Campo Grande – Destacando a existência do povo indígena Kinikinau em terras sul-mato-grossenses, onze autores vão lançar nesta sexta-feira (2), às 19h, no Museu da Imagem e do Som de MS (MIS), o livro “Kinikinau – Arte, História, Memória & Resistência”.
O lançamento conta com a parceria do Governo do Estado, através da subsecretaria de políticas públicas para a população indígena, vinculada à secretaria de Cultura e Cidadania (SECC).
Os autores do livro são: Aila Villela Bolzan, Giovani José da Silva, Iára Quelho de Castro, Ilda de Souza, Inacio Roberto, João Evaldo Ghizoni Dieterich, José Luiz de Souza, Miriam Moreira Alves, Othon Henry Leonardos , Rosaldo de Albuquerque Souza e Valéria Guimarães de Carvalho Couto.
Tudo começou quando Giovani José da Silva, docente e pesquisador na Universidade Federal do Amapá, graduado em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Pós-Doutor em Antropologia pela Universidade de Brasília (UnB), visitou em 1997 uma Reserva Indígena Kadiwéu, nas proximidades da cidade de Porto Murtinho. Lá ele descobriu a existência de indígenas da etnia kinikinau, até então considerados extintos por renomados antropólogos brasileiros, tais como Darcy Ribeiro e Roberto Cardoso de Oliveira.
“Pensavam que eles haviam desaparecido ao longo do século XX. Como são parecidos com os terenas foram confundidos com eles, mas são diferentes, formam sua própria etnia, língua e costumes”, alega o antropólogo que os localizou na aldeia São João.
Após muita pesquisa, Giovani publicou em 2003 o primeiro artigo no Brasil (e no mundo) sobre o povo kinikinau, intitulado: “O despertar da fênix: a educação escolar como espaço de afirmação da identidade étnica Kinikinau em Mato Grosso do Sul”, em parceria com José Luiz de Souza.
Depois disso, diversos estudantes realizaram teses incluindo de mestrado e doutorado, aprofundando ainda mais o assunto. “Decidi reunir esse pesquisadores e o resultado é este livro que será lançado no dia 2 de junho”, completou Giovani.
Para a subsecretária de políticas públicas para a população indígena, Silvana Terena, o livro é muito mais do que um apanhado de pesquisas: “Todo esse estudo que se iniciou no passado reflete no presente e no futuro do povo kinikinau. Precisamos levar este conhecimento para as esferas estaduais e federais, para dar voz a eles, mostrar que ainda existem e ao mesmo tempo abrir o debate para a demarcação de terras para esta etnia”, opinou Silvana.
Juntos, os autores, incluindo indígenas Kinikinau, apresentam um mosaico que revela histórias e memórias de dor e de sofrimentos, mas também de fé e de esperanças. Espera-se que a obra que vem a público ajude a apagar as ideias de extinção e de esquecimento dos “Koinukunôen”.
“Como diria nosso querido historiador Hildebrando Campestrini, os índios se invisibilisaram ao longo dos anos para poderem sobreviver em meio à matança. Com os kinikinau não foi diferente. Este livro é de extrema importância, pois se apropria de conceitos pertinentes à história indígena e à geografia cultural, mostrando que eles ainda existem e resistem”, afirmou o secretário estadual de cultura e cidadania, Athayde Nery.
Reportagem: Alexander Onça
Foto: Conselho Indígena Missionário