Campo Grande (MS) – Hoje (19/03) se comemora o dia daqueles que com suas mãos ou outras partes do corpo exercem sua arte. A Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul e a Secretaria de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação homenageiam os cerca de 3.600 artesãos do estado cadastrados no Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (SICAB) e aos aproximadamente 1.500 de Campo Grande e tantos outros que ainda não estão identificados, mas que exercem o ofício.
A história de vida se funde com arte numa harmonia perfeita em que muitas vezes o fazer artesanal se torna para muitos mais do que geração de renda, mas possibilita um empoderamento pessoal, onde até mesmo a adversidade acaba resultando em oportunidade, como é o caso do artesão Luiz Mauro dos Santos, que ao trabalhar por vinte anos como segurança, resolveu procurar emprego como açougueiro, e ao chegar para o dono do estabelecimento pedindo trabalho este lhe falou que quando seu Luiz fosse dizer quais os tipos de carne que haveria no açougue, o cliente já teria ido embora ao constatar sua cagueira.
Dali para frente, seu Luiz tomou uma decisão de nunca mais trabalhar para ninguém e que daria um jeito de sobreviver sem ter patrão. Foi quando surgiu à ideia de trabalhar com artesanato. Inicialmente começou confeccionando emas de pinha e a criatividade foi surgindo até o artesão se tornar especialista no entalhamento em madeira, confeccionando diversos tipos de trabalho, como bancos artesanais, boizinhos e casinhas temáticas em madeira, tudo num cuidado e esmero, “está tudo na minha cabeça, não anoto nada”, diz Santos, orgulhoso de suas obras. Hoje vive só com a renda do artesanato e diz estar satisfeito trabalhando nesse ofício e fazendo o que realmente gosta.
Já dona Elisabeth Marques, mais conhecida como Beth, de 59 anos, “mãe e vó solteira”, como se refere e 30 sendo artesã, diz que começou a trabalhar com artesanato justamente por que tinha filhos pequenos e não havia com quem deixá-los, por isso resolveu criar peças em argila de forma autodidata. E assim começou seu ofício com muita dedicação, onde com a renda gerada criou seus dois filhos e netos, “o artesanato prá mim é também uma terapia, nem vejo o tempo passar”, diz com brilho nos olhos e numa alegria contagiante.
Sempre sorridente e com seu neto de quatro anos ao lado, já também dando os primeiros passos no ofício, diz que não leva jeito para ensinar, e que um de seus filhos aprendeu olhando, “fez até faculdade fazendo artesanato”. Ela se especializou em modelagem cerâmica fazendo onças de barro, já que é o animal que tem mais saída diz ela, e também imagens de santos. Em média faço 50 peças de santos por mês e 20 onças pequenas por dia, que comercializo de R$ 12,00 a R$ 1.500,00”. Também falou dos parceiros, como a Fundação de Cultura e o Sebrae, que dão suporte aos artesãos para que possam ter sucesso no negócio. “São parceiras importantes por que sem elas, talvez inviabilizasse nosso negócio”.
Já Dona Lourdes Pedrão, 67 anos, encontrou o artesanato na melhor idade e há oito anos se dedica a ele. Depois de trabalhar por muito tempo como comerciante agora se vê permeada com cabaças, sementes, fibras que resultam em galinhas coloridas e artes com São Francisco. Diz que o apoio que a Fundação de Cultura proporciona é fundamental para alavancar o negócio, “uma assistência excelente com suporte às feiras, oficinas, na divulgação, quero agradecer de coração a todos os envolvidos nesse processo”.
O artesanato do estado também vai além-fronteira, muitos artesãos estão descobrindo no comércio eletrônico, uma forma de escoar e divulgar seus produtos. A artesã Lucimar Maldonado além de vender sua produção basicamente feita com fibra para as lojas de artesanato espalhadas pelo país, também fez parceria com a Tok Stok, loja eletrônica especializada em decoração e diz ter dado muito certo, apesar dos vários meses de negociação para fechar o contrato e no momento está negociando com a WWF Brasil para que suas peças também sejam comercializadas por lá. Também diz que o sucesso de seu trabalho vem da parceria com outros artesãos, o que agrega valor ao se trabalhar em conjunto. Maldonado diz que é possível viver só de artesanato, “quando se leva a sério o trabalho dá para viver só com isso, conheço pessoas que pagaram inclusive faculdade para seus filhos”, constata.
Para a gerente de artesanato da FCMS Katienka Klein, o artesanato além de representar a cultura sul-mato-grossense em suas peças, “também gera renda direta para a população, sendo que a maioria dos artesãos vivem do fazer artesanal”, frisa. E ainda, segundo Klein, o que diferencia o artesanato daqui com outros estados é justamente o referencial cultural, como a fauna e a flora, carros de boi, e ainda “com o artesanato indígena que é muito forte em Mato Grosso do Sul com a produção das tribos Kadiwéu, Guató, Terena, Ofayé, Caiuá e Guarani”, ressaltou Klein
Amanhã (20/03) encerra-se a II Feira de Artesanato Mãos Arteiras na Sede da Ferrovia, ao lado do Armazém Cultural. Vale a pena conferir a produção do artesanato feito no estado. A feira fica aberta ao público das 14 às 22h. Todos os artesãos citados na reportagem comercializam seus trabalhos na Casa do Artesão, localizada na Avenida Calógeras, 2050 no cruzamento com a Afonso Pena, no centro de Campo Grande.