A 15ª Mostra Boca de Cena trouxe para a Lona da mostra na tarde desta quarta-feira o espetáculo circense O Grande Salto, estrelado pelo artista João Rocha. O espetáculo, que encantou as crianças e adultos que estiveram presentes, mostrou um pouco da técnica do trampolim acrobático, uma técnica olímpica desde 1998 e também muito utilizada no circo.
João Rocha, faz parte do Sucata Cultural, que é uma associação de artistas, que fica em Dourados. Ele conta que o espetáculo surgiu no período da pandemia, foi inicialmente em formado audiovisual, para as leis de auxílio ao artista, e hoje está adaptado para espetáculo e rua e demais espaços e tem circulado o país. “Na Sucata Cultural a gente tem um espaço que promove tudo isso. Tem o Teatro de Bolso, para 80 pessoas, biblioteca, sala de exposição, um espaço para sarau, um bar cultural, neste espaço que a gente ensaia e treina e ministra as técnicas que a gente tem. E foi lá que, durante a pandemia, o espaço ficou fechado, não ia ninguém, que eu consegui montar a cama elástica, que é um objeto grande, o trampolim acrobático que tem 5 por 4 metros, e ela ficou montada toda a pandemia e eu pude treinar neste tempo e foi aí que eu montei este espetáculo que é O Grande Salto. O primeiro formato veio em audiovisual, foi um produto para as leis de auxílio ao artista, na Lei Aldir Blanc, e depois disso, no pós pandemia, eu transformei ele num espetáculo de rua, ou para espaço alternativo, ou circo, ele cabe em qualquer lugar desde que tenha uma altura boa, porque eu preciso saltar seis metros de altura, e a gente montou esse espetáculo, que tem esta técnica do trampolim acrobático, uma técnica olímpica desde 1998 e também é muito utilizada no circo”.
João explica que o número apresentado no espetáculo é um número tradicional pouco feito no Brasil. “Hoje deve ter umas dez ou menos pessoas que estão fazendo esta técnica no Brasil, e aí eu pude montar este espetáculo e já circulei com ele por todas as regiões do Brasil, Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Rondônia, em vários festivais de circo, e continuo circulando bastante. É um palhaço que chega para assistir, e aí não tem o acrobata para fazer e ele resolve fazer, no início ele vem questionando o circo, e quando ele começa a falar que faz ele vem a entender que o circo é algo tradicional que precisa de trabalho, de estudo”.
O artista circense afirmou que o Boca de Cena é hoje o principal festival de teatro e circo de Mato Grosso do Sul e talvez até do Centro-Oeste e oportuniza a troca estética entre artistas e o acesso gratuito de espetáculos ao público. “Ele é de suma importância porque este momento em que a gente junta os artistas há uma troca estética muito grande, e a gente se reconhece enquanto classe trabalhadora, resistente em Mato Grosso do Sul, com muita força política, educacional, social, entre outros fatores da sociedade. E para o público é muito importante, porque a gente descobre que Mato Grosso do Sul está produzindo. Muita gente não conhece quem está produzindo em Dourados, quem está produzindo em Três Lagoas, quem está produzindo em Amambai, enfim, diversos lugares. É um momento do público entender, valorizar, se sentir parte dessa estética e dizer ‘que legal, eu posso ir, é gratuito, é legal, é bacana, no meu Estado, na minha cidade, produz arte, produz cultura’. É algo para o público estar além do lugar de apreciação, estar no lugar de apropriação, porque quando a gente fala do teatro sul-mato-grossense a gente também está falando do artista sul-mato-grossense, do cidadão sul-mato-grossense, de moradores do nosso Estado, e se eu valorizo meu Estado, o meu Estado vai ser muito melhor”.
O artista visual Natan Brito Alves veio prestigiar a Mostra assistindo ao espetáculo desta tarde e contou um pouco de sua experiência com o circo: “A minha experiência com o circo é uma experiência muito linda porque o circo ele traz essa ludicidade, essa cor, essa vibração, essa energia pra gente de uma forma bem teatral, de uma forma bem preparada e que envolve a gente e que traz a arte para vários campos, essa itinerância que o circo tem é muito legal porque leva para várias comunidades, leva para vários locais, locais que geralmente não são tão elitistas, lugares fáceis de acessar, fácil de você ter acesso a essa cultura circense, acho muito legal. O que eu mais gostei no espetáculo foi essa interação que eles têm com os jovens. Eu acho muito interessante como eles conseguem conduzir esse tipo de espetáculo que tem tanta colaboração dessa energia que a juventude tem e usar isso a favor deles para somar no espetáculo”.
Mateus Gabilanes Rodrigues, professor e coordenador da área de linguagens da Escola Estadual Professora Clarinda Mendes de Aquino, trouxe mais ou menos 70 estudantes para apreciar o espetáculo. “Nós temos uma política na nossa escola de incentivar a arte, principalmente o circo, a dança, teatro, e a gente sempre leva pra escola para os estudantes terem acesso, porque a gente sabe que a realidade dos nossos estudantes é muito difícil, alguns nunca tiveram acesso à dança, ao teatro, ao circo e a gente sempre traz essas oportunidades para eles. O Boca de Cena está fazendo este evento lindamente e a gente decidiu organizar junto com a rotina da nossa escola, que é integral, e trazer os estudantes. Eu acho importantíssima esta oportunidade, porque nós sabemos que a realidade da nossa cidade, não há, todos os dias, todas as escolas que têm esta oportunidade, as pessoas, muitas vezes de bairros periféricos não conseguem ter acesso, e aí tendo um evento como esse oportunizado gratuitamente pela Fundação de Cultura, acho divinamente importante para a nossa cidade e principalmente para os estudantes da escola Clarinda”.
Texto: Karina Lima
Fotos: Daniel Reino