Campo Grande (MS) – Colagens digitais, pinturas, desenhos, escultura, fotografia, fotografia de instalação, desenho, lambe, fotografia sobre tecido, pintura mista, pigmento natural de terra, tinta acrílica e óleo sobre tela. A diversidade de linguagens é característica marcante das mostras que compõem a 2ª Temporada de Exposições do MARCO, que foi aberta na noite desta quarta-feira (15.06.2022).
Os artistas foram selecionados por edital antes da pandemia: Felipe Siqueira, com a Mostra “Desvios Portáteis”; Finok (Raphael Sagarra), com “Liberdade Assistida”; Coletivo DODO, com “OCUPA DODO” e Jó Aquino, com a Mostra “A tua cultura é o meu patrimônio”.
A coordenadora do Museu de Arte Contemporânea, Lúcia Monte Serrat, explica que os artistas tiveram que se adequar à realidade atual, porque a mostra foi selecionada antes da pandemia, numa outra realidade. “Mas o que está valendo foi o que passou no processo seletivo. Então eles tiveram que se adequar, se readequar, se ajeitar e todos eles foram impecáveis, as salas estão super bonitas, realmente a pandemia deu aquela parada, todo mundo parou, mas agora a gente está retomando com muita gratidão, com muita tranquilidade, a gente está abrindo o museu para visitação para escolas, fazendo agendamento, aos pouquinhos estamos retomando as oficinas. O contexto era outro, mas eles estão trazendo para o contexto de agora”.
“Esta segunda temporada é bem questionadora. Cada sala tem um tipo de questionamento. Tem duas salas que estão usando mídias. Isso para nós é novidade, porque a gente não tem esse material aqui, os artistas tiveram que trazer. É bem interessante, tem coisas passando pela mídia, pelo computador, tablete… As pessoas podem vir que vão gostar”.
O secretário de Estado de Cidadania e Cultura, Eduardo Romero, agradeceu pela oportunidade estar retomando aos poucos os eventos. “Sabemos que nós ainda não saímos da pandemia, precisamos ter nossos cuidados, mas também não podemos deixar de viver este momento mágico que é estar junto das pessoas, se reencontrar e ocupar os espaços públicos de forma bastante positiva”.
“Este ano a Semana Nacional dos Museus teve como tema o poder dos museus. A gente está aqui dentro de um museu, especificamente o MARCO, mostrando o poder que tem, não só o reencontro, não só da ressignificação, não só da manifestação artística e cultural, mas acima de tudo da própria significação da vida. Acho que é isso que a gente precisa celebrar e cumprir com o papel de instituição pública”.
“Quero aproveitar também para parabenizar a todos os artistas, os individuais e o coletivo que participa dessa segunda temporada, a todos os que estiveram no Festival América do Sul Pantanal, estando aqui também nos emprestando as suas obras para que a gente possa compartilhar essa experiência” diz Romero.
Patrícia Osses, do Coletivo DODO, falou sobre a obra de videoinstalação que está no meio da sala em que a mostra OCUPA DODO está sendo exposta. “A obra do meio ela é realmente coletiva, é uma videoinstalação e a gente construiu com as ruínas do próprio Espaço de Belas Artes hoje, a gente foi lá buscar antes de montar a exposição e trouxe pra cá um pouco desta ruína: a terra, os canos quebrados, toda essa falência de projeto que virou esse elefante branco. E a gente montou realmente todo mundo junto, os vídeos foram filmados, a gente nem sabe quem filmou o que, porque misturou tudo, então realmente foi a obra mais coletiva.
E depois disso, cada um à sua maneira trabalhou o jeito de se relacionar com aquele espaço, né. Tem as fotografias de vários tipos, preto-e-branco, tem fotografia trabalhada digitalmente, colagem, a gente não pensou em linguagem, cada um simplesmente reagiu de um jeito”.
