Diretor do MinC fala sobre livro e leitura da era digital na Bienal Pantanal

  • Publicado em 06 out 2025 • por Karina Medeiros de Lima •

  • Na manhã desta segunda-feira (06), durante a 1ª Bienal Pantanal, o Diretor do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas/MinC, Jéferson Assumção (DF), falou sobre livro e leitura da era digital durante o Seminário do Plano Nacional do Livro.

    Para Jéferson, é importante pensar sobre a leitura da era digital porque existem grandes transformações no sistema literário atual. “Aquele sistema literário que a gente aprendeu, o Antônio Cândido, autor, obra, público, esse sistema literário é absolutamente impactado pela cultura das tecnologias. Não é mais o autor que escreve, aí o editor faz a obra e o público recebe, simplesmente. É muito mais do que isso hoje em dia. Não existe mais apenas essa linearidade autor, obra, público. Hoje, com o mundo digital, com as transformações tecnológicas que nós estamos vivendo, a gente tem inversões disso, inclusive. O público é o próprio autor de várias coisas, compreendem? Inclusive, o público vira o seu editor, o leitor é o editor, e o autor é o editor também, vocês entendem? Essas transformações são transformações exatamente na base, na base de uma economia da cultura, de uma economia criativa impactada pelas novas tecnologias”.

    O diretor do MinC diz que as novas tecnologias trouxeram o “triunfo da informalidade”. “Está todo mundo com medo, mas ao mesmo tempo uma juventude se apropriando dessas tecnologias. As escolas estão com medo, tá todo mundo com medo do que eu chamo de o triunfo da informalidade. As tecnologias trouxeram o triunfo da informalidade, tudo o que é formal está se desmanchando no ar. Todas as formalidades, vocês entendem? Aquilo que foi, quem cresceu na era do livro, quem cresceu na era das formalidades, de uma língua correta, bem entre aspas, de uma forma que se coloca acima das outras formas, por exemplo, tudo isso está em crise. E por que que está em crise? Porque exatamente existem grandes transformações. No sistema literário, autor, obra, público, as formas como as pessoas interagem umas com as outras, como você não precisa mais ter aquela mediação, as legitimações de antigamente”. Agora, com a internet, nós temos uma outra coisa, que não é mais o Estado, o mercado, ou o sindicato, ou a igreja, ou a sociedade civil organizada. É um conjunto enorme de coisas que a gente está tendo acesso agora, chamado o comum, que é o que vem a partir de uma outra legitimação. Uma legitimação de likes, shares, views, é outra legitimação. Por que começa a surgir um monte de gente aqui nesse campo, na cultura digital? Às vezes, do nada, surgiu uma nova escritora, um novo escritor”.

    O palestrante disse que esse universo novo que surge com a internet e redes sociais é um universo ainda enigmático para todos nós mas que a saída não é ser contra. “Nós temos que ter, primeiro, uma responsabilidade enorme de fazer a conexão entre o mundo do livro e essa leitura digital. A perspectiva mais errada possível é a gente ser contra. Mas os bibliotecários não podem, nem os gestores, nem os professores, nenhum de nós pode estar desatento em relação a isso que está acontecendo. Por quê? Porque isso é a realidade. Isso é avassalador. Não vai voltar atrás. Não vai voltar para um lugar. Todos nós que nascemos no mundo do livro, na era tipográfica, eu, por exemplo, o que acontece com a gente hoje? Hoje nós estamos vivendo o último momento daqueles que nasceram no mundo dos livros, o último, que se relaciona com as primeiras gerações de nativos digitais. Primeira, quando a gente for embora, não vai mais haver aqueles que nasceram na época dos livros, na era dos livros, da leitura atenta, da leitura solitária, da leitura dos longos encadeamentos lógicos e estéticos que é o livro. Essa outra geração que está chegando agora, elas vêm de uma fragmentação da perspectiva que elas têm da realidade. Então, nós estamos num último momento dessa grande transformação, em que essas novas gerações não vão mais ter a experiência daqueles que tiveram a experiência do analógico, da leitura, dessa profundidade dos longos encadeamentos lógicos e estéticos. É isto ou aquilo? Não, é isto e aquilo. O grande problema de complexidade que nós estamos vivendo hoje é que nós necessariamente precisamos conectar uma coisa com a outra, porque senão a gente não vai mais ter a profundidade do tempo, a profundidade desse longo encadeamento lógico e estético disponível para as próximas gerações”.

    Texto: Karina Lima

    Fotos: Ricardo Gomes

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    Bienal Pantanal

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