O Festival América do Sul continua movimentando Corumbá, Ladário e cidades fronteiriças com uma programação rica em arte, cultura e tradição. Com atividades que exploram o tema “Singularidades que integram a América do Sul”, o evento segue até o dia 18 de maio. Nesta sexta-feira (16), a Casa Vasquez foi cenário para o lançamento do livro “O Borco e a Furna”, obra que investiga a história e os mistérios da viola de cocho, instrumento tradicional reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Iphan desde 2005.
O livro “O Borco e a Furna” reúne uma série de ensaios que investigam o instrumento tradicional do Pantanal, Viola de Cocho, abrangendo aspectos sociais, históricos e culturais. A obra examina os contextos em que a viola está inserida, seus modos de fabricação, suas relações com o território, com os ofícios, os rituais e o imaginário coletivo.
A proposta parte de uma pergunta: por que a viola se chama “de cocho”? A partir desse ponto, o autor Yuri Zakra desenvolve reflexões que envolvem os fluxos fluviais do oeste brasileiro, a cultura material, a memória, os regimes de nomeação no patrimônio cultural e a presença indígena. Com oito capítulos independentes, mas conectados por uma linha interpretativa, o livro aborda desde conceitos teóricos até experiências de campo.
No capítulo que dá nome ao livro, o autor costura as reflexões anteriores e propõe um jogo de imagens entre “borco” e “furna”, dois termos que evocam formas e espaços distintos, mas interdependentes. A viola aparece aqui como condensação simbólica: feita de vazios, de volumes, de cavidades e ressonâncias. Uma espécie de ensaio-conceito, em que a viola deixa de ser objeto e vira figura de pensamento
Yuri Zakra, 34 anos, formado em Letras, de Campo Grande, explica a proposta central de sua obra. “Esse livro nasceu de algumas pesquisa anteriores sobre a viola de cocho, e ele tenta largar o que é um repertório um pouco comum e repetido e imaginado sobre ela, que é a conexão do próprio cocho com a alimentação do gado, e a partir da proposta do livro eu vou investigando outros contextos do próprio cocho, voltado ao mundo das canoas, do material de escavações, então uma proposta de abertura de sentido para a própria viola”.
O engenheiro civil Raimundo Nonato de Menezes, de 68 anos, veio de Campo Grande acompanhado da família especialmente para prestigiar o Festival América do Sul.
“Viemos exclusivamente para o festival. Vimos a divulgação em Campo Grande, organizamos a viagem, reservamos hotel e estamos aqui. Chegamos nesta sexta-feira à tarde e vamos ficar até domingo, se Deus quiser. Estou com minha esposa, minha filha, meu genro e meu neto.”
Sobre o lançamento do livro “O Borco e a Furna”, Raimundo destacou a importância do trabalho: “A pesquisa do Yuri é fundamental, principalmente para os mais jovens, que muitas vezes desconhecem esse patrimônio cultural. É um resgate da memória, especialmente do nosso Pantanal sul-mato-grossense. Sou paulista de nascimento, mas vim pra cá aos 18 anos e me considero muito mais sul-mato-grossense.”
O Festival América do Sul segue com uma programação diversa, democratizando o acesso à arte e à cultura em todos os cantos da cidade. Para mais informações acesse o site Fundação de Cultura e @fundaçãodeculturams no Instagram.
Bel Manvailer – ASCOM/FAS 2025
Fotos: Ricardo Gomes – ASCOM/FAS 2025