A respeito de realizar a exposição mais de dois anos depois da seleção, Patrícia declarou que oi bem frustrante na época, mas continuar com o trabalho foi um exercício de resistência. ”Quando veio a pandemia a gente achou que ia durar algumas semanas, depois teve que assumir que ia pros anos seguintes, ninguém imaginava… Foi até um exercício de resistência, porque a gente continuou se falando, eu até mudei de Estado, outra integrante também mudou de cidade, mas a gente continuou se reunindo quase todo fim de semana para finalizar esse catálogo, que foi importante porque era o que permanecia. A ocupação foi um dia, mas olha só em tudo o que reverberou, e até hoje, dois anos e meio depois, e a gente quer continuar com essa proposta de ocupação de espaços, inclusive do MARCO, ou seja, não é porque é um espaço institucional que a gente não vai trabalhar com ele, ou dialogar também. Inclusive é importante pra gente fazer esse cruzamento do espaço da cidade, do espaço da ruína, das falências da cidade com o espaço da cultura institucional e que também precisa ser ocupado e ativado pelas pessoas que vêm”.
Felipe Siqueira preferiu falar da emoção grande que sentiu em poder expor no MARCO, apesar de a seleção ter sido feita há um tempo atrás: “O Museu é um espaço muito importante, não só para mim, como arquiteto e pesquisador, mas para o público geral, para a gente poder debater alguns assuntos. E depois da pandemia parece que alguns assuntos ficaram ainda mais pertinentes. Então debater sobre a cidade e algumas questões que estão em volta na relação humana com o meio eu acho que ficou ainda mais pertinente depois da pandemia. Para mim estar aqui hoje, ficou ainda mais intensa essa relação”.
Jó Aquino acha importante a emoção na conexão com o tema da sua exposição: “Eu gostaria que as pessoas olhassem meu trabalho e sentissem, através da imagem que cada obra representa, uma emoção, e a partir desta emoção, tivessem uma conexão, um diálogo com o tema, com a temática que eu propus representar nessas obras, que é falar sobre a natureza. Na verdade, a natureza vai ter uma reação, vai reagir contra questões como o desmatamento, queimadas, um crime ambiental que são coisas do mundo contemporâneo”.
Para o artista, o período de pandemia foi uma oportunidade de amadurecimento. “Além de ter essa esperança em voltar a expor, que eu não sou muito de estar expondo, demoro muito tempo para fazer exposição, eu espero amadurecer muito para o momento em que vai ter a necessidade de expor, como uma obra como essa, para o público. E o período pandêmico eu fiquei amadurecendo as ideias. Meu processo criativo, processo de criação leva um tempo. Tem obras que eu fiquei mexendo em 2014, 2016, e finalizei há pouco tempo, no decorrer da finalização para a exposição desse ano. Eu fico esperando uma resposta que a obra vai me dar. Nesse processo andado tem as ideias que eu já coloquei inicialmente, mas ela vai instigando. Tem que amadurecer tudo isso e olhar para a obra e ela vai dar essa resposta para eu poder finalizar eu concluir o momento estético, o momento poético que é representado por cada uma delas”.
A vendedora Fábia Renata Pereira Alves veio ao MARCO conferir a diversidade de linguagens que esta 2ª Temporada de Exposições traz para o público: “Eu estou começando a olhar, esta é a segunda sala em que entro. Estou achando muito interessante observar o trabalho deles, é profundo, cada um tem a sua particularidade. Às vezes você olha de longe, parece simples, mas de perto você vê bem o sentimento no trabalho deles”.
Victor Macaulin e Fábia Alves
Victor Macaulin, artista visual, faz parte do Coletivo DODO, que também expõe nesta 2ª Temporada, mas ele fala como expectador: “Achei interessante a diversidade de linguagens que está tendo na exposição, trabalho com colagens, trabalhos de pintura… Um dos artistas é de São Paulo, o Raphael Sagarra, o Finok, então achei interessante poder ter acesso a esse trabalho dele, que é um artista que eu já conhecia de artista de rua, estar vendo um trabalho dele de exposição é empolgante, é instigante para incentivar a gente com a nossa arte aqui do Estado. Gostei também das apresentações iniciais, o mapping na parede, a projeção do coletivo Descendentes de Lídia”.
A Segunda Temporada de Exposições do Museu de Arte Contemporânea fica aberta ao público até 28 de agosto, sempre com entrada franca.
O Marco fica na Rua Antônio Maria Coelho, nº 6000, no Parque das Nações Indígenas. As visitações podem ser feitas de terça a sexta, das 7h30 às 17h30. Sábados e domingos das 14 às 18 horas.
Para mais informações e agendamento com escolas ou grupos para realização de visitas mediadas com as arte educadoras do Programa Educativo, basta ligar no telefone (67) 3326-7449.
Fotos: Daniel Reino