Campo Grande (MS) – Começou na noite desta segunda-feira, 25 de julho, a Mostra de Cinema Francês no Museu da Imagem e do Som. Foi exibido o filme “O Capital”, de Constantin Costa-Gavras.
A Mostra celebra o 14 de julho, a mais importante data cívica para os franceses (Queda da Bastilha, marco da Revolução Francesa). A curadoria é do jornalista Thiago Andrade e compõe um recorte que passa por relacionamentos, arte, conflitos sociais e políticos.
A primeira Mostra aconteceu em 2012, e desde então tem sido realizada todos os anos. A Aliança Francesa tem sido a apoiadora da Mostra, como um organismo defensor da cultura francesa em Mato Grosso do Sul e no Brasil, explica a gestora da Aliança, Márcia Saddi. “A Mostra é muito enriquecedora do ponto de vista da difusão cultural. Hoje existem cem franceses vivendo no Estado, segundo o Consulado da França. Acreditamos que a cultura começa com a educação, não do ponto de vista elitizado, mas da difusão cultural”.
Márcia diz que a receptividade do público é imensa. “A Mostra é um evento inscrito na agenda do MIS.É muito aguardado pelo público, pelos alunos da Aliança. É gratuito, muitas pessoas estão de férias, faz parte do calendário fixo”.
Antes do início do filme, ela agradeceu a iniciativa do MIS, à presidente da Fundação de Cultura, Andréa Freire, à coordenadora do MIS, Marinete Pinheiro, e ao secretário de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação, Renato Rosce. “A Aliança Francesa existe em Campo Grande há 55 anos como difusora da cultura francesa no Brasil e no mundo. Queremos agradecer aos alunos e a todos aqui presentes neste CineMIS”.
O curador da Mostra, o jornalista Thiago Andrade, atualmente trabalha no Correio do Estado e já foi professor da Aliança Francesa. Sua relação com o cinema e a cultura francesa é intensa e vem de longa data. “Interessei-me pela cultura, aprendi a língua, o cinema francês possui uma cinematografia clássica bastante interessante. Todo ano eu tento dar um norte para compor a Mostra. Este ano os filmes abordam questões mais contemporâneas. O filme de hoje aborda a crise capitalista, a exploração. Amanhã teremos uma projeção que aborda a relação conturbada da França com a África, uma de suas colônias. Na quarta-feira é um filme da década de 1960, sobre as manifestações de 68. Todos com um olhar sobre questões sociais”.
Sobre o filme exibido nesta segunda-feira, que abriu a Mostra, “O Capital”, Thiago diz que é de um diretor grego, Constantin Costa-Gavras, radicado em Paris há décadas. “O filme aborda questões sociais com um olhar contundente sobre o capitalismo com suas maquinações. O protagonista tenta fazer com que o banco cresça, mesmo na crise. É um filme desconfortável, o mais recente do diretor”.
Ao público, antes da projeção do filme, Thiago disse ser este um ano interessante para quem gosta de cinema, uma oportunidade para conhecer o que se faz na França, pois houve em junho o Festival de Cinema Varilux, e agora a Mostra do CineMIS. “O filme de hoje, ‘O Capital’, é exibido numa disciplina do curso de Jornalismo. Aborda a crise sistêmica do capitalismo e pretende mostrar os meandros de todas as relações ali dentro do banco. Espero que gostem, que as pessoas venham. Vamos bater um papo sobre os filmes da Mostra na sexta-feira”.
O jornalista e professor universitário Clayton Sales esteve presente na abertura da Mostra e disse que, “assim como vários filmes que abordam o mundo financeiro, a mensagem é a mesma, que o mercado enriquece a partir da desgraça dos outros. É um jogo, jogo com vidas, é um mercado provocativo. Costa-Gavras dá uma perspectiva mais humanizada, não é como os filmes americanos. Ele enaltece o lado mais glamouroso e festivo e aborda os conflitos. Gosto muito do cinema francês, esta Mostra é fantástica, afinal, os franceses inventaram o cinema. Há uma densidade moral e o francês não tem medo de explorar esse viés, do ponto de vista mercadológico”, diz.
