Campo Grande (MS) – Que tal aproveitar a ocasião do aniversário de Campo Grande para programar uma visita ao nosso rico patrimônio histórico? A cidade possui sete bens materiais tombados que contam um pouco mais da nossa história, da história da nossa bela Capital.
O gerente de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Caciano Lima, explica que o patrimônio cultural trabalha com a sensibilidade, e “a sensibilidade é inerente ao ser humano”. “Quando nós tratamos de tombar ou registrar algo, a gente está trabalhando com a perpetuação da nossa história. Então quando a gente tomba, quando a gente registra, a gente está colocando uma importância muito grande naquilo que tem relevância para a sociedade.
Ao ser questionado sobre o porquê as pessoas deveriam visitar os bens tombados, Caciano responde que as pessoas se reconhecem nos bens registrados. “Eles nos identificam. Nós temos um sentimento de pertença quando a gente está próximo a algo que diz respeito à nossa história. Se eles fazem parte da nossa história, nós estamos lá, e o que aconteceu com a cidade… é como se tivesse um roteiro, e nesse roteiro, nesse circuito histórico-cultural, nós vamos encontrar um pouquinho da nossa história, da nossa memória”.
Então vamos começar nosso roteiro de visitas pela Casa do Artesão. Situada em um prédio histórico e centenário que marca o crescimento da nossa Capital, a Casa do Artesão de Campo Grande é um espaço singular de comercialização do rico e diverso artesanato de Mato Grosso do Sul. Sua sede foi construída entre 1918 e 1923 sob as ordens de Francisco Cetraro e Pasquele Cândida, com projeto do engenheiro Camilo Boni. A construção se apresenta sem recuos, com fachada no alinhamento, conforme padrões de ocupação urbana da época, flanqueada por construções também na testada do terreno. O corpo principal do prédio é em forma de L, possui estilo notadamente eclético, como a estética vigente da época. Foi a primeira sede do Banco do Brasil (cujo cofre é uma das atrações do local), comércio e autarquia pública. Está situado na avenida Calógeras n°2050, esquina com a avenida Afonso Pena, no Centro da capital.
Próximo à Casa do Artesão fica o Quartel General da 9ª RM. O prédio tombado como Patrimônio Histórico foi inaugurado em 1922 como Quartel General da 9ª RM. Localizado na Afonso Pena entre as ruas 13 de Maio e Rui Barbosa, foi projetado pelos engenheiros e arquitetos da Companhia Construtora de Santos: um edifício com dois pavimentos, que passou a ser a primeira obra de engenharia e arquitetura da cidade em dois andares. Construído em um terreno desapropriado pela prefeitura, era uma área de propriedade particular onde havia uma escola em madeira. No dia da inauguração, em 9 de setembro de 1922, estavam presentes, além de inúmeras autoridades locais, o Ministro da Guerra Pandiá Calógeras e o diretor de engenharia Cândido Rondon. A edificação foi totalmente restaurada e reinaugurada em 2018 e está sob administração do Sesc, que o transformou em Centro Cultural, renomeando-o Sesc Cultura, unidade Melo e Cáceres.
Única obra projetada por Oscar Niemeyer na Capital, a Escola Estadual Maria Constança de Barros Machado está situada na Rua Marechal Cândido Mariano Rondom, n° 451 – Bairro Amambaí. Foi inaugurada em 26 de agosto de 1954. Segundo o arquiteto Ângelo Marcos Arruda, é um “marco da arquitetura moderna em Campo Grande. Originalmente a escola foi projetada para ser construída na cidade de Corumbá, mas por determinação do governador Fernando Correa da Costa, a obra foi edificada em Campo Grande. O lote onde o edifício foi implantado é um quarteirão de 12.000 m² de formato retangular. Enquanto que o terreno em Corumbá era plano, o de Campo Grande possuía uma inclinação em torno de 4 metros, tirado do ponto mais alto, na Rua Perseverança até seu ponto mais baixo, na entrada principal pela Rua Cândido Mariano Rondon. Tal situação altimétrica contribuiu para uma implantação usando platôs de construção para cada um dos blocos que compõem o edifício educacional. O projeto de Niemeyer optou por uma composição multivolumétrica, com diversas partes que, unidas por elementos de arquitetura – passarelas cobertas, circulações, pisos – formam um todo arquitetônico”. O renomado arquiteto buscou inspiração nas formas de objetos escolares, tais como borracha, livro, giz e régua para a concepção do projeto. Possui o nome da educadora Maria Constança de Barros Machado, pioneira na educação sul-mato-grossense.
Localizada na Rua Dom Cirilo, s/n, em Campo Grande/MS e também chamada de Igrejinha, A Igreja São Benedito “Tia Eva” foi edificada em 1919 como pagamento de uma promessa a São Benedito, feita por Eva Maria de Jesus, popularmente conhecida como Tia Eva. Escrava alforriada do interior de Goiás veio para os Campos de Vacaria, Vila de Campo Grande (atual Campo Grande), com sua família. Era benzedeira, curandeira, parteira e doceira de mão cheia. Foi uma líder religiosa de sua própria comunidade e é considerada uma das fundadoras de Campo Grande/MS. Passou a ser muito conhecida e arrebatou diversos fiéis ao santo de devoção. Em homenagem ao santo é realizada anualmente, desde a fundação da igreja, a festa de São Benedito, um período marcado por orações e festividades. Foi tombada como patrimônio pelo município de Campo Grande em 1996 e posteriormente pelo Estado através de uma resolução da SECE em 07 de maio de 1998, a Igreja São Benedito representa um marco no processo de autoafirmação do negro dentro da história campo-grandense tornando-se um símbolo de devoção e luta.
Foto: Google Street View
Idealizada por Eduardo Santos Pereira e construída entre 1923 e 1924, por Camilo Boni, engenheiro italiano responsável direto pela obra, a Loja Maçônica Oriente Maracaju está localizada na avenida Calógeras, nº 1952. Edificação térrea, com fundação e paredes em alvenaria autônoma, aberturas com quadros e vedos de metal e vidro e cobertura com telhas de fibrocimento. Possui elementos da arquitetura eclética como bossagem maneirista de formas geométricas e semióticas, coroamento com arquitrave, friso com epígrafe “Liberdade-Igualdade-Fraternidade”, cornija e muro ático com frontão retangular e bossagens geométricas.
Foto: Overmundo
Também considerado bem material tombado, o acervo de artes plásticas “Lydia Baís” encontra-se em dois locais: no Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande e na Morada dos Baís (fazendo parte da sala de memória da família que dá nome ao prédio). São cerca de 110 trabalhos entre pinturas, desenhos e fotografias. Na primeira metade dos anos 2000 algumas de suas obras sofreram restauro por especialistas.
Foto: autoria desconhecida
Lydia Baís nasceu em Campo Grande em 22/04/1900, filha do comerciante Bernardo Franco Baís, um dos primeiros italianos que aqui chegou. Na década de 1920 iniciou seus estudos no Rio de Janeiro. Em 1925 partiu junto com a família em viagem pela Europa e teve contato com artistas de renome, o que repercutiu significativamente em sua vida artística. De volta ao Brasil, em 1928, retoma seus estudos sob orientação de Henrique Bernardelli. Em 1950, funda o Museu Baís em Campo Grande, que não chega a ser aberto ao público, e ingressa na Ordem Terceira de São Francisco de Assis, adotando o nome de Irmã Trindade. A partir daí, passa a dedicar-se exclusivamente aos estudos religiosos e filosóficos. Publicou o livro História de T. Lídia Baís, com o pseudônimo de Maria Tereza Trindade.
Fotos: Ricardo Gomes