Campo Grande (MS) – Foi aberta na noite desta terça-feira (30) a terceira temporada 2016 de exposições do Museu de Arte Contemporânea (Marco). São quatro mostras com instalações, pinturas, gravuras e esculturas de quatro conceituados artistas do país.
A coordenadora do Marco, Maysa Barros, agradeceu a presença de todos que vieram prestigiar a abertura, na noite fria de ontem. “Museus são espaços de reflexão que impulsionam o pensar social, e têm a responsabilidade de reproduzir a pluralidade da sociedade. Temos o compromisso de fazer uma política social enraizada na vida social e econômica da sociedade. O nosso museu é parceiro da sociedade”.
Maysa agradeceu aos artistas e funcionários da Sectei e do Museu que tornaram possível as exposições. “O Marco cumpre sua missão com a comunidade. Agradeço aos artistas que com seu talento constroem a realidade. Agradeço ao secretário da Sectei [Renato Roscoe], à presidente da Fundação de Cultura, Andréa Freire, aos funcionários da Fundação de Cultura e do Museu. Aproveitem estas exposições!”
O artista Alexandre Frangioni falou em nome dos artistas desta temporada de exposições. “Agradeço à Secretaria e equipe do Marco pelo suporte aos artistas para que pudéssemos expor nossas ideias, nosso trabalho, que dependem do suporte de iniciativas como essa. Poder expor e trazer trabalhos para a comunidade com essa estrutura, que dificilmente os artistas podem proporcionar ao público, é muito bom. Nos orgulhamos do que foi proposto e apresentado”.
O secretário de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação, Renato Roscoe, agradeceu a presença de todos “nessa noite friazinha, bacana, mas com ambiente quente, aquecendo nossos corações com essa arte de qualidade que temos aqui. Reconhecemos o esforço da Maysa e equipe para trazer artistas muito interessantes, expressivos do nosso país. Temos que nos orgulhar e cuidar do nosso equipamento que proporciona aos artistas um ambiente adequado para receber os trabalhos”.
O secretário agradeceu também aos artistas que têm seus trabalhos expostos no Marco. “Quero agradecer aos artistas por aceitarem esse convite e dividir seu talento. Quero aproveitar para convidar vocês a acompanhar todas as ações da Sectei. No dia 15 teremos a Primavera de Museus, para comemorar a Semana alusiva a esses equipamentos. Existem em torno de 50 museus no Estado. No Marco, aqui, será a abertura solene no dia 20”.
Ele falou sobre os recursos destinados à cultura pelo Governo do Estado. “O governador está muito entusiasmado com a cultura. Este é um momento complicado no país, os recursos foram escasseando, mas conseguimos manter os recursos para a cultura, e que estão nos possibilitando essas atividades e também o teatro, dança, circo. Tivemos o Festival de Inverno e agora teremos o Festival América do Sul, que estamos preparando com carinho. Acabamos de divulgar os recursos do FIC. Vamos manter esse fluxo de incentivo para manter essa chama e acender cada vez mais. Agradeço a presença de todos e desejo sucesso aos expositores”.
Logo após os presentes foram convidados a visitar as exposições. “Moedas”, de Alexandre Frangioni, busca provocar uma reflexão sobre as possíveis relações entre valores históricos e atuais. Ao produzir as obras com o dinheiro antigo e sem validade, estes objetos passam, então, a valer pelo que não são, pela intensidade da negação de que são capazes.
Alexandre teve a ideia de produzir esta coletânea com o objetivo de resgatar a memória da história do país. Ele assistia a programas de guerra e de histórias do passado quando teve a ideia de montar a exposição. “A população está esquecendo, perdendo a memória de coisas que aconteceram com a gente. O impacto que causava para nós a inflação, as pessoas tinham que correr para o mercado. Depois veio o Plano Real. As gerações que vieram depois não viveram isso. Pretendemos abordar qual a relação que o dinheiro tinha para nós. Depois, com a alta do dólar, essa é uma reflexão atual, é um ciclo”.
Ele conta que seu pai tinha um amigo acumulador, e quando este amigo voltou para a Espanha, deixou a casa que alugava disponível. O pai do artista foi fazer a limpeza da casa e encontrou várias cédulas antigas na casa. “Eu lavei as cédulas, separei as que estavam boas”. Daí surgiu a “Pipa”, montada com estas cédulas antigas.
A obra “Cofre Forte” mostra a fragilidade que tem as coisas. “Às vezes damos demasiado valor ao dinheiro, mas tem coisas mais importantes que isso. “Antigamente” são cédulas de 1940, reproduz um ciclo de mudanças de valor que já existia nessa época. O artista pesquisou sites de numismática na internet, com moedas de todas as épocas, notas com todas as edições, para produzir a exposição. Algumas são produzidas na técnica de impressão 3D lenticular. As lentes, em determinado ângulo, produzem uma imagem, em outro ângulo, outra imagem.
