Entre sonhos e letras, autores de MS compartilham propostas de escrita para crianças e adolescentes

  • Publicado em 12 out 2025 • por Marcio Rodrigues Breda •

  • Durante a tarde de sábado (11), a Bienal do Livro de Mato Grosso do Sul abriu espaço para a imaginação e para as múltiplas infâncias que vivem dentro de cada leitor. Na mesa “Propostas de Escrita para Crianças e Adolescentes do Mato Grosso do Sul”, escritores sul-mato-grossenses apresentaram obras publicadas pelo programa Leia MS, iniciativa da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, voltadas ao público infanto-juvenil.

    Entre poesia, histórias fantásticas, contos, ciências e História, os livros — já disponíveis nas bibliotecas públicas do Estado — revelam um território criativo fértil, que une arte, educação e identidade.

    A escritora Luciana Leite, autora de Os Sonhos de Ágatha, levou para a mesa um convite para sonhar com a ciência. “A gente está levando materiais didáticos, sequências didáticas, para que os professores comecem a desmistificar essa lenda de que as meninas e mulheres não seriam boas para a ciência”, afirmou.

    A escritora Luciana Leite

    A protagonista, Ágatha, é uma menina negra que sonha em ser cientista — uma a cada noite, em diferentes áreas do conhecimento. “Ele é dedicado a todas as meninas e mulheres que insistem em sonhar”, disse Luciana, ao lembrar que muitas vezes os sonhos das meninas carregam os ecos de suas ancestrais.

    De um sonho científico para um sonho de superação, Elaine Gomes apresentou A Menina da Botinha, história de uma criança com deficiência nos pés que deseja ser bailarina. O livro nasceu de uma experiência real na educação infantil e se transformou em ferramenta de inclusão. “O adulto que somos reflete a criança que fomos”, conclui o texto, que também inspirou o projeto Somos Todos Diferentes, sobre respeito e diversidade.

    Escitora e professora Elaine Gomes

    Já o poeta, produtor cultural e ator Thiago Moura, autor de Aulas de Pensamentos para Crianças, lembrou que “o acesso à literatura e à poesia, assim como o alcance à educação, é um direito de todas as crianças”. Em versos e gestos, ele convida o público a redescobrir a beleza do cotidiano: “as crianças ainda enxergam o mundo que nós, adultos, esquecemos de ver”.

    Pota e educador Thiago Moura

    Professor de História, André Ramalho — autor de Trechos e Textos (volumes 1 e 2) — destacou o poder da literatura como ferramenta de transformação. Para ele, o livro é apenas um dos caminhos possíveis: “É importante um novo olhar, apresentar conteúdo por meio da música, de livros de diferentes estilos, em uma abordagem intencional e inovadora de unir literatura e educação”.

    Professor André Ramalho

    Entre as narrativas que resgatam memórias culturais, Tatiana Sangali e Fábio Quill apresentaram obras inspiradas na artista Lídia Baís, figura emblemática da cultura sul-mato-grossense. Tatiana, autora de Lídia Baís – Uma Mulher à Frente de Seu Tempo, contou como a experiência de narrar a vida da artista a levou a compreender sua força transgressora: “Lídia continua nos inspirando a questionar os espaços que ainda são negados”.

    tatiana Sangali e Fábio Quill

    Fábio Quill, por sua vez, transformou a inquietação em literatura. A Casa de Baís nasceu do desejo de preservar a memória e a história da artista, traduzindo em narrativa o mesmo espanto que o inspirou: “Como podíamos conhecer tão pouco sobre alguém tão importante?”. O livro, ambientado entre arquitetura, arte e memória, reforça a importância de tornar o patrimônio cultural acessível às escolas e bibliotecas.

    Com uma proposta mais experimental, Frederico Hildebrand apresentou Spaceshit, história em quadrinhos que nasceu durante a pandemia. A protagonista, Luisa, viaja pelo espaço em busca da nave perdida de sua mãe, equilibrando aventura e afeto. “A ideia era criar uma ficção científica com sotaque brasileiro, com humor e personagens que falam a nossa língua”, explicou o autor.

    Quadrinista Frederico Hildebrand

    Encerrando a roda, Fernando Pissuto Trevisan apresentou Propostas de escrita para crianças e adolescentes do Mato Grosso do Sul, uma coletânea com 153 atividades criativas que estimulam a imaginação, o pensamento crítico e a valorização da cultura regional. Inspirado em histórias locais, lendas e memórias afetivas, o livro nasce como um instrumento pedagógico e afetivo para quem deseja ensinar e aprender escrevendo.

    Escritor Fernando Pissuto

    Assim, entre sonhos, ciência, poesia e memória, a mesa revelou um mesmo ponto de encontro: a literatura como um gesto de afeto e resistência — um modo de ver o mundo com olhos de criança e palavras de futuro.

    A Bienal do Livro de Mato Grosso do Sul é organizada pelo Instituto Imole, com apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura, e do Governo Federal. Com programação intensa no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo, em Campo Grande, celebrou o poeta Manoel de Barros, escritor pantaneiro de reconhecimento internacional que completaria 109 anos.

    Fotos: Daniel Reino

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    Bienal Pantanal

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