Campo Grande (MS) – Os campo-grandenses compareceram em peso para conferir a abertura do desfile das escolas de samba na Praça do Papa, na noite de segunda-feira (27). Foi estimado um público de 12 a 14 mil pessoas. O colorido das fantasias, a alegria e o samba no pé dos passistas e os enredos das escolas agradaram os foliões. Desfilaram, pelo grupo de acesso, Unidos do São Francisco e Unidos do Aero Rancho; pelo grupo especial, Unidos do Cruzeiro e Cinderela do José Abrão, e como convidada, Herdeiros do Samba, formada pelas crianças das escolas de samba da Capital.
O governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação e pela Fundação de Cultura, repassou para as escolas campo-grandenses recursos da ordem de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) mais a sonorização para o desfile. O presidente da Liga das Entidades Carnavalescas de Campo Grande (Lienca), Eduardo Souza Neto, afirmou que os recursos são de grande ajuda. “A participação do poder público é importante, mas buscamos apoio junto à iniciativa privada também. A gente sabe que o público que prestigia é fiel”.
Eduardo informa que as escolas são também agentes culturais, e atuam com projetos sociais na comunidade durante todo o ano. “As escolas são grupos de resistência. Já existe a tradição dos desfiles da rua 14 de julho, falta mais divulgação e condições de apresentação. Apesar das dificuldades, as escolas não vão deixar de trazer o glamour, elas sabem driblar as dificuldades”.
O superintendente do Fundo de Investimentos Culturais da Fundação de Cultura do Estado, Ricardo Maia, esteve presente representando o secretário de Cultura, Athayde Nery. Ricardo disse que o Estado tem o compromisso de contribuir com recursos para garantir os desfiles das escolas campo-grandenses. “O carnaval é uma festa popular que representa as festas brasileiras. A gente percebe um crescimento, vários blocos estão realizando sua programação. Este ano as escolas trazem temas regionais, como o Grupo Acaba, o poeta Manoel de Barros. Isso é importante para a identidade cultural do Estado, porque as escolas estão inseridas na nossa história, nossa cultura, nossos personagens. E o governo tem o compromisso de continuar apoiando o carnaval, fomentando essa cultura tão importante”.
As donas de casa Natacha Rodrigues e Maria Ligia de Almeida Torres compareceram para levar a filha de Maria Ligia e neta de Natacha, Laysa Rodrigues Torres. “Nós viemos o ano passado e foi muito legal, daí quisemos vir de novo. Nós gostamos de carnaval. A Laysa tem muitas fantasias da ginástica rítmica, mas hoje ela não quis colocar”.
A aposentada Marta Almeida veio com sua amiga Francisca. Marta é viúva de Gil, do bloco “Mil por Hora”, da década de 1990 em Campo Grande. Ela adora carnaval e vem todos os anos ver os desfiles. “Os campo-grandenses não aplaudem. Tem que ter muito incentivo, o pessoal das escolas trabalha, faz de tudo para se apresentar. A gente vem dar um incentivo, o carnaval de Campo Grande precisa disso”.
Depois do desfile dos Herdeiros do Samba, escola mirim composta pelas crianças das escolas de samba, que participou como convidada e não concorre com notas dos jurados, a noite de apresentações continuou com o desfile das escolas do grupo de acesso. A primeira foi a Unidos do Aero Rancho, com o samba-enredo “Um troféu ao tema: os desejos”. Helena Regina Moraes de Souza, diretora de alegorias e carnavalesca da escola, disse que a intenção foi retratar desde o início da civilização até os dias de hoje, com os homens da caverna e os homens do futuro. “Conseguimos entrar e sair no horário. Foram muitos meses de trabalho para 40 minutos na avenida. Agora vamos começar a respirar. Depois todo mundo festa só esperando o resultado”.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira Renan Justino e Nayane Evellyn trouxeram para a avenida trajes amarelos e dourados representando a ostentação. Renan tem 12 anos de escola e trouxe sua esposa Nayane para o mundo do samba. “É muito orgulho representar a vila onde a gente mora, tá no sangue, tá no coração”.
