Em 11 de agosto de 1973, DJ Kool Herc fez uma festa de volta às aulas a pedido e organizada pela sua irmã Cindy Campbell na Avenida Sedgwick, 1520, no bairro do Bronx, em Nova York. O termo Hip Hop ainda não era usado para nomear a união dos 4 elementos (Breaking, MC, Graffiti e DJ). Depois desta data, a cultura Hip Hop espalhou-se pelo mundo. Aqui em Mato Grosso do Sul a cultura tomou corpo a partir da década de 1980. A Fundação de Cultura ouviu alguns artistas que atuam na área para falar do cenário aqui no Estado.
Wilson Rodolfo Ferreira, o Bolin, o profeta da quebrada, começou a dançar em 1983. Ele conta que em 1984 em Campo Grande tinha muitos grupos na época. “A gente se encontrava numa danceteria chamada Fire Point, que ficava ali no Libanês, aonde a gente ia dançar, o pessoal não gostava muito, falavam que era capoeira, eles não entendiam. Tinha umas festas do Edgar Scaff chamadas Flight Night, que era no Círculo Militar, a gente ia e continuava dançando. Aí montamos um grupo chamado Perfect Break. A gente já conhecia os quatro elementos, o break, o graffiti, o DJ e o MC. E nisso a gente começou no final dos anos 1980 com este grupo e depois foram surgindo outros. Costumamos dizer que o hip hop não é mais uma cultura, é um modo de vida. É aquilo que você realmente incorpora, você é aquilo”.
Bolin ressalta a importância do conhecimento para quem é do movimento Hip Hop. “Hoje aqui em Mato Grosso do Sul eu vejo muita gente fazendo o hip hop, se colocando como vanguarda, mas com muito pouco conhecimento. Falta um pouco de conhecimento e valorização daqueles que lá no começo quebraram as pedras para fazer o asfalto de hoje. As políticas de Estado, não só daqui de Mato Grosso do Sul, mas de todo lugar, é feita de momento, do que está impactando. E no momento atual tem muita coisa favorável ao Hip Hop, dessa contracultura urbana que está completando 50 anos. É necessário o conhecimento para você atingir raízes sólidas”.
Um dos fundadores do grupo Falange da Rima, Claudinei da Silva Souza, o DJ Magão, começou com o Hip Hop em meados dos anos 1980, quando não se tinha muita informação. “O que chegava para mim eram coisas fragmentadas, começou a chegar o break por programas de televisão, virou febre na época, o break apareceu nas Olimpiadas em 1984, alguns vídeo clipes, aí teve o Michael Jackson. Aí eu encontrei um pessoal de outro bairro que tinha informações. Tinha um bailarino chamado Snake que tinha ido para São Paulo, aí ele teve a informação dos quatro elementos, que era uma cultura mundial, ele trouxe esta informação para a gente, aí a gente teve a consciência do que era o hip hop: o break a dança, o rap a música, o DJ como maestro musical e o graffiti como arte visual. Na época não tinha internet, quem tinha a informação repassava para os outros. Começamos nossa atividade com o grupo Falange da Rima que é o grupo de rap mais antigo de Campo Grande em atividade”.
Para o DJ Magão, o hip hop hoje evoluiu bastante, com muitos representantes em Mato Grosso do Sul: “O hip hop de hoje, com toda a informação e a evolução que teve tem muita gente chegando. E o que a gente vê desde o início, de 1973 nos Estados Unidos, no começo da década de 1980 no Brasil e no final dos anos 1980 aqui no Estado, evoluiu muito, de forma que hoje fizemos um inventário sobre o hip hop no Estado e hoje a gente tem grandes representantes da cultura do hip hop, tanto no graffiti, como DJ, como MC e no break. A gente precisa evoluir mais através de informação, porque às vezes a informação é distorcida. As pessoas falam que o quinto elemento é o conhecimento. Mas o conhecimento não é uma cultura, é a capacidade de pensar de cada um. Cada um faz o seu conhecimento”.
