Sapicuá Pantaneiro cruza fronteiras e tece laços entre Brasil e Paraguai

  • Publicado em 25 nov 2025 • por Karina Medeiros de Lima •

  • Entre os dias 11 e 20 de setembro, o projeto Sapicuá Pantaneiro participou do Intercâmbio Cultural sobre a Faixa Paraguaia/Pantaneira, uma iniciativa com o objetivo de promover a troca de saberes entre artesãs do Brasil e do Paraguai, especialmente das comunidades Maka e Carapeguá. O projeto foi aprovado no Edital de Intercâmbio com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura (MinC). Sua execução é realizada pelo Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, através da Fundação de Cultura de MS, com o apoio de Itaipu Binacional.

    O tear foi a ponte. De um lado, o Pantanal brasileiro; do outro, o coração artesanal do Paraguai. No meio, fios coloridos, mãos pacientes e uma língua universal: a do fazer com alma. Assim nasceu a experiência internacional do Sapicuá Pantaneiro, projeto idealizado pela produtora cultural e CEO do Pantanal Criativo, Claudia Medeiros, que levou ao Paraguai uma vivência singular de troca entre culturas e comunidades.

    Durante as oficinas de elaboração de fajas paraguayas em telar innovador, realizadas nas localidades de Mariano Roque Alonso e Alto Paraná, o Instituto Paraguayo de Artesanía (IPA) recebeu o projeto com a doação de sete teares e entusiasmo. A parceria envolveu comunidades indígenas, entre elas o povo Maka, e reforçou uma ideia que ultrapassa fronteiras: a de que o artesanato é mais do que ofício — é identidade viva.

    Um projeto que tece pontes culturais

    Segundo Natalia M. Filippini Álvarez, servidora pública do IPA e uma das coordenadoras da experiência, a presença do Sapicuá Pantaneiro no Paraguai teve um significado simbólico e afetivo profundo. “Cruzamos fronteras con el propósito de fortalecer los lazos culturales que nos unen más allá de los límites geográficos. Fue una oportunidad para mostrar la riqueza de nuestra artesanía y, al mismo tiempo, dialogar con el patrimonio cultural del Pantanal. El arte popular es un lenguaje común que une territorios.”

    A proposta de Claudia Medeiros nasceu da convicção de que o tear é também um território político e poético. Ao propor o intercâmbio, ela levou o Sapicuá — símbolo de colheita, partilha e ancestralidade — a outro país, reafirmando que tradição e inovação podem conviver em harmonia. Em 2003, escutamos, fomos ao encontro da comunidade, com o ouvido atento e o coração aberto — pesquisamos não apenas costumes, mas sonhos, saberes que nascem entre o couro, o canto e o vento. Com o gesto da arte e o abraço da educação, tecemos oficinas itinerantes por mais de 10 anos”, afirma.

    Quando o fazer artesanal vira encontro

    “Lo que más sorprendió a los participantes fue la cercanía humana generada en la convivencia. A pesar de las diferencias de idioma y de contexto, el arte habló más fuerte. La convivencia ocurrió con naturalidad. Artesanos locales y brasileños compartieron risas, historias y saberes, reconociéndose como guardianes de un mismo legado”, relata Natalia.
    “Más allá de las técnicas, lo que nos llevamos fue el sentimiento de pertenencia”, complementa Muma. “Cada pieza creada llevaba un poco de todos nosotros — un mosaico de colores, afectos y memorias que el arte ayudó a entrelazar.”

    O que mais surpreendeu os participantes foi a proximidade humana gerada no convívio. Apesar das diferenças de idioma e de contexto, a arte falou mais alto.
    “La convivencia ocurrió con naturalidad. Artesanos locales y brasileños compartieron risas, historias y saberes, reconociéndose como guardianes de un mismo legado”, relata Natalia.
    A oficina tornou-se um espaço de escuta e aprendizado mútuo. Em vez de uma relação de ensino, formou-se um círculo de troca, onde cada ponto do tear era também uma metáfora de convivência.

    Histórias que ficaram na memória

    Entre as lembranças mais marcantes, uma emocionou o grupo: a de uma artesã Maka que, ao apresentar seu modo de tecer, disse que pela primeira vez sentia seu trabalho compreendido e valorizado fora da aldeia. “Essa emoção contagiou a todos e lembrou que cada peça traz uma história viva. Por trás do tecido, há uma memória que atravessa gerações”, contou Muma.
    Para os envolvidos, esse instante deu sentido a todo o projeto: mais que ensinar técnicas, tratava-se de reconhecer pessoas.

    Ensinar é aprender de outro jeito

    No balanço final, o que ficou não foi apenas o processo de ensinar, mas o de aprender.
    “Cada clase fue una escuela abierta. Todos aprendían y enseñaban al mismo tiempo. Las técnicas tradicionales, la paciencia del bordado y el uso de materiales naturales se transformaron en un intercambio recíproco”, explica Natalia.

    O Sapicuá Pantaneiro, fiel à sua essência de compartilhar saberes, reafirmou que o artesanato é também educação sensível — uma pedagogia que nasce das mãos e floresce no olhar do outro.

    Um viajante chamado Sapicuá

    Se o Sapicuá fosse um viajante, teria muito a contar sobre o que viveu do outro lado da fronteira.
    “Él narraría una historia de encuentro y mestizaje cultural”, dice Natalia. “Contaría cómo cruzó el río llevando saberes tejidos en las manos de mujeres y hombres que preservan la memoria de sus pueblos. Diría que, en cada hilo y en cada color, el Pantanal, Carapeguá y las comunidades Maka se encontraron. Porque la identidad no se detiene en una frontera — se expande, se transforma y sigue viajando en cada pieza artesanal que nace del corazón.”, conclui.

    “Estar ali, cumprindo essa missão do Sapicuá ao lado de minha filha Bruna, também instrutora de faixa, foi como tocar algo que é sagrado — um reencontro com a origem, com aquilo que nos funda e nos move”, afirma Claudia. “Fomos acolhidas com tanta generosidade que cada gesto, cada olhar, parecia uma oração. O encontro se transformou em um pacto de pertencimento, uma bênção compartilhada que agora segue viva como legado — tecida entre gerações, corações e territórios”, afirma.

    Arte como diplomacia das mãos

    A presença do Sapicuá Pantaneiro no Paraguai confirmou o poder da cultura como instrumento de integração e diplomacia sensível. O que começou como uma oficina transformou-se em símbolo de cooperação entre povos que compartilham o mesmo horizonte de águas, terras e sonhos.

    E, como toda boa costura, essa história ainda está em curso — tecida em silêncio, fio a fio, pelas mãos que continuam costurando pontes invisíveis entre o Pantanal e o Paraguai. Além das oficinas, foram doados sete teares para que sejam replicados. “Nossos teares têm a mesma técnica de tecer, porém são mais simples e fáceis de transportar, o que ampliará a possibilidade de tecelagem, principalmente para os mais idosos, e de criação de novos produtos”. Novas oficinas estão sendo programadas.

    Com informações da Assessoria

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    Lei Aldir Blanc

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