Logo depois foi a vez de entrar na avenida a Unidos do São Francisco, com o tema “O índio e seus costumes”. O presidente da escola, Ale Mahmoud Traes, disse que a escola sempre escolhe temas em homenagem à natureza. “Nós saímos do índio, eles são originais, temos que dar valor. Foram três meses de preparo. Foi difícil, as escolas estão aqui hoje por causa dos recursos do governo do Estado, que nos ajudou bem. Parabéns ao governo do Estado”.
A escola trouxe na comissão de frente índios de aldeias do Estado para desfilar. Arildo Alves Alcântara e Lourival Pinto Alcântara são da etnia terena. Arildo é professor e pedagogo e Lourival é o vice-cacique da aldeia Buriti. É a primeira vez que desfilam em uma escola de samba e foram convidados pelo diretor da São Francisco para participar. “Para nós foi muito importante participar, ajuda as pessoas a conhecer nosso modo de viver. Podemos ser iguais mas sem deixar nossa cultura. Podemos vier no mundo globalizado sem deixar nossos costumes”, diz Arildo. Lourival explica que o cacique organiza internamente a comunidade. “Escuta o povo, anda junto. É importante que professores, líderes tenham união para resolver coletivamente. Gostei de desfilar, no começo fiquei meio com vergonha, mas com a música a gente vai interagindo”.
A Unidos do Cruzeiro desfilou pelo grupo especial com o enredo “Mama África, o Brasil tem seu sangue”. O diretor de ala, Paulo Vanderlei Leite, explica que a escola se prepara desde maio do ano passado. A escolha do samba-enredo surgiu por meio do Thierres Guedes, irmão do diretor da escola, Alex, que quis mostrar a parte alegre da África, sua culinária, sua dança.
O coreógrafo da comissão de frente, aderecista e diretor carnavalesco, Marcos Santos, disse que quando acaba o desfile é a maior emoção. “É uma adrenalina, mas a emoção maior é na apuração. Nossa expectativa é ficar pelo menos no terceiro lugar este ano. Nossas fantasias são 80% recicladas do ano passado. Para nós o carnaval é como se fosse nossa obrigação do dia-a-dia. O samba está na veia, na família, na comunidade. A escola é a comunidade do Estrela do Sul”.
Integrantes da bateria, Igor Fernando Soares Schwitzer e Julio Sérgio Sales Cordeiro fizeram solos de timbau ao longo do desfile. Igor toca há 12 anos e aprendeu desde pequeno na escola de samba e Julio toca há três anos, tendo aprendido no Candomblé. “Os ritmos que tocamos são alujá e congo, ritmos africanos. A energia é diferente, é uma coisa louca. É como se fosse uma família, um ajuda o outro. O importante é a união, parceria e irmandade”.
A última escola da noite a desfilar foi Cinderela Tradição do José Abrão, com o samba-enredo “No céu, na terra e no mar, mistérios que ninguém sabe explicar! De onde viemos, para onde vamos, Cinderela na passarela a imaginar”. Gilberto Lopes, o presidente, disse que a escola levou dois meses para se preparar. “Está difícil o carnaval em Campo Grande, mas não pode acabar de jeito nenhum. Não vamos deixar o samba cair nunca. Todas as escolas estão na luta pelo carnaval de Campo Grande”.
No carro abre-alas, como destaque, a “Cinderela” Waldecy Coelho Catharinelli, aposentada de 73 anos. “Todo ano eu saiu como destaque, eu adoro carnaval, desde pequena, eu amo! O presidente da Cinderela, gosto muito dele, é meu amigo. Ele pede, eu não posso negar. Pretendo continuar até o dia que Deus quiser”.
A apuração foi feita na quarta-feira de cinzas. A grande campeã foi a Vila Carvalho, que desfilou na terça-feira. A Deixa Falar conquistou o segundo lugar, tendo desfilado também na terça-feira. Catedráticos do Samba ficou em terceiro lugar. Unidos do Cruzeiro e Cinderela Tradição do José Abrão no ano que vem vão desfilar no grupo de acesso. Unidos do São Francisco subiu ao grupo de elite. Agora é esperar pelo carnaval de 2018!
Fotos: Daniel Reino