Campo Grande (MS) – Uma celebração ao rock, com homenagens a bandas sul-mato-grossenses do passado e outras ainda na ativa. Foi o que aconteceu na noite desta segunda-feira, no Museu da Imagem e do Som: a abertura da Semana da Música “Som & Fúria”, em comemoração ao Dia Mundial do Rock, dia 13 de julho. Será uma semana com exibições de filmes, convidados especiais, sarau musical e exposição fotográfica. A entrada é franca e a programação segue até sexta.
A exposição de fotografias logo no saguão do museu retratou músicos de rock atuando, no palco, cantando, executando seus instrumentos. Alguns deles estavam presentes e vieram prestigiar a exposição, a exibição do filme Whiplash – em busca da perfeição, e o debate que foi realizado depois. Um desses músicos, Helio Canto, vocalista da Hellmotz, banda que existe desde 2009, foi um dos homenageados com uma fotografia sua. Ele disse ser bem legal a homenagem ao rock. “É o tipo de coisa que não acontece sempre com o rock, é gratificante. Várias bandas ralam muito por causa do gênero que escolheram. É difícil, não tem patrocínio. Com o Heavy Metal é mais difícil, sua estranheza e complexidade assustam. Mas sempre você tem o seu canto para fazer o seu som”, diz.
Diego Ricarte, guitarrista e contrabaixista da banda Ciganos da Percepção, que atuou entre 2013 e 2016, também foi um dos homenageados com uma fotografia sua. Ele diz que a banda acabou porque um dos integrantes mudou de cidade. “Hoje estamos trabalhando num novo projeto, falta ainda o nome da banda. Gostei muito deste evento, achei bacana, a minha foto foi de um dia de muito rock’n’roll. Os fotógrafos conseguiram captar o espírito, são bem singulares as fotos de cada músico que está ali. Existem muitas boas bandas. Não deveria ser só uma semana pro rock, porque o rock acontece o ano inteiro. Todo dia tem apresentação nos bares”.
O baterista Ernani Júnior, ou Juninho, como é conhecido, foi um dos debatedores da noite. Ele toca na banda Hollywood Cowboys e também como freelancer em outras bandas. Hoje com 23 anos, ele começou aos oito. “Eu cresci no rock, os primeiros programas de rock no rádio foi com meu pai, estou tentando levar o legado dele”. Juninho é filho de Ernani de Almeida, que mantinha o Chácara Bar, apresentou o programa Capital Rock em 1984, Geleia Geral e Templo do Rock, de 2003 a 2007, além de muitos outros. “Meu pai sempre estava no meio do movimento, vivia para isso, por amor, porque financeiramente nem compensava”.
Juninho começou aos oito anos a tocar bateria, graças ao ex-baterista do Bando do Velho Jack, Bosco. “Eu estava na casa do Bosco, tinha uma bateria lá, comecei a brincar. O Bosco disse a meu pai para investir porque eu levava jeito. Fiz aula aos oito anos e com dez já tocava no Rivers. Meu pai quase foi preso porque eu era menor de idade. Ele contratou advogado, entrou na Justiça. Ele dizia: ‘se a criança da Globo pode atuar, porque meu filho não pode tocar?’. Depois dos 16 anos não tive mais problemas”.
A Semana “Som & Fúria foi idealizada pela Startup de música Who?, dos produtores Ana Paula Ostapenko e Caio Dutra. Eles se reuniram com a coordenadora do MIS, Marinete Pinheiro, e elaboraram um projeto relativo a música. Aproveitaram o Dia Mundial do Rock, 13 de julho, para homenagear bandas sul-mato-grossenses que trabalham ou trabalharam o gênero. Ana Paula trabalha com rock há mais de dez anos, e Caio, há mais de seis, com produção de palco, de CDs, DVDs, videoclipes, editgais e assessoria de imprensa. “Escolhemos os cinco filmes e os convidados para o debate. A Fundação de Cultura aprovou o projeto e começamos a colocar em prática. A exposição de fotos é um incentivo aos fotógrafos e para as bandas se verem. Muitas fotos são acervo das próprias bandas”, explica Ana Paula.