Alexandre é Engtenheiro Químico e desde 2004 trabalha paralelamente com artes. É autodidata, e sempre gostou de arte. “Eu era bom desenhista quando jovem. Aí pensei: um dia vou me aposentar, o que vou fazer? Procurei então pintar, fazer fotografia. A coisa foi crescendo em mim e hoje 90% do meu trabalho é arte e 10% é na minha antiga profissão. Fui desenvolvendo mais esse lado”. Sobre expor no Marco, ele diz ser uma experiência legal. “A infraestrutura é ótima, as pessoas são atenciosas, expor num museu desse porte traz uma força para o currículo”, diz.
Outro artista a expor é Miguel Penha, com a mostra “Dentro da Mata”. São pinturas a óleo com pasta de cera e acrílico sobre lona que retratam o cerrado brasileiro. Miguel é de Cuiabá, da Chapada dos Guimarães, como ele diz, e pinta desde 1986, mas foi a partir de 2008 que se profissionalizou. Ele é índio, seu pai é boliviano da etnia Xiqitano, a mãe é filha de Bororo com português. Vivia pelas matas pesquisando e tirando informações para suas obras em aldeias indígenas e na floresta amazônica. Foi agraciado em 2009 com o Prêmio Marco Antonio Vilaça. “Andei por muitos lugares, aprendendo sobre as plantas, desenhava e pintava e depois ia para a cidade comercializar, depois voltava novamente às aldeias.
Em 2014, o artista foi contemplado com participação no edital do Minc, foi para Madri e estudou na Academia Dicinti e Villalon, onde aprendeu técnicas de pinturas e materiais e preparação de telas. Na exposição “Dentro da Mata”, ele retrata a natureza pura, sem interferência do homem. A exposição já passou por 12 capitais, Campo Grande é a 13ª, e o objetivo é passar por todas as capitais do país.
Silvia Ruiz, de São Paulo, traz a mostra “Variáveis de bancos de jardim”. Ela começou a produzir as obras para a exposição há seis anos. Foi realizando fotografias de bancos, jardins, ao longo do mundo. “A vida em São Paulo é uma loucura, as pessoas não têm tempo de pausa. Então eu acabo trazendo os jardins e os bancos para as pessoas. Elas não têm tempo para relaxar e o banco está ali, vazio. Eu trago a natureza para a pessoa”.
Nas imagens retratadas, o banco é próprio do lugar em que foi fotografado, mas o fundo, a paisagem, é uma invenção da artista. Cada gravura foi feita por sobreposição de madeiras. Cada cor possui um molde de madeira. A instalação foi feita na técnica “lambe-lambe”, em que ela imprimiu a figura e colou na parede, o suporte.
Silvia ganhou uma bolsa de dois meses para estudar na Espanha, na Fundação Ciec, na Galícia, onde estudou gravura e litografia. Ela é formada em Artes Plásticas na Unesp, mas desde os 13 anos gosta de pintar. Trabalha também como produtora cultural em museus e galerias e dá aulas no Sesc e instituições culturais.
O arquiteto formado pela USP e designer gráfico Élcio Miazaki traz para o Marco a mostra “Espaço reservado para possíveis retornos (ou como rasurar o ar)”. Trata-se de uma instalação montada como exercício para lembrar das outras artes ou exposições que aconteceram antes no mesmo espaço ou estimular a pesquisa, caso o visitante não pôde ter contato com elas. Lembra também brincadeiras infantis de outras épocas e aprendizado encontrados em livros e matérias didáticos antigos, cujas páginas eram praticamente em branco com alguns grafismos. Quando traçada e concluída uma sequência de pontos numerados eram formadas figuras antes desconhecidas.
Élcio explica que para o curador do Museu de Arte de Ribeirão Preto, Nilton Campos, seu trabalho tem a ver com a memória, para valorizar o patrimônio. “Os pontos não são aleatórios, seguem uma demarcação de uma exposição que já aconteceu aqui nesse espaço. São todos os limites da exposição que teve aqui.
É a terceira vez que esse projeto, site specific, é montado. Primeiro foi no Museu de Ribeirão Preto e depois em Blumenau. “Cada vez que é montado fica com um desenho diferente”, diz Élcio. Ele começou a trabalhar com instalação o ano passado. Antes, trabalhava com fotografia. Ele trabalha como designer gráfico mas sempre tinha um pouquinho da veia artística meio latente. “A vida te puxa para o dia-a-dia, temos que pagar as contas. Mas na faculdade fiz estágio em programação visual e decidi que queria fazer artes. Em 2013 meus trabalhos começaram a ganhar espaço”.
É a primeira vez do artista no Marco. “Gostei muito do espaço. Quando cheguei ao museu me perguntei se a obra iria se comportar bem no espaço. É muito grande, isto contribui para a obra, cria-se um respiro, tem um espaço neutro, esse piso de cimento queimado, é um espaço acolhedor para a arte”.
As Mostras ficam abertas ao público para visitação até o dia 30 de outubro, com entrada franca. O Museu fica aberto de terça a sexta, das 7h30 às 17h30, e sábados, domingos e feriados, das 14 às 18 horas.
Fotos: Daniel Reino