MSDF 2025 sacudiu a Capital com noite intensa de dança urbana e potência periférica

  • Publicado em 24 nov 2025 • por Daniel •

  • A energia das ruas tomou conta do palco da Competição de Danças Urbanas da 12ª edição do MS Dance Fest, provando que a cultura de resistência segue viva, pulsante e sem freio. Com estética street, suor e verdade, os grupos mostraram que a dança vai muito além da técnica: é mensagem, é identidade, é sobrevivência em um cenário onde, muitas vezes, falta apoio — mas o talento transborda. A intensidade dos movimentos, a vibração da plateia e a força dos coletivos do interior do Estado revelaram que, mesmo diante dos desafios, a arte encontra caminho.A batalha foi promovida no Palco Fluxo, na concha acústica da Praça do Rádio Clube, no sábado (22), reunindo representantes de MS e de outros estados, emocionando o público com coreografias que refletem vivência, ancestralidade e potência criativa.

    No solo, o primeiro lugar ficou com PS Brasil (Londrina – PR), trazendo a coreografia “Favela Vive” com interpretação intensa e narrativa contundente. Representando  a cidade de Corumbá, o grupo CAIJ Gripam conquistou dois pódios – campeão nas categorias Duo e Conjunto Júnior. O artista Max Moura, de Sonora, mais uma vez foi destaque, vencendo agora na categoria Conjunto Sênior e como melhor coreógrafo do Festival. Já a capital garantiu ouro com o Grupo Armazém 67, vencedor na categoria Trio.Os trabalhos foram avaliados pelos júri técnico: André Rockmaster e Natasha Sousa, ambos de São Paulo (SP) e Victor Hamamoto, de Brasília (DF).

    Dos ensaios ao pódio – Representando o Estado do Paraná com autenticidade e visceralidade, Samuel Santana, conhecido por Sassá, trouxe para o festival um trabalho que ultrapassou o limite da performance e se tornou troca, conexão e celebração. Chegando de Londrina exclusivamente para participar da competição, ele destacou o valor simbólico de estar no MS Dance Fest.

    “O que me motiva sempre a estar nesses lugares é muito mais do que estar no palco. É sobre isso aqui: a troca, as aulas, o conversar, se emocionar junto. Esses festivais precisam ser cada vez mais valorizados. Sou do Paraná, e estar aqui hoje no Mato Grosso do Sul tem um peso muito grande. Vir pra cá, duas horas de viagem, mostra a relevância desse festival”.

    Figura histórica do MSDF, Max Moura participou de todas as edições do festival como competidor. Neste ano, além de vencedor na categoria Conjunto Sênior, retorna como professor e referência estadual na arte da dança urbana. Ele ressalta o papel do evento na capacitação e formação artística de bailarinos do MS.

    “O importante é a participação. Nosso foco é entregar mensagem através das coreografias. Fazer cultura em Campo Grande já é difícil — em Sonora, então, é ainda mais. Viemos representar a cidade e queremos mudar essa história. O festival abriu muitas portas desde 2004. Trocamos experiências, nos especializamos aqui. É um dos maiores festivais do Centro-Oeste. Parabenizo o Edson Clair pela iniciativa. A cada ano cresce, e ano que vem será ainda maior”.

    À frente de um dos grupo Caij Gripam, um dos mais premiados da noite, o coreógrafo Leandro Lincoln lembrou do esforço comunitário para viabilizar a viagem. O grupo, oriundo de um bairro periférico de Corumbá, viu no MS Dance Fest uma chance de provar aos seus alunos que é possível atingir seus objetivos.

    “Viemos por conta própria, fizemos rifa, promoções, buscamos apoios — que não foram muitos. Somos 32 bailarinos, e com pais e educadores chegamos a 44 pessoas. Viemos do Cravo Vermelho, um bairro periférico, precário, mas com muito potencial. Estar no pódio significa transformação na vida dessas crianças. Eu já esperava que a gente chegasse ao pódio porque ensaiamos muito, mas não foi fácil. E esse reconhecimento para as crianças significa tudo”.

    Para quem está começando nesse universo, como a estudante Isís Franco, de 10 anos de idade, o prêmio vem como um incentivo apesar das adversidades enfrentadas por todo o grupo coordenador pelo artista Max Moura.  “O Max criou o grupo nos anos 90 e fez tudo o que temos hoje. Para estar aqui tivemos que fazer rifa, vender pizza e garantir os gastos da viagem de ônibus. A prefeitura de Sonora não colaborou com nada. Chegar aqui, apesar das dificuldades, motiva muito. É emocionante estar entre as campeãs e colocar o nome da nossa cidade em destaque”.

    Ranking completo:

    Solo
     1º – PS Brasil (Londrina-PR) – Favela Vive
     2º Armazém 67 (Campo Grande) – Uma Dose de Club
    3º  Cia Movimento Dance (Sonora) – Deixe Fluir

    Duo
    1º CAIJ Gripam (Corumbá) – Funk Style
    2º Armazém 67 (Campo Grande) – Raízes da América
    3º JF Stúdio de Dança (Nova Andradina) – Pedalando no Flow

    Trio
     1º Armazém 67 (Campo Grande) – Brincar é Dançar
     2º Dehal Trio – DHALL CREW (Campo Grande)
     3º Conexão Urbana (Campo Grande) – Sour Candy

    Conjunto Júnior
      1º CAIJ Gripam (Corumbá) – Black Style
     2º  D’Soul (Campo Grande) – Soul do Ghetto
    3º Hit Hoppers (Sonora) – Movi Mente Se

    Conjunto Sênior
     1º Cia Movimento Dance (Sonora) – Pontes Invisíveis
     2ºCia Storm (Nova Andradina) – Noite Fria
     3ºDHALL Crew (Campo Grande) – Lioness

    Mais que competição – Assim como anunciou seu idealizador Edson Clair, esta foi “a edição mais pesada da história”. Pesada de intensidade, de diversidade e de impacto territorial. A cada apresentação, o MSDF 2025 reafirmou seu papel como espaço de formação, celebração e resistência — e a certeza de que a dança urbana em Mato Grosso do Sul não apenas segue viva, mas pulsa com o ritmo de quem transforma limite em movimento.

    “O Festival cresceu muito ao longo dos anos e, hoje, é impossível executá-lo sem apoio, patrocinadores. Somos gratos aos que acreditam no projeto e nesta edição à PNAB”, diz Edson Clair, idealizador do MSDF que se emociona ao ver a Praça do Rádio Clube cheia de famílias, com crianças e jovens vibrando com a dança. “É isso que me move: saber que esse festival segue inspirando gerações e mantendo viva a arte mais sensível de todas — a dança”.

    Da quebrada ao palco.  Da rifa ao troféu. Da vivência à coreografia. O MSDF comprova que quando a rua dança, ninguém segura.

    Realizado pelo Espaço FNK, a 12ª edição do MS Dance Fest conta com financiamento da PNAB (Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura), via MinC – Ministério da Cultura e Governo Federal, por meio de edital da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), Setesc e Governo do Estado. Confira como foi o Festival pelo Instagram (@espacofnk).

     

    Categorias :

    Dança

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