Corumbá (MS) – Daqueles tempos psicodélicos se passaram 50 anos. Geraldo Alexandre, 70, um dos fundadores do grupo, hoje é um senhor de cabelos brancos, avô, que em 1968, no auge da juventude, tinha cabelos negros e encaracolados e usava calças “boca de sino”. Assim como ele, a banda MJ6, nascida em Corumbá, envelheceu, mas não perdeu o brilho e a fama daqueles anos dourados, animando bailes nos clubes corumbaenses.
Ao comemorar 50 anos, a banda foi convidada a participar da 15ª edição do Festival América do Sul Pantanal (Fasp) e se apresentou na noite de domingo, no Palco da Integrando, com um show nostálgico que empolgou o público. Cantando sucessos que embalaram os anos 60 e 70, numa Corumbá isolada, onde se ouvia apenas orquestras tocando Ray Conniff e Nat King Cole, levou para o Fasp a aura do romantismo, o rock e a bossa nova.
Uma hora de show eletrizante foi pouco para o MJ6. Ao final da interpretação de duas músicas autorais – Pescador e Caminho Eu -, o público pedia bis, depois de dançar e recordar os bailes no Clube Riachuelo, no auge dos anos de 1970. “No final dos anos 60, a cidade não tinha uma banda com as influências musicais do momento, e a gente entrou nesse circuito como uma nova proposta, tocando e cantando Beatles e a Jovem Guarda”, conta Geraldo.
O som saudosista no Palco da Integração logo atraiu centenas de pessoas e a maioria cantava com a banda. A diretora-presidente da Fundação de Cultura, Mara Caseiro, também se contagiou com interpretações de Tim Maia e ensaiou alguns passos. O casal Antônio Ojeda, 60, e Maria Auxiliadora, 50, se sentiu na pista do Riachuelo enamorando naqueles anos 70. “É muita emoção, a música do MJ6 contagia, é imortal, inesquecível”, diz Ojeda.
No ritmo da brilhantina
MJ6 reuniu em novembro de 1968 os melhores músicos de Corumbá, inicialmente com o nome de “Os Garotões”: Juvenal Néia, Calixto Santos, Francisco Balduino, Marco Aurélio, Geraldo Alexandre, Nicola Tody e Antonio Alves. O nome da banda são as iniciais de Moacir de Jesus, um dos fundadores e empresário, já falecido. Depois vieram Sebastião Alexandre e Márcio Pereira, o “Fala Baixo”, ao mais jovem na versão atual, o percussionista Yan Marcel, 32.
Interpretando os grandes sucessos de Bee Gees, Beatles, Rolling Stones, Barry White, Commodores, Elton John e outros expoentes da música internacional, o grupo se despontou e lotava os clubes Corumbaense, Marítimos, Camala e Riachuelo embalando os memoráveis bailes da brilhantina e da cuba libre (coca-cola com run). Também ditou o ritmo nas discotecas no final dos anos 70.
A fama atravessou o Rio Paraguai e o Pantanal e chegou a Campo Grande e Cuiabá, onde o MJ6 se apresentou por diversas vezes. Um dos shows que os remanescentes do grupo não esquecem foi no Clube dos Marinheiros, no Rio de Janeiro, em 1978. “A gente ganhava muito dinheiro e chegamos a fazer shows na Bolívia e no Paraguai”, se recorda Calixto Gonçalves, 69, baixista, músico por profissão e paixão.
Da formação original, apenas Geraldo e Calixto permanecem. O sexteto hoje tem o talento do jovem Ramão Terra (violão e voz), 57 anos; Aniceto Magalhães (bateria), 63; Cavalcanti (teclado) e Yan Marcel (Percussão). “Hoje tocamos de tudo um pouco”, diz Geraldo. No entanto, o repertório que marcou a banda inclui Golden Boys, Renato e seus Blue Caps, Benito de Paula, Luiz Ayrão, Roupa Nova, Pholhas, Fevers, Vips, Tim Maia, Roberto Carlos…
Na apresentação dos 50 anos no Fasp, convidados especiais que já passaram pela banda: Hélio Ferreira (voz e guitarra), Tadeu Atagiba (voz), Marco Aurélio (voz) e Eder Mosciaro. Este, depois de despontar no MJ6, fez sucesso no Zutrick, que embalou grandes sonhos no Clube Surian, em Campo Grande. “Os Beatles poderiam ter tocado no Riachuelo (clube), mas nós seriamos os melhores. Não é bairrismo, o público nos amava”, lembra ele, aos 65 anos.