Campo Grande (MS) – Quem visitou a Biblioteca Pública Dr. Isaias Paim neste sábado, 17 de março, pôde participar de uma manhã diferente, descontraída e animada, recheada de atrações culturais. O 2º Sarau Cultural Mostrou que a biblioteca, além de um local de leitura e busca de conhecimento, também deve fomentar a cultura e buscar novas formas de se aprender.
As atividades começaram às 8h30, com o bate-papo “Os caminhos da contação de Histórias no Brasil e em Mato Grosso do Sul”, organizado por Ciro Ferreira, representante do Fórum Nacional de Contadores de Histórias e a Academia Brasileira de Contadores de Histórias. Ciro explicou que em Mato Grosso do Sul o fluxo de contação de histórias ainda é pequeno, mas tem Estados que têm um fluxo maior, como Minas Gerais e Rio de Janeiro. Hoje em Campo Grande temos uma turma bacana, mas ainda resumida. Temos eventos no Sesc e na livraria Le Parole todo sábado, na Hamburgaria, perto da Praça do Peixe, nas sextas à noite, e também na livraria Saraiva. Estamos divulgando a contação de histórias e esperando que venham outros contadores. A gente precisa renovar”.
Ciro iniciou a contação com uma linda história que mostra a passagem da menina da infância para a idade adulta. Depois convidou o público para contar histórias também. A acadêmica de Artes Cênicas da Uems, Aline Higa, não se fez de rogada e contou uma fábula em que um rato não obtém ajuda para se livrar de uma ratoeira numa fazenda e todos os animais acabam morrendo por falta de cooperação. “Para nós, contadores, sempre tem uma imagem do contador. Para mim, é o meu avô. Ele tinha um calombo no braço e disse para mim, quando eu era criança, que aquele calombo era um limão que ele engoliu e foi parar no braço. Essa história me acompanhou pela infância inteira e a gente quer compartilhar com o outro porque isso me toca”.
Para a pedagoga e acadêmica de Artes Cênicas na UEMS, Michelly Dominiq, imaginação é perspectiva de vida. “Quando você ouve uma história você cria sua imaginação. Essa possibilidade é que faz o ser humano acreditar. Se não for sonho, o ser humano está morto. Não existe um ser humano que não saiba contar uma história”.
Logo após o bate-papo sobre contação de histórias foi a vez do violão de Alexandre Sogabe, coordenador do Arquivo Público, e da voz de Caio Santiago, estagiário do Arquivo e acadêmico de Geografia da Uems. O grupo Blaoow de danças urbanas da Unigran também marcou presença. O representante do grupo, Thiago Augusto Lugo da Gama, acadêmico de Psicologia, disse que o sarau na biblioteca Isaias Paim é muito importante para divulgar a cultura. “Hoje em dia vivemos num mundo sem cultura, muitos amigos não sabiam da existência desta biblioteca. O sarau é bom para divulgar a biblioteca e também todo tipo de arte. Hoje em dia perdemos um pouco o contato com os livros na era da internet”.
A Cia do Caos, da Uems, apresentou um trecho da peça autoral do grupo “Atenciosamente eu”, que terá sua estreia e 27 de abril. O trecho é intitulado “Close to you”. Robson Marx, o diretor do grupo, explicou que a peça aborda as relações humanas e o amor. O grupo tem dois anos de existência e é formado pelos alunos de Artes Cênicas. Para ele, o Sarau da Biblioteca uma oportunidade de divulgar o curso e o próprio trabalho do grupo. “Eu sou pesquisador da parte cênica e teórica das artes cênicas, e a biblioteca é um espaço de conhecimento. O sarau é uma oportunidade de divulgar tanto nosso trabalho de pesquisa quando da parte prática das Artes Cênicas”, diz.
E como a Biblioteca também vive de poesia, a escritora Karol Duarte lançou seu livro “Antes da Rosa”, dedicado à memória de seu pai, Marcos Alves Pereira. Após recitar o poema “Carta para o papai”, em que a autora se emocionou e chorou com as lembranças, ela contou um pouco de sua história e de seu livro. “Eu su de Minas Gerais, de São João del Rei, cidade de 4 mil habitantes, e vim para cá tem dois anos. Cresci com minhas primas falando que queriam ser advogadas, médicas, e eu sempre quis ser escritora. Eu não desisti de mim. Eu tinha tantos sonhos que tive que fazer uma lista para não me esquecer de nenhum. No livro tem essa lista e tem também uma página em branco para as pessoas colocarem os seus”.
Outra emocionante história foi contata por Jonatas “Ya” Moreira por meio da performance “Ihoneaku”. Jonatas é índio da tribo terena, de Aquidauana, e cursa Artes Cênicas na Uems. Ele usa sua arte para mostrar o pertencimento à sua tribo e a história de resistência dos indígenas no Brasil. “São 518 anos de resistência à barbária e todo o tipo de constrangimentos. Ser índio na cidade é sofrido por ele não estar habilitado às outras civilizações. Eu tenho colocado minha biografia e identidade no meu trabalho nas Artes Cênicas. Marçal de Souza é meu ícone e quero me tornar um fragmento do que ele foi um dia. Só perde a cultura quem quer. meus pais ão me ensinaram a língua Terena, eu sei porque tive que aprender. A gente tem que mostrar essa realidade, contar essas histórias e buscar a felicidade”.
Durante toda a manhã o artista visual autodidata Jonathann Braian, o “Moonchild”, esteve expondo seu trabalho que mistura aquarela com nanquim e tem como tema principal a mitologia. “O pseudônimo ‘Moonchild’ é um personagem que eu criei em cima de mim mesmo, uma forma de e expressar melhor. Eu esboço ideias e passo pro papel. Esta é a terceira vez que exponho. O Sarau da Biblioteca é mais uma oportunidade de mostrar que eu faço para as pessoas”.
A música suave e autoral de Luiz Khalaf, acadêmico de Artes Cênicas da UEMS, encerrou as apresentações do 2º Sarau Cultural da Biblioteca Pública Estadual Dr. Isaias Paim. Luiz tem afinidade com a música desde pequeno e começou a compor na adolescência. “Vario bastante na pesquisa e escuto muita coisa. Tenho uma influência musical muito variada. Esta apresentação foi a primeira vez em que mostro minhas composições. A recepção do público foi muito boa. No momento das palmas o público acaba compondo junto, o aplauso influencia no que eu toco”.
A coordenadora da Biblioteca Isaias Paim, Eleuzina Crisanto de Lima, convida os artistas que quiserem participar das próximas edições do Sarau Cultural. “Agora nós conseguimos abrir a biblioteca aos sábados e queremos enriquecer as apresentações. Nosso Estado tem muitos talentos. Quem quiser se apresentar pode agendar com a gente. Além de incentivar a leitura, incentivamos a arte em todas as suas vertentes”.
A Biblioteca Pública Dr. Isaias Paim fica no 2º andar do Memorial da Cultura e da Cidadania, na avenida Fernando Corrêa da Costa, 559, Centro. As apresentações podem ser agendadas pelos telefones (67) 3316-9161 ou 3316-9175. Também podem ser obtidas informações pelo e-mail biblioteca@fcms.ms.gov.br .
Fotos: Mariana de Castro e Jean Carlos Rego – Biblioteca Isaias Paim