense. Os “direitos humanos” dão o tom a seu trabalho artístico e nessa vereda temática já recebeu diversos prêmios como “Marçal de Souza” pela defesa dos povos indígenas, concedido pela Câmara Municipal de Dourados em 1995, “Cidadão da Paz”, concedido pela Comunidade Bahá’i do Brasil- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura da Unesco em 1996; “Marçal de Souza”pela Defesa dos Direitos Humanos em 1997, homenagem da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, entre outros. Este apaixonado ícone da cultura sul-mato-grossense concedeu uma entrevista à imprensa da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul e contou um pouco de sua história, trabalhos e pontos de vista. Acompanhe a seguir:
FCMS – A sua inclinação para atuar na defesa dos direitos humanos e atividades sócio-culturais apareceu no curso de psicologia ou em suas primeiras peças de teatro profissionais “Relatório da 12ª era” e “La Revista” na época da ditadura?
Emmanuel Marinho – Em 1974 fui para São Paulo terminar o ensino médio e comecei a fazer teatro na escola. Convivia com um grupo que atuava contra a ditadura militar, a partir daí passei a ser um militante pela democracia e pelos direitos humanos, tendo como armas a poesia e o teatro. La Revista era um espetáculo proibido de ser montado no Brasil, fizemos uma montagem clandestina. Na Relatório da 12ª era, tivemos que burlar a censura para ser apresentado.
FCMS – Em que medida a sua experiência no teatro do eixo Rio-São Paulo foi decisiva na sua formação cultural de artista douradense? Ajudou você a olhar a cultura local com outras perspectivas?
Emmanuel Marinho – Foram vinte anos entre São Paulo e Rio de Janeiro, trabalhei como ator com grandes nomes do teatro brasileiro, experiência riquíssima. A pós-graduação na UFRJ foi um divisor na minha carreira, foi quando comecei a escrever e montar meus próprios espetáculos. A cultura local, minhas memórias da infância, a minha cidade fazem a diferença no meu trabalho artístico. Eu canto meu lugar com um olhar a favor do mundo.
FCMS – Como você vê o desenvolvimento das atividades da Fundação de Cultura de MS a partir da época em que você atuou como coordenador do núcleo de teatro e dança do Estado? Você acredita que a difusão cultural em MS evoluiu com o passar dos anos?
Emmanuel Marinho – Aquele momento foi único, inaugural, estava tudo para ser criado e éramos um grupo de pessoas com muita vontade de fazer: Idara Duncan, Glórinha Sá Rosa, Miska Thomé, Jonir Figuiredo, Joel Pizzini, Sandra Menezes, Paulo Simões, entre outros. A criação da Secretaria de Cultura e a participação democrática dos artistas, assim como suas reinvindicações em grupos organizados fortaleceram a classe artística que a cada ano se reinventa. A cultura não é estática, somos todos passageiros e vejo hoje em nosso estado uma juventude atuante, tanto no processo criativo, como na politica cultural de MS.
FCMS – Você acredita que o teatro de rua, linha do seu trabalho com a poesia falada, é uma forma de deselitizar a cultura? Como você enxerga esta perspectiva em MS?
Emmanuel Marinho – O artista na rua atinge um publico que muitas vezes não frequenta as salas de espetáculos, a troca é imediata e possibilita a democratização da arte. Gosto mesmo é de estar levando meus trabalhos nas escolas, na periferia das cidades, nos lugares invisíveis. Me alimenta a alma. Compartilhando o conhecimento aprendo muito com o outro. Em Mato Grosso do Sul, temos vários e bons grupos de teatro de rua. Um movimento forte e encantador.
FCMS – Você acredita que o discurso da identidade sul-mato-grossense não limita um pouco a visibilidade das identidades étnicas do Estado, como a indígena e quilombola? O status quo desta perspectiva não acaba favorecendo os artistas que estão mais próximos do poder e da mídia?
Emmanuel Marinho – Meu trabalho é todo pautado nas nossas múltiplas identidades. Tenho uma alma guarani e meu trabalho, assim como de vários artistas da terra, revelam nossa identidade indígena e isso faz a diferença. São produtos artísticos que não interessa aos meios de comunicação de massa, que trabalham com o descartável. Brincando com Quintana digo :Eles passarão, nós passarinhos…
FCMS – Na sua opinião, como o gestor cultural tem que encarar os novos tempos do incentivo à leitura com a realidade da internet e das redes sociais?
Emmanuel Marinho – O incentivo à leitura abrange todas as linguagens, não só o livro. Temos que aprender a ler o mundo e lidar com a tecnologia que veio pra ficar. Usa-la a nosso favor.
FCMS – Como foi trabalhar com uma família indígena na peça La Guerra? Os indígenas se enxergam na cultura sul-mato-grossense na sua opinião?
Emmanuel Marinho – Convidei uma líder indígena para ministrar uma oficina sobre a cultura Guarani, professora Zélia, durante a montagem do espetáculo La Guerra, para que o grupo de teatro (GEPETU) que eu dirigia na UEMS, se apropriasse da raiz da nossa cultura. Ela apareceu, no dia combinado, em duas carroças com a família inteira e durante vários sábados tivemos o privilégio de aprender muito sobre nós mesmos. Eles gostaram tanto de tudo, que se ofereceram para trabalhar no espetáculo. Puro encantamento.
FCMS – Como você vê a importância da atuação de artistas de Dourados na produção cultural de MS atualmente?
Emmanuel Marinho – Dourados tem uma produção cultural muito significativa, no teatro, na dança, na música, nas artes visuais, na literatura e no cinema. Bons trabalhos que fazem a diferença dentro do cenário das artes de MS.
FCMS – Quais são os trabalhos significativos que você vem fazendo atualmente?
Emmanuel Marinho – Estou com um repertório de três espetáculos e um show. “Solo Para Palavras e Sanfona de Brinquedo”, “Porã”, “A Bicicleta do Poeta” e o show do meu novo CD, “Encantares”. No final de julho começo uma maratona de apresentações pelo país.
Foto: Ivonete Simocelli – FLIB-2015