Campo Grande (MS) – A bailarina, doutora em Artes da Cena pela Unicamp e professora do Curso de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Dora de Andrade, ministrou nesta quarta-feira (20) pela manhã a Oficina de Dança: da percepção à ação, na Sala Conceição Ferreira, do Centro Cultural Octávio Guizzo, como parte das ações da Semana Pra Dança 2015.
Dora, que é do Rio de Janeiro, está há dois meses em Campo Grande. Veio para cá logo após concluir o doutorado em Campinas e passar no concurso para a UEMS. Na oficina, ela trabalhou a educação somática, princípios e abordagens próximos da Escola Vianna de dança. Ela pesquisa e desenvolve trabalhos a partir de práticas colaborativas com artistas de diferentes linguagens. Atualmente integra o Laboratório Fuga!/Lume Teatro, coordenado por Renato Ferracini.
A oficina buscou experimentar o corpo em movimento por meio de práticas que colocaram o participante sensível ao seu próprio corpo, sua relação com o espaço e o outro. Foram abordados exercícios que trabalharam com as singularidades presentes através de sequências de movimento e propostas improvisacionais individuais e coletivas, instaurando o estado de jogo a partir da exploração desses elementos.
As atividades foram iniciadas com uma breve apresentação de cada participante. Cada um se apresentou na pessoa do outro, como se o colega ao lado fosse o próprio participante que se apresentava. Depois as pessoas falaram com o que se identificaram com o que o outro falou, “o que o outro tem de mim, a relação consigo e com o outro por meio do movimento”, conforme instruiu Dora.
Mudaram de lugar na roda, continuaram sentados e iniciaram os movimentos com uma massagem nos pés. Dora foi dando as instruções: “Peguem o pé como uma massinha de pão, abram os espaços articulares entre os ossos desenhando o trajeto entre eles. Façam o arco necessário ao nosso equilíbrio, apalpem o calcanhar, depois pelas laterais, peguem os dedinhos como se fossem desatarrachá-los, dedinho por dedinho. Entrelacem o dedo das mãos com o dos pés entre os espaços, façam uma breve pressão como se abraçassem o pé com as mãos, realizem rotação pelo tornozelo. Depois soltem, soltem o pé, deem pequenas batidinhas, empurrem para fora, deixem ele bem grande solto. Percebam a diferença entre uma perna e outra no tamanho, temperatura”.
Depois foi realizado o mesmo trabalho no outro pé. “Caminharam” para a frente e para trás, com os pés e as pernas. “Esse é um apoio ativo, empurrar o chão como se ele nos empurrasse de volta, mãos abertas, pés abertos, achando um lugar na sala, espreguiçando no chão, apoiando as costas no chão, braços ao lado do corpo, soltando o ar, percebendo essa entrega do corpo no chão”, orienta Dora.
Os participantes foram explorando as distâncias de seus corpos e seu contato com o chão. Foram se movimentando no chão e sentindo os apoios do corpo no chão. Depois foram sentindo esses apoios no nível médio (sentados), e também os apoios pelo olhar. Os mesmos movimentos foram feitos sentindo os apoios dos espaços no nível alto (em pé).
A oficina foi realizada a maior parte sem música. Já no final foi colocada uma música instrumental enquanto os alunos exploravam os apoios do corpo no chão. Foram realizados deslocamentos mudando os níveis (alto, médio e baixo – em pé, sentados e deitados). Cada um escolheu uma pessoa e seguiu-a com o olhar. Foram formados pares, que caminharam juntos em acordo para não haver o comando de um dos dois.
Dora orienta: “Mergulhem dentro dessa ambiguidade que pode ser o dialogar, numa multidão, com o outro. Nesse diálogo começo a observar o outro como parte desse espaço, eu como parte desse espaço. Procurem um ponto de observação, onde meu olhar pousa, o que o olhar alcança pelas extremidades nessa paisagem móvel. O comando está em vocês brincarem com esse trajeto. É a partir do outro, com o meu corpo, que eu crio o trajeto para chegar no meu ponto”.
Depois cessou a música e os participantes foram, em duplas, um auxiliando o outro com os movimentos, alongamentos. Ao final da oficina, Dora expôs aos alunos que a percepção está enquanto se pensa. “A gente percebe o mundo em movimento. É preciso se abrir para a sensorialidade para a qual a gente não se dá conta; é necessário se abrir a todas as percepções nos níveis micro e macro”.
Foi aberta a palavra aos participantes. A bailarina Renata Leoni, do Conectivo Corpomancia, disse que a escuta [das orientações da ministrante] deixa todos os sentidos aguçados para essa percepção. “A gente não tem noção do que é a palavra”. Roberta Siqueira, também bailarina do Corpomancia, afirmou que os exercícios oxigenam, renovam. “Eu estava com dor por ter me apresentado ontem. Agora percebo o quanto essa atividade mudou isso”.
Renata Bastos, terapeuta e instrutora de ioga, disse que a oficina abriu novos caminhos que ela precisa buscar. “Eu fiquei quatro anos morando em João Pessoa, e lá participava de um grupo de pesquisa no Centro Cultural da Paraíba ministrando aulas de ioga. Faziam parte também Luciana Portela, com a dança popular, e Angela Navarro, como condutora do projeto. Tínhamos propostas de vivência com técnicas somáticas, cada uma na sua área de conhecimento, e a ideia da equipe era construir intervenções na cidade [João Pessoa] a partir dessa percepção dos espaços”.
Renata está há um mês de volta a Campo Grande. Está grávida e diz que a oficina foi muito interessante pois permitiu-lhe observar como mudam os movimentos com o seu novo peso por causa da gravidez. “É um desafio. São novas as possibilidades do corpo, dos movimentos. Sou muito grata, a filosofia da ioga foi contemplada nestas atividades. Depois de anos com a prática da ioga em João Pessoa, voltei para Campo Grande com um outro olhar”.
A programação da Semana Pra Dança 2015 continua à noite, a partir das 20 horas, no teatro Aracy Balabanian, com o espetáculo “Mudança”, da Cia do Mato, de Campo Grande (MS). A entrada é franca. Mais informações no Núcleo de Dança da FCMS pelo telefone (67) 3316-9169.