As bandas homenageadas na Mostra de Fotografias são: Curimba, Braudino, Rivers, Strangers, Bêbados Habilidosos, hollywood Cowboys, Naipe, Opuesto, Links, Pulse, Hellmotz, Pulse, Catástrofe, Dead Soldiers, Rejeitados pelo Diabo, Vaticano 69, Camaleone, Bella Xu, Ciganos da Percepção, Cassino Boogie, Codinome Winchester, Thrashid, Allibi In Messiah, Horse Society, Burning Universe, Dxdxox, Tonelada, Miss Behavior, Japüra, Subestelar, Revenged e Zuka.
Os fotógrafos são Gabi Santos, Futo Oliveira, Rafael Tamazato, Helio Severo, Laine Alcântara, Kojiroh, Danny Marques, Ana Borges e André Vidal.
A coordenadora do MIS, Marinete Pinheiro, diz que um dos objetivos do evento é também um dos objetivos do museu, inserir o som um pouco mais no Museu, que é da Imagem e do Som. “Essa questão da música de certa forma é fraca aqui no MIS. No Rio de Janeiro, há o projeto Memórias para a Posteridade, tem o samba, tem atividades voltadas para a música. Queremos que o museu não seja para mera exibição de filmes, que tenha também o debate, a contribuição ao tema. As fotografias acabaram mobilizando a ‘galera’ da cena, pesquisando as bandas que entrariam na Mostra. É um público específico. Mais para frente o museu vai buscar parcerias para realizar um seminário de música, assim a gente acaba descobrindo talentos. O Museu é algo mais que exibição, mobiliza outro público, com contribuição de pessoas de fora. Essas pessoas acabam descobrindo o museu”.
Sobre o filme que foi exibido na abertura, Whiplash, Caio Dutra explica que é um filme que evidencia o lado não glamouroso da música, a busca pela perfeição, o esforço antes de chegar no palco. “O músico se esforça, estuda todo dia”.
Vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante, melhor montagem e melhor mixagem de som, Whiplash conta a história do solitário Andrew (Miles Teller), um jovem baterista que sonha em ser o melhor de sua geração e marcar seu nome na música americana como fez Buddy Rich, seu maior ídolo na bateria. Após chamar a atenção do reverenciado e impiedoso mestre do jazz Terence Fletcher (JK Simmons), Andrew entra para a orquestra principal do conservatório de Shaffer, a melhor escola de música dos Estados Unidos. Entretanto, a convivência com o abusivo maestro fará Andrew transformar seu sonho em obsessão, fazendo de tudo para chegar a um novo nível como músico, mesmo que isso coloque em risco seus relacionamentos com sua namorada e sua saúde física e mental.
Após a exibição, houve o debate com os bateristas Ernani Júnior, o Juninho, e Renato Rolemberg, o “Bolha”. Juninho disse que o diretor do filme quis mostrar algo com que todos se identificam de alguma maneira. “A bateria é o único instrumento usado ao mesmo tempo com todos os outros. É um ótimo filme, passei por momentos assim, temos que persistir para alcançar a glória”.
Bolha, ex-baterista da banda do Michel Teló e hoje com a banda da dupla Bruninho e Davi, disse que passou por tudo o que se passa no filme, “em suas devidas proporções”. “Tive que tocar sem olhar a partitura, o ator perde a pasta [no filme]. É a minha verdade. Cada um vai se identificar na sua profissão. Minha mãe me dizia que em vez de ter um sonho, a gente precisa ter uma meta. Tem vários obstáculos até cumprir sua meta. Por exemplo, estar ao lado do Juninho neste debate é uma meta. Por terem me chamado, isso é uma prova que sou reconhecido. Fui conquistando a cada dia, consegui cumprir a maioria das minhas metas”.
A Semana da Música “Som e Fúria” acontece até 15 de julho, sempre a partir das 19 horas no Museu da Imagem e do Som, que fica na avenida Fernando Correa da Costa, 559, 3º andar, no Memorial da Cultura e da Cidadania. A entrada é franca.
Confira a programação:
12 de julho (terça)
19 horas – Documentário “A todo volume”
Convidado: Caio Dutra
13 de julho (quarta)
19 horas – “Detroit Rock City”
Sarau Dia Mundial do Rock
14 de julho (quinta)
19 horas – “Ruído de Minas”
Convidado: Hélio Guará
15 de julho (sexta)
19 horas – “Botinada – A origem do Punk no Brasil”
Convidado: Enrique Gonçalves
Fotos: Daniel Reino