Publicado em 10 out 2025 • por Lucas Castro •
Entre as atividades da 1ª Bienal do Livro de Mato Grosso do Sul, a Bienal Pantanal realizada nesta quinta-feira (9), a autora e pesquisadora Carmem Teresa Elias apresentou a palestra “Inteligência Artificial: Quais os desafios?”, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo, em Campo Grande. A atividade integrou a programação do evento, que segue até o dia 12 de outubro, com debates, lançamentos e ações voltadas à literatura, à cultura e à tecnologia.
A Bienal Pantanal é uma correalização entre o Ministério da Cultura e o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Setesc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura) e da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul).
O evento está estruturado em dois eixos temáticos. O primeiro, “Territórios, culturas e geopolítica”, propõe reflexões sobre o Pantanal como paisagem que molda identidades e expressões culturais. O segundo, “Tecnologias digitais, sociedade e mercado: o mundo contemporâneo”, aborda o papel das novas tecnologias na produção literária e na preservação de identidades locais em um contexto globalizado, além de discutir o impacto das Big Techs nas diversas dimensões da vida social.
Inserida neste segundo eixo temático, a palestra “Inteligência Artificial: Quais os desafios?” tratou das principais questões, riscos e dificuldades enfrentadas atualmente nesse campo.
A pesquisadora Carmem Teresa Elias, do Rio de Janeiro, relatou parte do conteúdo apresentado:
“A minha tese foi justamente sobre padrões de texto, como os textos são elaborados, estruturados, com que propósito e a que isso leva o leitor. Quando a inteligência artificial começou a ser amplamente divulgada, percebi que era um tema que se conectava com meu campo de estudo e decidi investigar. Uma das primeiras notícias que encontrei, em 2023 ou até antes, informava que havia 180 livros à venda na Amazon produzidos exclusivamente por inteligência artificial, com autores inexistentes e nomes fictícios. Aquilo me doeu, porque eu sou autora”, destacou.
Carmem também alertou sobre os riscos do avanço tecnológico:
“É óbvio que a inteligência artificial chegou para ficar e vai continuar evoluindo. Porém, há riscos, desafios, falhas, desvios e preconceitos muitos deles ideológicos. Por isso, realizei uma pesquisa, analisei diversos textos e busco mostrar esse alerta, esse cuidado”, pontuou.
A professora do curso de Dança da UEMS, Christiane Araújo, de 47 anos, participou do evento e comentou a relevância da discussão:
“Me pergunto sobre a produção textual por inteligência artificial no meio universitário, porque temos percebido que a grande maioria senão todos os alunos recorrem a essas ferramentas para escrever trabalhos e textos científicos. Isso tem prejudicado o desenvolvimento cognitivo deles”, afirmou.
Ela complementou: “Foi uma palestra urgente e necessária. Todos os meus estudantes e colegas de trabalho deveriam participar de debates como esse, refletindo sobre o quanto essa temática é importante para a formação humana e educacional, independentemente da idade. Corremos o risco de formar profissionais que não pensam ou refletem criticamente.”
Já a professora de Língua Portuguesa e Literatura Ana Raquel, de 52 anos, destacou a emoção de levar seus alunos da Escola Estadual Arlindo de Andrade Gomes à Bienal:
“Estou encantada com a Bienal do Pantanal. Já tinha vindo em outros dias, mas hoje foi especial por trazer nossos alunos. É uma experiência riquíssima ver o brilho nos olhos deles e o encantamento com tantas possibilidades através da leitura é um sonho realizado para nós, professores”, disse.
Sobre a palestra, ela acrescentou: “A palestra foi fundamental e extremamente atual. Nos leva a refletir sobre os rumos da produção textual e da comunicação. A inteligência artificial está à nossa disposição, mas precisamos pensar em como ela pode afetar nosso próprio crescimento intelectual.”
A Bienal do Pantanal segue até o dia 12 de outubro, no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo, em Campo Grande. O evento celebra o poeta Manoel de Barros, escritor pantaneiro de reconhecimento internacional, que completaria 109 anos. A Bienal é organizada pelo Instituto Imole, com apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura, e do Governo Federal.
Bel Manvailer, Comunicação Setesc
Fotos: Ricardo Gomes/ Comunicação Setesc