Campo Grande (MS) – Abaladas pelas restrições impostas pelo avanço do novo coronavírus, as companhias de Teatro — com atividade essencialmente presencial, tiveram de lidar com um cenário de caos e indecisão. Enquanto alguns grupos aguardam a implementação da Lei Aldir Blanc, outros recorrem a campanhas de doações, vaquinhas e redes sociais na tentativa de sobreviverem e, também, de levarem a arte para o seu público.
Utilizadas, inicialmente, com o objetivo de divulgar e registrar seus trabalhos, as mídias sociais das companhias de teatro têm sido uma ferramenta de sobrevivência e solidariedade nesse período. “Estamos utilizando [as redes sociais] com ações emergenciais como campanha de vaquinha e bazar para pagarmos o aluguel e a manutenção do espaço”, afirma o artista cênico Leonardo de Castro, do grupo Circo do Mato, que recentemente lançou, em sua página, a ação “Precisamos do Nosso Respeitável Público”.
Outra companhia que lançou mão das redes foi o tradicional Teatral Grupo de Risco que este ano completa 35 anos. “As rifas e vaquinhas virtuais que criamos tiveram como objetivo principal a manutenção do espaço”, conta o ator Yago Garcia, revelando o viés solidário entre as companhias: “O TGR não fugiu da luta! Cooperamos como podemos, emprestamos nosso espaço para armazenamento e distribuição de cestas para artistas”, explica Yago.
Outros grupos encontraram nessas ferramentas novas formas de trabalho, como no caso de estudos teóricos e práticos de maneira online. “Temos mantido uma sequência de lives no perfil da companhia no Instagram, o Bate papo sobre cultura popular brasileira, onde conversamos com Mestres, Mestras, Brincantes e grupos que trabalham e vivem a cultura popular. Participamos de alguns festivais online tanto com lives, como enviando vídeos pré-gravados, além de manter nossos estudos internos com oficinas e estudos teóricos em forma de vídeo conferência”, disse Erico Bispo, artista integrante da Cia de Artes Rob Drown, que já chegou ao número de 40 lives durante esse período de pandemia.
Apesar do uso das redes sociais estarem ajudando os grupos de Teatro, alguns artistas confessam que o mundo virtual não se compara ao contato do artista com o público. “Não pensávamos em ocupar, por agora, as mídias sociais ou algo assim, nem equipados estávamos para isso”, relata Garcia, atento às características do espetáculo teatral, segundo o qual, a peça desenrola-se sempre no presente. Esse fazer artístico no palco, segundo ele, é muito mais recíproco e gratificante quando há a participação do público. “No palco é olho no olho, o artista dá a cara a tapa, sente o calor, os odores, o coração bater mais forte”, exemplifica.
Para Bispo, entretanto, o momento é de inovar: “Com o impedimento por força maior, cabe talvez a revisão de alguns conceitos pré-estabelecidos, uma descoberta de como as redes sociais, as transmissões de espetáculos e oficina nesse lugar não físico habitado por artistas e público pode vir a ser um propagador e um catalisador dessa energia que mantém a cena viva”, defende.
Emergência cultural
Faz seis meses que a Covid-19 impôs em todo o mundo novas formas de relações, sendo uma delas as restrições a agrupamentos, situação que intimida atividades essencialmente coletivas como comércios e espetáculos artísticos. “Houve suspensão de atividades, pois tudo parou e conosco não foi diferente”, afirma Garcia. Segundo a artista Fernanda Kunzler, que também integra o Teatral Grupo de Risco, o teatro foi ainda mais afetado: “Todos os outros setores de alguma forma deram continuidade ao trabalho, nós, mais especificamente do teatro, precisamos parar definitivamente, pois temos contato direto com o público”, justifica.
Gerente de Difusão Cultural da Fundação de Cultura do Estado, Soraia Ferreira destaca a rapidez do órgão em agir diante da ameaça da pandemia: “fomos um dos primeiros Estados a publicar dois editais de emergência para auxiliar artistas e trabalhadores e trabalhadoras da área cultural. Esses editais foram realizados com recursos do Governo do Estado. Foram atendidas mais de 700 pessoas”, ressalta.
A Fundação de Cultura do Estado organizou debates com os segmentos artísticos, técnicos da Fundação de Cultura, colegiados e setoriais artísticos, os chamados Grupos de Trabalho, para debater a aplicação dos recursos da Lei Aldir Blanc. “No momento estamos verificando o que poderá ser executado, para elaborar os editais, que passarão pela procuradoria jurídica da Fundação de Cultura e pelo Conselho Estadual de Cultura.
Aguardado desde o início da pandemia, o auxilio emergencial estipulado pela Lei 14.017, 2020 – Lei Aldir Blanc, deve atender a trabalhadores da área de cultura afetados pela crise decorrente do novo coronavírus. “Estamos nos articulando para ter acesso aos direitos da nova Lei Aldir Blanc”, relata Castro. A Lei também se destina a subsidiar manutenções de espaços, empresas e instituições culturais, com ou sem fins lucrativos, além de beneficiar editais, chamadas públicas e outras fontes de fomento à cultura.
Para receber o benefício, os trabalhadores devem estar inscritos em algum cadastro de cultura municipal, estadual ou federal, ter atuação profissional na área artística ou cultural nos últimos 24 meses e obedecer a outros critérios referentes ao auxílio emergencial de R$ 600,00, como ter renda familiar de até 3 salários mínimos ou R$ 522,50 por pessoa.
O profissional, ainda, não pode ter recebido o auxílio emergencial, nem ter emprego formal, nem receber benefício previdenciário ou assistencial, exceto o Bolsa-Família. Espaços vinculados a fundações, institutos ou instituições de empresas, incluindo casas ou espetáculos de teatro com financiamento exclusivo de grupos empresariais, assim como aqueles geridos pelo sistema “S” (Senai, Sebrac e Sebrae), também não terão direito ao auxílio.
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Texto: Giovanni Dorival
Foto: Teatral Grupo de Risco