Campo Grande (MS) – Com a energia e a força raiz da cultura afro, foi aberta na noite desta quinta-feira (30.08), no Espaço Jorapimo da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, a Mostra coletiva Kuumba, com pinturas, gravuras, instalações, assemblagens e lambe-lambes, realizados por artistas do Coletivo Enegrecer.
Marilena Grolli, do Núcleo de Artes Visuais da FCMS, cumprimentou os artistas: “A Fundação de Cultura abre nesta noite a exposição Kuumba, com o Coletivo Enegrecer. São artistas que ao longo do tempo legitimaram sua prática artística visando enaltecer a cultura afro de forma criativa, inovadora, crítica e informativa. Cumprimento nossos artistas, que nos brindam com sua obra”.
A coordenadora do Coletivo Enegrecer, artista visual Erika Pedraza, sorteou um quadro para os presentes, e declarou estar feliz em ver amigos e representantes do movimento negro na primeira exposição do Coletivo. “Cada artista está com uma ideia, uma pesquisa, uma pauta, e todas elas precisam ser faladas. Nosso intuito é sair do atelier e mostrar nosso trabalho, e nisso a união ajuda bastante, com o coletivo isso se torna possível”.
Galvão Preto, do Núcleo de Artes Visuais da FCMS, enalteceu a importância da parceria da Fundação de Cultural com a Subsecretaria de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial. “É uma parceria se inicia hoje, entre o Núcleo de Artes Visuais da FCMS e a Subsecretaria, como uma ação afirmativa de promoção da igualdade racial por meio das artes. Agradecemos a todas as pessoas que colaboraram na realização deste evento”.
A subsecretária da Igualdade Racial, Ana José, salienta que parcerias são muito importantes no trabalho que realiza. “A gente tem feito nossa equipe contando com apoio e parcerias. Esse projeto é um dos que a Subsecretaria está formalizando, para que em dezembro apresentemos projetos também com a juventude negra. Contamos com essa juventude, faço um apelo à juventude negra para que participe dos movimentos. A nossa voz precisa se propagar muito mais. Consolidamos hoje esta parceria que fazemos com a Fundação de Cultura e gostaríamos de contar com o coletivo que aqui se encontra, para dar visibilidade às expressões da população negra. Essa luta é de todos nós. Axé.
O diretor geral da FCMS, Max Freitas, representou no evento a diretora-presidente Mara Caseiro. “Em nome da Mara Caseiro, gostaria de falar o quanto estou contente em ver aqui o Galvão Pretto. O Espaço Jorapimo aqui é muito importante e pedimos ao coletivo que continue ocupando esse espaço, que é de todos. Gostaria que o Espaço Jorapimo se tornasse bastante utilizado pelas artes visuais. Precisamos de movimentação. Agradeço a todos que estão aqui fazendo esse espaço valer a pena”.
A abertura da Mostra foi enriquecida com participação mais que especial da Cia de Artes Rob Drown, que encantou os presentes com a força da dança e música brasileiras. Danças, toques, cantos e tradições, verdades de grupos tradicionais foram vivenciadas e transformadas pelo Batuque de Tayós, levando ao público uma experiência única que incentivou também a participação na roda de todos os que desejaram partilhar deste momento único.
A artista Erika Pedraza produziu a obra símbolo da exposição “Mulheres invisíveis 2019”. Para realizar a pintura, ela se utilizou de referências femininas negras, que sempre são esquecidas na história e na sociedade. “Sempre tive referências na minha vida de homens, e brancos, tive poucas referências nas Artes Visuais de negros, muito menos de mulheres. No Curso de Artes Visuais da UFMS, quando eu cursei, tinha apenas quatro alunos negros e não havia professores negros. Aí comecei a me perguntar que referência temos de negros no Estado? Comecei a questionar isso. Tem muitas mulheres negras que estão na história e a gente não estuda, não fala sobre elas. Descobri isso agora, como a escritora Carolina de Jesus, a sambista Dandara Alves, a cantora e também sambista Clementina de Jesus, entre muitas outras, representadas nesta obra”.
Danilo Carvalho, estudante de Artes Visuais, trouxe para a Mostra Kuumba o quadro “Ancestralidade”, retratando o povo Efik, do sudeste da Nigéria, “com amor, união e respeito”. “A pintura corporal eles usam como forma de demonstrar sentimentos quando uma criança nasce. Para o artista negro, autoafirmação é muito importante. A gente quer demonstrar que não queremos essa representação negativa que temos na sociedade. Representar a cultura da minha etnia é uma maneira de me expressar como artista”.
Auriellen Leonel é uma pesquisadora das Artes Visuais e da história da mulher negra africana e afro-brasileira. Ela trouxe para a Mostra Kuumba um livro que fica exposto para ser manuseado pelo público. ”Este livro possui uma linha sequencial e relação de imagens e palavras num contexto do corpo da mulher africana, que foi tirada da família, foi separada dos filhos e silenciada com medo. O medo cria uma relação tênue entre as palavras fraco e forte. É como se não tivéssemos direito à fragilidade pelo estigma de povo que resistiu ao sofrimento. Trabalhar com expressões africanas acrescenta para a minha identidade, para conhecer quem eu sou, é uma forma de você se encontrar”, diz a artista.
Essas e outras obras da Mostra provocam questionamentos e reflexões de assuntos que vão desde o cotidiano no contexto atual, aos espaços que nossos corpos ocupam. Quem desejar conhecer estas preciosidades basta comparecer ao Espaço Jorapimo, que fica saguão do Memorial da Cultura e Cidadania, na Avenida Fernando Corrêa da Costa, 559, Centro. A entrada é franca e o horário de visitação é de segunda a sexta, das 7h30 às 17h30, até 31 de outubro.
Fotos – Ricardo Gomes