O cineasta Miguel Horta gostou do filme e o classificou como “James Bond sofisticado”. “O filme apresenta valores mundiais, o que rola no mundo, poder e fama. O roteiro não é cansativo. Ele [o protagonista] queria democratizar o capitalismo. Amo cinema francês, tenho namoro com a cultura francesa, já montei a peça ‘Baudelaire e as flores do mal’ e agora trabalho numa produção sobre o pintor Toulouse Lautrec”.
A coordenadora do Museu da Imagem e do Som, Marinete Pinheiro, diz ser a segunda vez que organiza a Mostra em sua gestão e que tem visto interesse e envolvimento dos parceiros e do público. “O cinema francês é referência na qualidade, tanto no trabalho estético quanto nos temas. É sempre gratificante realizar esta Mostra, há um público que gosta desse tipo de cinema, com qualidade”.
A gestora da Aliança Francesa, Márcia Saddi, anunciou, na abertura da Mostra, que a Aliança está oferecendo três bolsas de estudo. Para concorrer, basta ligar para o número 3321-0339 e manifestar interesse. As inscrições começam hoje e vão até sábado.
Todas as sessões da Mostra de Cinema Francês são gratuitas e têm início às 19 horas. Serão exibidos em idioma original com legendas em português os filmes “Minha terra, África”, de Claire Denis, “Masculino-Feminino”, de Jean-Luc Godard, “Polissia”, de Maïwenn e “A Comédia do Poder”, de Claude Chabrol.
Confira as sinopses dos filmes:
Terça-feira (26 de julho)
Minha terra, África – A francesa Maria Vial (Isabelle Huppert) dedicou a vida adulta a colher café em um país africano de colonização européia onde vive, mas, quando explode uma guerra civil, nada passa a valer menos do que os direitos que ela tinha sobre a fazenda Vial. No filme, a roteirista e diretora francesa Claire Denis volta a tratar da relação doente da França com suas ex-colônias, mas não em defesa de um suposto direito à propriedade, nem como denúncia da exploração. (2009).
Cena de “Minha Vida África”, de Claire Denis (2009)
Quarta-feira (27 de julho)
Masculino-Feminino – Paul (Jean-Pierre Léaud) é um jovem militante com um interesse amoroso numa cantora chamada Madeleine (Chantal Goya). O filme, feito dois anos antes das manifestações estudantis de Maio de 1968, explora diversos aspectos da juventude francesa dos anos 60, como a sexualidade, os posicionamentos políticos, o pensamentos, que evidenciam as transformações pelas quais a França passa. É um filme político que, ao mesmo tempo, mergulha na leveza de ser jovem. Como diz o diretor, é um filme proibido para menores de 18 anos, pois fala justamente deles. Direção de Jean-Luc Godard (1966).
Quinta-feira (28 de julho)
Polissia – História de uma divisão da polícia francesa especializada em crimes que envolvem menores. Entre agressões, situações de abandono, pedofilia e outras mazelas que assolam as famílias, esses policiais tentam equilibrar a sua vida pessoal com a barra pesada de sua profissão. Maïwenn, uma das promessas do cinema francês contemporâneo, aborda o cotidiano da equipe com um olhar quase documental, que expõe as dificuldades e a importância do trabalho que fazem. (2011).
Cena de “Polissia”, de Maïwenn (2011).
Sexta-feira (29 de julho)
A Comédia do Poder – O filme aborda com sarcasmo e ironia um tema comum do cotidiano de muitos países: a corrupção. Isabelle Huppert interpreta uma procuradora de justiça implacável com os corruptos. Seu novo alvo é um empresário envolvido com golpes financeiros. Mas quanto mais se aperta o cerco, mais ela se enreda na complexa estrutura de poder que facilita as falcatruas. Ao mesmo tempo, sua dedicação ao trabalho, acaba por arruinar sua vida pessoal. Direção: Claude Chabrol (2006).
Cena de “A Comédia do Poder”, de Claude Chabrol (2006)
Serviço: A Mostra de Cinema Francês acontece de 25 a 29 de junho, às 19 horas, com entrada gratuita. O Museu da Imagem e do Som fica no Memorial da Cultura e Cidadania, na Av. Fernando Corrêa da Costa, 559, 3º andar. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 3316-9178 ou pelo e-mail: mis.de.ms@gmail.com.
Foto do destaque: Marinete Pinheiro – MIS