Escritora Aline Bei fala sobre seu processo de escrita e a aproximação com as artes cênicas na Flib 2025

  • Publicado em 20 set 2025 • por Karina Medeiros de Lima •

  • A escritora Aline Bei esteve no Circuito Literário na noite desta sexta-feira (19) durante a Flib 2025 para conversar “Sobre pequenas grandes coisas”, com a mediação de Marcelle Saboya e Karina Vicelli, no Pavilhão das Letras. A autora de “O peso do pássaro morto”, “Pequena coreografia do adeus” e “Uma delicada coleção de ausências”, e vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura falou sobre sua relação com os leitores e sobre sua aproximação com as Artes Cênicas.

    Aline começou abordando a sua experiência como atriz e como foi a transição para a literatura: “Como atriz, eu acho que quem já fez teatro, quem já fez parte de um grupo de teatro, sabe da horizontalidade que há para que as coisas aconteçam. Sempre uma horizontalidade para que a gente possa levantar um espetáculo. Um ator não é porque ele entra em cena, que ele não pode fazer, ter outras funções. E é muito natural, por exemplo, num grupo de teatro, um ator que não está em cartaz com aquele espetáculo, ser um bilheteiro, fazer a luz, fazer o som. E isso não há nenhum desprestígio. Pelo contrário, é um gesto coletivo para trazer a história para o centro. E é uma coisa muito bonita e muito natural que eu vi nos meus estudos de teatro. Quando eu migrei para a literatura, e depois a gente fala mais sobre essa transição, ela não foi nada. Foi um tanto brutal, mas acho que muito do que o teatro me ensinou eu continuo carregando para a literatura eu continuei fazendo o que sempre fiz, eu acho que talvez por não ter me visto no início como uma escritora e até hoje eu sinto, eu sou uma atriz que escreve, isso me deu uma liberdade de me mover pelo ofício talvez sem tanta carga de preconceitos pré-estabelecidos ali, né? É porque eu inventei a escritora que eu poderia me tornar não foi uma coisa que eu sabia como é que era a conduta dada para se tornar uma escritora eu fui abordando e construindo e performando a minha escritora no ato dos acontecimentos então isso acho que me deu essa leveza, essa liberdade eu sempre fui muito teimosa também, sempre gostei de fazer minhas coisas ao meu modo então acho que tudo isso junto me ajuda a ser da maneira que eu sou”.

    A escritora falou também sobre o seu processo de escrita e como começou a escrever. “Eu comecei a escrever num momento de transição entre o teatro e o nada. Eu saí do teatro de uma forma um tanto abrupta, e o meu desejo era continuar, mas eu era muito nova, eu precisava concretizar a minha vida prática. E eu fui fazer Letras como uma sugestão até da minha família, pra que eu me tornasse, de repente, uma professora de literatura. Por amar tanto, né? Talvez esse fosse um canal possível pra eu trazer uma profissão que pudesse me dar o sustento. E na faculdade de Letras eu comecei a escrever. Eu comecei a escrever porque eu conheci pessoas que escreviam também. E essas pessoas que eu conheci eram poetas. Isso mudou tudo, porque eu, como uma atriz, eu vi no poeta o espelhamento do ator. Eu acho que são duas figuras emanadas, o poeta e o ator. Então, o poeta tem uma performance, especialmente quando o poeta é jovem. A gente estava na universidade, então tinha um modo de ser poeta que ultrapassava os poemas. Era um estar no mundo, sabe? Que presentificava o lírico a partir da sua própria gestualidade. E isso me interessa muito, uma escrita que ultrapassa muito, que vai além do que a gente faz, mas que esteja por todos os fóruns da nossa presença”.

    Sobre sua escrita, Aline disse que no começo queria ser poeta, mas descobriu ao longo do caminho que sua escrita tinha uma outra personalidade. “Então eu me conectei com isso e quis também ser poeta. Comecei a escrever achando que era poeta, e fui descobrindo ao longo do meu caminho que não era. Mas eu experimentei uma liberdade enorme na forma, pois ele deu, e eu não consegui mais recuar. No fim, eu nunca coube nem na prosa, nem na poesia, porque eu sinto que eu sou muito mais uma escritora de fronteira. Eu fico exatamente na fronteira, poesia, teatro, teatro em duas frentes. Dramaturgia e teatro em entidade, esse lugar que é uma espécie de útero, onde eu me formei como artista. E a própria prosa, mas a prosa muito mais no sentido da oralidade do que uma prosa que tenha um vínculo com o cânone, né? Então tudo isso convivendo com esse espaço que é a cena, que é o meu espaço de construção. Eu não escrevo capítulos, nunca escrevi capítulos de livro, eu escrevo cenas, quadros, e esses quadros, eles vão um depois do outro, construindo uma narrativa possível dentro do meu trabalho”.

    Ao final da conversa, as pessoas na plateia puderam fazer perguntas para a escritora, que também recebeu os participantes na Livraria da Flib para uma sessão de autógrafos.

    Texto: Karina Lima

    Fotos: Elis Regina

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