Higor HG é o criador do primeiro grupo de hip hop de Dourados, o Fase Terminal. Surgido em 1998, os integrantes do grupo já tinham contato com o hip hop por meio do break dance, e fizeram uma participação num evento na escola Antonio da Silveira Capilé, em Dourados, quando HG tinha 17 anos. “Tinha acabado de acontecer o massacre do Carandiru, então a gente juntou uma galera do hip hop que estudava na escola e fizemos um evento. Em 1998 a gente lança oficialmente o grupo, fizemos nosso primeiro show no Primeiro de Maio, Dia do Trabalho, na Praça Antônio João, e ali foi o lançamento oficial do grupo. A gente começou a compor para o primeiro disco, lançado no final de 2003. Para nós foi muito importante porque Mato Grosso do Sul tinha naquele momento referência em Dourados de um grupo de rap com CD lançado”.
“Outros grupos foram surgindo, foi um momento de muita efervescência do movimento hip hop a partir dos anos 2000. A gente tinha um programa de rap em Dourados chamado Ritmos da Batida, do Naldo Rocha, que tocava as músicas da galera que era da cena local, mas também da nacional e internacional. Foi um tempo muito proveitoso para a cultura hip hop. O Fase Terminal sempre primou por letras que trabalhavam com diversos temas desde a questão do não envolvimento com drogas, a violência urbana, do apaziguamento de tretas entre vilas, e a questão do narcotráfico da fronteira, que acaba perpassando por Dourados. O Fase Terminal foi um marco na cultura hip hop de Mato Grosso do Sul porque trabalhou com musicalidade, letras, diversidade de temas, além dos projetos sociais com a Cufa, da qual eu fui coordenador aqui no Estado por vários anos, diversas ações sociais em Dourados, nas aldeias indígenas Jaguapiru e Bororó, uma delas onde a gente conheceu e desenvolveu trabalhos com Bro MC’s, fizemos parcerias com a UFGD com projetos de extensão, desenvolvendo a cultura hip hop e projetos esportivos na periferia de Dourados. Cinquenta anos de cultura hip hop para nós é bastante simbólico, fizemos parte deste processo. Hoje não estou mais ativo por questões profissionais e familiares, mas acompanho a galera, curto mais a velha escola do rap nacional e gringo”.
A técnica de Atividades Culturais da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Lidiane Lima, atuo com o Audiovisual e as Culturas de Rua. Para ela, a Cultura Hip Hop é uma ferramenta de transformação social, de manifestação artística das periferias que busca a igualdade para todos. “Quando temos a presença dos elementos da Cultura Hip Hop nos festivais promovidos pela Fundação de Cultura, temos a certeza de uma programação e público afetuoso, com mensagens capazes de transformar vidas e produzir um caminho para passos firmes. É magnífico ver o protagonismo da quebrada em nossos eventos e a certeza que trabalham duro para fazer um mundo melhor.
Lidiane diz que conheceu a cultura hip hop na produção de eventos de arte de rua. “Desde pequena sempre me chamou atenção as linguagens periféricas e com 14 anos mergulhei nas culturas de rua como o skateboard e arte de rua (na produção de eventos de rua) e foi aí que conheci a Cultura Hip Hop e ela me incentivou a investir em mim para que hoje eu tenha o conhecimento necessário para contribuir com esta cultura através do meu trabalho. Costumo dizer que o Hip Hop veio para adiar o fim do mundo e dar oportunidade de crescer enquanto agente cultural, artista e ser humano. Essa é minha ligação com a cultura que estamos falando, ela me tornou quem eu sou”.
E para comemorar os 50 anos do hip hop, vai ser realizado o Baile do Cinquentenário nesta sexta-feira, 11 de agosto de 2023, a partir das 18 horas, na Rua Polônia, 521, São Jorge da Lagoa. Mais informações pelos telefones: (67) 99263-7140 e (67) 98454-0121.
Texto: Karina Lima – FCMS
Fotos: Divulgação dos artistas