FLIB 2025 homenageia Flora Thomé e Carolina Maria de Jesus no Circuito Literário nesta quinta-feira

  • Publicado em 19 set 2025 • por Karina Medeiros de Lima •

  • A Feira Literária de Bonito (FLIB) chega à sua nona edição entre os dias 17 e 21 de setembro, na Praça da Liberdade. Neste ano, o tema central da feira é “Literatura: a autoria, a arte e a vida”, com foco nas obras que partem da experiência pessoal para a criação literária. Autobiografias, autoficções, diários e biografias serão o eixo das discussões, destacando a força da narrativa individual como instrumento de interpretação e transformação da realidade. A edição de 2025 homenageia duas figuras essenciais para a literatura brasileira e sul-mato-grossense: Carolina Maria de Jesus e Flora Egídio Thomé.

    Estas duas escritoras foram homenageadas no Circuito Literário, que aconteceu no fim de tarde desta quinta-feira, no Pavilhão das Letras, com a diretora de Memória e Patrimônio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Melly Sena, e com a professora doutora da Educação Escolar Quilombola da UFGD, Eliane Silva.

    A diretora de Memória e Patrimônio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Melly Sena, começou falando sobre os Haicais da Flora Thomé, ao qual ela é muito conhecida como uma grande difusora da literatura de haicai aqui em Mato Grosso do Sul. “Mas eu pensei num outro grande desafio que nós temos até, dessa dificuldade que a gente tem sobre a perpetuação das obras das nossas escritoras. E a Flora é uma delas, né? E a Flora, uma das coisas que eu mais acho interessante nela, e que eu hoje, trabalhando na área de patrimônio cultural dentro de uma diretoria, é essa questão da memória, do resgate da memória, de elas trabalhar como o Manuel de Barros, um guardador de águas. Ela é uma guardadora do tempo, uma guardiã do tempo, né? Então, assim, quem que foi essa Flora? A Flora, ela nasceu em Três Lagoas, ela nasceu em 1930, filha de migrantes libanesas. Então, assim, imagina sul de Mato Grosso, a gente não era Mato Grosso do Sul ainda, imagina a Estrada de Ferro chegando aqui pra poder destravar esse sertão do sul de Mato Grosso e os migrantes chegando e trabalhando, né? É por isso que a gente fala que algumas cidades, a própria cidade de Campo Grande, quando a gente olha lá pra região da plataforma cultural ou olha pra própria cidade de Três Lagoas, eram cidades que se desenvolveram e cresceram, e se a gente hoje tem o sul de Mato Grosso, que virou Mato Grosso do Sul, muito se deve à ferrovia Noroeste do Brasil. Vai fazer a produção da sua literatura, ela vai fazer esse resgate da memória do patrimônio olhando para essa memória”

    Melly falou que a herança diaspórica de uma família de migrantes da escritora e professora Flora Thomé é a primeira chave para poder compreender a escrita dela. “Como uma das suas influências nas suas obras, a Flora sempre falava da sua mãe, a dona Hassibi Tomei. Ela descreve em um dos livros que eu acho que é o meu favorito dela, que é o Retratos. O Retratos ela faz as poesias e nas poesias ela fala de cada personagem que ela criou as poesias. E uma dessas poesias que está nessa obra é sobre a mãe dela, ela fez sobre o pai dela, ela fez homenageando os trabalhadores da ferrovia noroeste do Brasil. Então, assim, ela faz um trabalho de memória, que era uma grande preocupação dela, até por ser educadora. Então, ela exerceu magistério na vida dela por 42 anos, e ela, por mais que tenha vivido toda a sua vida, toda a sua trajetória de vida tenha sido em Três Lagoas, a Flora não restringiu-se, vamos pensar, somente aquela região de Três Lagoas, tanto é que uma das coisas que ela mais gostava era de viajar”.

    Eliane Silva, doutora em estudos da literatura pela Universidade Federal Fluminense e professora na educação escolar quilombola na UFGD pelo PARFOR, que é um programa do governo voltado à educação escolar quilombola, falou sobre a escritora Carolina Maria de Jesus, uma das homenageadas da FLIB 2025. “Penso que Carolina hoje faria 112 anos, né? Então, assim, depois do centenário de Carolina, nós percebemos uma visibilidade maior dos trabalhos dela, né? Então, assim, qual a importância de uma mulher negra, pobre, advinda de uma situação social completamente diferente de muitas outras pessoas que buscam oportunidades, e não conseguem. A Carolina, ela ajuda, ela tem possibilidades epistemológicas de fortalecer, por meio da obra, outras formas do trabalho. Pensar outros diálogos sobre a sociedade, sobre gênero, sobre raça principalmente, sobre etnia, penso que tudo que envolve a sociedade pode ser encontrado ali nas obras, seja em Diário de Bitita, seja em Casa de Alvenaria, seja no livro Quarto de Despejo ou em Provérbios. Todas as palavras, todas as obras, todas as frases de Carolina, tem potencial para fortalecer pessoas, fortalecer os estudantes, fortalecer as famílias, fortalecer as mães-solos que ela foi. Carolina é a tecnologia, digamos, ancestral que nós temos hoje. Nós temos muitas outras mulheres, obviamente, como Conceição Evaristo, Ana Maria Gonçalves, Ruth Guimarães, nós temos Beatriz Nascimento, Lélia González, uma infinidade de outras mulheres. Então hoje falo de Carolina e também trago essas outras mulheres negras que buscaram ali, com a sua palavra, com a sua sabedoria e ancestralidade, apresentar uma outra visão, um outro formato de se pensar o negro no Brasil hoje”.

    Texto: Karina Lima

    Fotos: Luana Chadid

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