Publicado em 10 out 2025 • por Marcio Rodrigues Breda •
Pensar o livro não apenas como objeto de leitura, mas como parte viva da economia criativa. Foi com esse olhar que a palestra “Vislumbrar um horizonte para o mercado do livro em Mato Grosso do Sul” reuniu, na tarde de quinta-feira (9), representantes de diferentes instituições durante a 1ª Bienal do Livro do Pantanal.
Participaram do encontro Érika Kaneta Ferri, pró-reitora de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários (PROEC) da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS); Melly Sena, diretora de Memória e Patrimônio Cultural da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS); Luciana Azambuja, superintendente de Economia Criativa da Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura (Setesc) e Isabella Carvalho Fernandes Montello, gerente da Unidade de Competitividade e Inovação do Sebrae.

A partir da esquerda: Melly Sena, Isabella Carvalho, Luciana Azambuja, Érika Kaneta e Febraro de Oliveira
O debate, que integra o eixo temático da Bienal dedicado à produção, distribuição e consumo de livros no Estado, provocou o público a refletir sobre os desafios de se viver de literatura em Mato Grosso do Sul e sobre as possibilidades de construir um mercado mais sustentável para o setor.
A pró-reitora Érika Kaneta Ferri destacou o papel da universidade na formação e no fortalecimento desse ecossistema literário. Para ela, a Bienal representa o início de um movimento mais amplo, capaz de conectar o ambiente acadêmico à economia da cultura.
“A Bienal pode marcar a criação de um ecossistema articulado entre universidades, poder público e setor produtivo. A UEMS está se reinventando e se abrindo para o diálogo com a sociedade, promovendo a literatura, apoiando editoras regionais e desenvolvendo pesquisas e produtos que contribuam com o mercado editorial sul-mato-grossense”, afirmou.
Representando a Fundação de Cultura, Melly Sena pontuou que o mercado do livro é formado por uma cadeia complexa, que envolve produção criativa, impressão, distribuição, mediação e formação de público. Ela alertou, porém, que a falta de reconhecimento oficial da profissão de escritor na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) ainda é um entrave para a remuneração e profissionalização de autores.
“A profissionalização dos escritores é fundamental. Muitos vivem não apenas dos direitos autorais, mas também de palestras, cursos e atividades culturais. E, para fortalecer essa cadeia, precisamos olhar também para o processo produtivo, já que cerca de 90% das impressões de livros ainda ocorrem fora do Estado, por conta do preço do papel”, destacou.
Já Luciana Azambuja, da Setesc, defendeu que as políticas públicas voltadas à cultura e à leitura devem ser construídas a partir das demandas da sociedade civil. “É preciso provocar o poder público. As políticas de cultura e de fomento à leitura precisam nascer da ponta, da escuta das comunidades e dos agentes culturais. Se elas partirem apenas do gabinete, não serão sustentáveis. O papel da secretaria é garantir oportunidades e ampliar a cadeia produtiva do livro”, enfatizou.
A gerente do Sebrae, Isabella Carvalho Fernandes Montello, ressaltou que a literatura é também uma atividade econômica viável, embora ainda pouco explorada por novos empreendedores. “O livro é, sim, uma possibilidade econômica. Existe um espaço importante para quem quer empreender com literatura, mas ainda há baixa demanda de pessoas interessadas em investir nesse setor. Precisamos mostrar que viver de escrita, de edição e de leitura é possível — e que criatividade e gestão podem andar juntas”, observou.
O diálogo entre as quatro participantes revelou um consenso: o fortalecimento do mercado editorial no Estado depende de colaboração entre instituições, valorização da formação de leitores e reconhecimento da literatura como ativo econômico e cultural.
A Bienal do Livro de Mato Grosso do Sul é organizada pelo Instituto Imole, com apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura, e do Governo Federal. Acontece até 12 de outubro no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo, em Campo Grande, e celebra o poeta Manoel de Barros, escritor pantaneiro de reconhecimento internacional que completaria 109 anos.
Fotos: Daniel Reino