Campo Grande (MS) – Foi aberta na noite desta segunda-feira, no Museu da Imagem e do Som, a Semana Som e Fúria, em homenagem ao Dia Internacional do Rock. Foi exibido o filme “Quase Famosos”, do diretor Cameron Crowe, que aborda a vida de um jornalista que acompanha uma banda de rock para a revista Rolling Stone. Os presentes puderam também apreciar a exposição de fotos de diversos fotógrafos de Campo Grande com imagens de bandas de rock da cena sul-mato-grossense.
Fernanda Nogueira, jornalista e uma das fotógrafas da exposição, disse gostar muito de estar nos shows. “Eu faço amizade com a ‘galera’, vou aos shows dos meus amigos e fotografo. Desde pequena eu gostava de música, meu sonho era tocar alguma coisa, daí eu ia nos shows. Isso começou com um trabalho da faculdade de jornalismo, na disciplina de fotojornalismo. Foi a primeira vez que eu fotografei foi para fazer um show, eu descobri que eu fazia parte de tudo aquilo. Comecei acompanhando a banda Jennifer Magnética, fiz por muito tempo, depois fui fazendo outras bandas também. E aí estou sempre no ‘rolê’ e sempre que tenho oportunidade, estou com a câmera. O que eu gosto de fazer é isso aqui”.
Ana Ostapenko, da produtora Who? Music, uma das organizadoras da semana, disse que a ideia surgiu a partir de um convite da coordenadora do MIS, Marinete Pinheiro, e esta já é a segunda edição do evento. “A gente pensou em fazer uma semana relativa à música e trazer também fotos para exposição. Os fotógrafos que trabalham na noite enviaram as fotos de apresentações de bandas. Ano passado, o evento foi mais voltado ao instrumental, esse ano abordamos a música como um todo, desde a história do jornalista que acompanhou uma banda em turnê, como no filme de hoje, como o punk rock, a história da primeira banda de mulheres no mundo”.
Ana explica que os filmes da mostra foram escolhidos pelo público a partir de uma enquete. “Fizemos uma enquete no facebook, apresentamos dez filmes e a ‘galera’ foi votando. Os cinco primeiros escolhidos nós estamos exibindo esta semana, com debates com convidados especiais ligados aos assuntos dos filmes”.
O jornalista especializado em música, Oscar Rocha, debatedor convidado da noite, informou que o diretor do filme de abertura, Cameron Crowe, baseou o enredo em sua própria história, pois trabalhou por mais de vinte anos na redação da revista Rolling Stone e começou aos 15 anos, como o protagonista. Vários artigos que ele escreveu viraram roteiros de filmes. “O filme de hoje ilustra como a cultura de massa conseguiu criar pessoas. Cameron é um dos ‘caras’ que celebram a cultura pop de forma contundente”.
Oscar se reconhece como um fã de música antes de virar jornalista. “Cresci nos anos 1970 em Campo Grande. Vocês não sabem o que é ter uma única [emissora de] TV e apenas rádios AM. Na rádio tocava de tudo, desde Led Zeppelin, Secos e Molhados, a Belchior. Essa é uma época em que a indústria musical estava por trás de todos os elementos. Eu sou fruto desse período histórico”.
O jornalista diz que a realidade que o filme “Quase famosos” mostra não existe mais. “O jornalista não tem amis esse contato, as bandas não se abrem para o jornalista dessa forma. Não tem como entrar mais nesse universo dos bastidores do rock. Hoje existe toda uma estrutura formada para você conseguir chegar nesse artista. É mais complicado para o jornalista, que tem que passar pela assessoria. As empresas de comunicação também não têm mais como bancar isso. Hoje a estrutura montada vai tentar seduzir o jornalista para falar o que o artista quer. A possibilidade de se fazer um trabalho jornalístico que tenha um contato maior acabou”.
“E como ficou o público nessa situação toda?”, pergunta Oscar. “Com a internet, às vezes a ideia para uma canção sai, imediatamente já está na rede. A relação com o fã ficou muito próxima, não precisa do jornalista, do intermediário para fazer isso. E o crítico? Quando se fala de jornalismo cultural a gente lembra do crítico. No Brasil na década de 1980 havia uma ‘galera’ muitro contundente. Havia uma classe média, adolescentes que queriam absorver esse conteúdo. Foi fermentado um olhar sobre a música que vinha de fora. Quando lançavam um disco, demorava dois anos para chegar aqui no Brasil. Era um período escasso, mas a informação corria. Eu fiz crítica musical até 1996. O crítico é apenas um intermediário. Eu faço avaliação da obra do artista com a perspectiva histórica e estética. Parei de fazer crítica de música porque virei professor de história”, finaliza.
A Semana Som e Fúria vai até o dia 14 de julho, próxima sexta-feira. Confira a programação com filmes, a exposição e sarau musical no site da Fundação de Cultura. A entrada é franca. Participe!