Campo Grande (MS) – Contemplada pelo pacote do Governo do Estado “Retomada MS”, a Casa do Artesão, unidade da Fundação de Cultura do MS, recebe recursos no valor de R$ 2,2 milhões, que estão sendo utilizados na reforma completa do prédio. A parte de demolição da alvenaria do anexo, que não faz parte do complexo histórico, já está toda concluída.
Segundo Gianne Fabian, arquiteta da Agesul, que estava no prédio na manhã desta sexta-feira (04.02.2022), a previsão de entrega da obra para a população é em outubro deste ano, mas o Estúdio Sarasá, responsável pelo restauro, está trabalhando para entregar um pouco antes. “Agora estão raspando as esquadrias, a fachada, onde vai ser feita a restauração. A importância do restauro do prédio se dá pelo seu histórico, vai manter aspectos originais para não perder a história, como era feito antigamente, entregando um espaço mais apropriado para a população, com ambiente de convívio, estimulando as pessoas a fazer a visitação”.
Raspagem das esquadrias. Foto: Daniel Reino
Antonio Sarasá, do Estúdio Sarasá, é o responsável pelo restauro da Casa do Artesão. Ele explica que neste momento, como é período de chuva, não se pode mexer muito na cobertura. “Estamos trabalhando mais na parte interna. A partir de abril vamos mexer mais na parte externa. A estrutura da cobertura vai ser bem mexida. Na parede, que é o pulmão da casa, vamos colocar reforços na estrutura para segurar melhor o telhado, que está se movimentando e inclinando. Usamos o microscópio digital para aferir a consistência da argamassa. Antigamente as construções eram feitas em fundação direta, a água fazia parte da construção. Hoje não. Nós vamos retirar toda a tinta acrílica da fachada, aplicar argamassa de cal e silicato de potássio, que permite a transpiração do edifício, aí não vai ficar mais com problemas de umidade”.
Estrutura da cobertura vai ser bem mexida. Foto: Daniel Reino
“Tem muita terra na argamassa, isso dá uma série de problemas que começam a degradar a casa como um todo, porque vai subindo a umidade. Com a estratigrafia observou-se a cor amarelo original, que vai ser mantida. Nós vamos voltar a trazer a fisiologia da Casa, como ela era em suas origens. A gente está aprendendo com a Casa, ela vai se contar como ela era, qual era a roupa que ela se vestiu na sua juventude. Fazer esse restauro é se encantar e encantar as pessoas. Elas têm que vir aqui e sentir uma emoção, uma relação de pertencimento. É muita paixão envolvida, muito encantamento. Nós queremos passar para as gerações futuras esse conhecimento”, explica o restaurador.
Com a estratigrafia observou-se a cor amarelo original, que vai ser mantida. Foto: Daniel Reino
Com o restauro, o Estúdio Sarasá está buscando resgatar o valor cultural da Casa. “Procuramos fazer essa interação. A gente vai resgatar a parte física e também a ‘alma’ do espaço. A diferença entre reforma e restauro é que a reforma agrega valor financeiro, o restauro agrega valor histórico-cultural, para ter esse olhar cultural intrínseco. Isso está sendo respeitado e os artesãos vão poder expor seus produtos numa casa que mostra o processo de produção deles também. Em abril vamos fazer uma intervenção para mostrar para a comunidade como está sendo o processo de restauro, para integrar a comunidade”.
Microscópio digital. Foto: Daniel Reino
Nel da Silva Fialho, da aldeia Bananal, e Jamelson Paulino da Silva, da aldeia Lagoinha, são dois índios terena que estão participando do restauro. “Para eles aprenderem e levarem os conhecimentos para a comunidade em que vivem. Eles estão entendendo a Casa do Artesão como viva, ‘aplacando a fúria de chronos’”, diz Antonio Sarasá. “Eles participaram do grafismo nos tapumes da obra, aí fizemos o convite. Durante o Festival Campão Cultural falamos com o Cacique para eles participarem e eles estão entendendo um pouco da dinâmica. Além de serem os guardiões e participar do restauro, eles são fatores de multiplicação desses fatores culturais. Também fizeram as artes dos capacetes de proteção. Tem muitas mulheres que querem fazer parte, nós estamos vendo para o futuro”, complementa.
Nel da Silva Fialho, da aldeia Bananal, e Jamelson Paulino da Silva, da aldeia Lagoinha, são dois índios terena que estão participando do restauro. Foto: Daniel Reino
O Secretário de Estado de Cidadania e Cultura, João César Mattogrosso, enaltece a restauração da Casa do Artesão. “Estamos entusiasmados em acompanhar a intervenção histórica dessa estrutura emblemática para o artesanato sul-mato-grossense, que conta com a atenção do Governo do Estado durante a nossa gestão, a partir da sensibilidade e comprometimento do Governador Reinaldo Azambuja com o setor cultural. A entrega dessa restauração representará um estímulo significativo para os artesãos e artesãs do nosso MS, que contarão com um local revitalizado e com novos atrativos para o público, o que impulsionará a atividade comercial, bem como o fomento do artesanato regional”, destaca.
Nel e Jamelson também fizeram as artes dos capacetes de proteção. Foto: Daniel Reino
Um pouco de história
Situada em um prédio histórico e centenário que marca o crescimento da nossa Capital, a Casa do Artesão de Campo Grande é um espaço singular de comercialização do rico e diverso artesanato de Mato Grosso do Sul.
Como ponto turístico, recebe visitantes de todo o mundo que buscam a originalidade e a beleza de peças criadas com matérias-primas e inspiração sul-mato-grossense.
Como ponto de venda reúne o melhor da arte produzida por centenas de trabalhadores e entidades de artesãos, que encontram no local um local de venda importante, reconhecido e confiável.
Sua sede foi construída entre 1918 e 1923 sob as ordens de Francisco Cetraro e Pasquele Cândida, com projeto do engenheiro Camilo Boni. Foi a primeira sede do Banco do Brasil (cujo cofre é uma das atrações do local), comércio e autarquia pública.
A inauguração do espaço como Casa do Artesão ocorreu em 1º de setembro de 1975. Após restauração e revitalização, o local foi reinaugurado em 1990. A edificação é tombada como patrimônio histórico estadual.
A Casa do Artesão fica na avenida Calógeras, 2050 – Centro.
Foto da capa: Edemir Rodrigues