Publicado em 12 set 2025 • por Karina Medeiros de Lima •
Desfile de nova coleção do estilista acontece no dia 26 de setembro, no Centro Cultural José Octávio Guizzo
Há mais de duas décadas, o fashion designer Fábio Mauricio constrói um universo autoral em que a moda não é apenas vestimenta, mas documento, memória e pulsação cultural. Natural de Rondônia e radicado em Campo Grande desde 2003, ele já criou mais de trinta coleções e inúmeros figurinos que circularam pelo Brasil. Agora, em 2025, Fábio apresenta sua mais ousada criação: Xeque Mate, um desfile conceitual que transforma o tabuleiro de xadrez em narrativa da identidade sul-mato-grossense.
O espetáculo acontece no dia 26 de setembro, às 20 horas, no palco do Teatro Aracy Balabanian, do Centro Cultural José Octávio Guizzo, reunindo 32 modelos, sendo 16 mulheres indígenas, que representarão peças do jogo e ícones da cultura do Estado. A entrada é gratuita.
A moda como partida
“Já são 21 anos de inúmeras coleções, e o que me move é a moda em si: produzir, cortar, costurar, fotografar, desfilar, vender… mas, acima de tudo, escolher um tema, um ponto de partida”, revela o designer. Desde 2004, a marca FM carrega sua assinatura inconfundível, marcada pelo upcycling, bordados manuais e uma estética que mistura punk e glam. Para Fábio, identidade é o que transforma um criador em estilista: “As pessoas reconhecem uma roupa minha. Isso é o que diferencia meu trabalho no cenário da moda brasileira”.
Xadrez e cultura: encontros e confrontos
A inspiração de unir o xadrez à história de Mato Grosso do Sul surgiu em 2012, quando Fábio celebrou uma década em Campo Grande. O projeto amadureceu ao longo dos anos, até se tornar um desfile que mergulha na miscigenação cultural do Estado e traduz essa diversidade em roupas.
As peças dialogam com símbolos profundos: no tabuleiro, o lado preto será representado pelo Pantanal e seus peões pantaneiros; as torres, pelo militarismo de Ladário e Corumbá; e os bispos, pela devoção à Nossa Senhora do Pantanal e pela festa de São João, tudo reinterpretado com um olhar rock’n’roll e fetichista. Já o lado branco terá como peões as oito etnias indígenas do Estado; torres que evocam as esculturas de Conceição dos Bugres e a bandeira de Mato Grosso do Sul; e bispos que carregam as influências do Paraguai e da Bolívia.
“Cada ano novas ideias surgiam para essa coleção. As associações entre o tabuleiro e os ícones culturais de Mato Grosso do Sul não paravam de aparecer, e isso me deixava ainda mais empolgado”, conta Fábio.
Representatividade como essência
Para o estilista, seria impossível falar de Mato Grosso do Sul sem a presença dos povos originários. Por isso, metade do elenco de modelos será composto por mulheres indígenas. “Eles são o corpo, a alma e o sangue do nosso Estado. A parte branca do tabuleiro no desfile será representada apenas por indígenas”, explica. A seleção será feita em parceria com o designer e produtor cultural terena Bryan Soares, reforçando a potência da representatividade.
Essa identidade miscigenada aparece também nos materiais: mantas bolivianas, renda ñandutí paraguaia, acessórios indígenas criados pelo artista terena Sulyvan Barros e estampas de Ghva, que retrata povos originários. “As influências de diferentes povos vão muito além da roupa tradicional. São encontros que constroem a nossa cultura”, pontua Fábio.
Moda como arte e documento
O desfile não busca reproduzir vestimentas tradicionais, mas criar uma obra artística, capaz de provocar e emocionar. Realizado dentro de um teatro, promete impacto visual e sensorial. “Será algo inovador, inusitado e profundamente cultural. É uma tradução pelo meu olhar”, define o estilista.
Mais do que espetáculo, Xeque Mate nasce como um projeto que desafia preconceitos e amplia horizontes. “Espero que possamos desmistificar a ideia de que usar ícones da nossa cultura é cafona ou bairrista. Acredito que mais pessoas da moda possam olhar com atenção para a riqueza de Mato Grosso do Sul”, afirma.
O futuro em jogo
O estilista não esconde o desejo de levar Xeque Mate a outros estados e até para fora do país, apresentando ao mundo a diversidade cultural de Mato Grosso do Sul através da moda. Para ele, a roupa é mais do que proteção: é identidade, símbolo e testemunho de um tempo. “Ninguém sai de casa sem roupa. Ela indica status, etnia, religiosidade. A moda é fator, ícone e documento de cultura.”
No tabuleiro criado por Fábio Mauricio, cada peça é um corpo em movimento, cada look um gesto político e poético. Xeque Mate não é apenas um desfile: é a celebração de um território, de um povo e de uma moda que, ao mesmo tempo em que veste, também narra e preserva.
Este projeto tem incentivo da Lei Paulo Gustavo, do MinC (Ministério da Cultura), por meio de edital da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), autarquia do Governo do Estado de MS. Mais informações pelo Instagram @f.mauriciobr.
Serviço
Desfile coleção Xeque Mate
Local: Teatro Aracy Balabanian, no Centro Cultural José Octávio Guizzo – Rua 26 de Agosto, 453, Centro
Data: 26 de setembro
Horário: 20 horas
Entrada Gratuita
Com informações da Assessoria
Fotos: Ana Carolina Fonseca