O som dos berimbaus e dos atabaques começaram a ecoar pelo coração do 23º FIB (Festival de Inverno de Bonito), a Praça da Liberdade, como um chamado que, aos poucos, foi atraindo aqueles que passavam. Na tarde deste sábado (24), foi realizada roda de capoeira, vivência apresentada ao público por capoeiristas de projetos sociais de Bonito e Campo Grande, junto à música de roda.
Mediada pelo professor Alessandro Henrique Ribeiro, o Sandrão, a capoterapia foi apresentada ao público diverso que se reuniu no local, tornando-se um momento apreciativo de cura e bem-estar coletivo. A atividade uniu movimentos simples de capoeira com elementos culturais, como cantigas de roda e de lavadeira, e ofereceu uma experiência única de integração.
Ribeiro, que é técnico e audiovisual no Instituto Federal de Educação e Ciências Tecnológicas de Mato Grosso do Sul e também professor de capoeira e instrutor de capoterapia, compartilhou sua visão sobre a importância de integrar a capoterapia ao FIB.
“A capoeira é a alma da cultura brasileira, uma expressão que nasce da mistura de elementos africanos trazidos pela diáspora negra durante o período da escravidão, e que foi desenvolvida no Brasil como forma de luta e sobrevivência. Faz parte da nossa raiz cultural, sendo impossível falar de cultura brasileira sem reconhecer sua profunda conexão com a cultura negra e a história do povo negro na construção do Brasil. Portanto, a presença da capoeira no Festival de Inverno de Bonito não é apenas apropriada, é essencial”, enfatiza o professor, que representa o Coletivo Capoeira ao Toque do Berimbau.
Há quase 20 anos, Vagner Oliveira é mestre capoeirista de projeto social no bairro Marambaia, em Bonito. Hoje, o projeto atende cerca de 50 crianças, totalmente gratuito. Seus alunos tiveram a oportunidade de jogar capoeira na Praça da Liberdade durante o Festival. “Comecei minha trajetória na capoeira aos 11 anos de idade, e hoje, estar do outro lado, ensinando, é uma satisfação imensa. A capoeira é minha filosofia de vida, e fico muito feliz em poder passá-la adiante para as novas gerações”, relata o mestre de 43 anos.
Refletindo sobre o papel transformador da capoeira em sua vida e na vida das crianças que ensina, Vagner ficou emocionado após a roda de capoeira. “Se não fosse a capoeira, eu poderia estar no caminho errado hoje. É uma arte que moldou minha vida, e agora eu tenho a oportunidade de moldar a vida dessas crianças. A capoeira corre no sangue brasileiro, é parte de quem somos. Por isso, é fundamental que estejamos aqui no Festival de Inverno, compartilhando essa herança cultural com todos”.
A atmosfera lúdica e acolhedora que se formou na Praça da Liberdade transcendeu o plano físico. Os sons dos instrumentos, as palmas ritmadas e as vozes em coro criaram um momento de conexão profunda. Júlia Teruel Soares, de 26 anos, é serigrafista, designer e fotógrafa, e veio de Dourados especialmente para o Festival de Inverno de Bonito. Encantada com a programação cultural, Julia não perdeu a oportunidade de se aproximar da roda de capoeira que agitou a praça.
“Eu vim porque queria muito assistir a essa apresentação. Quando vi o horário, me organizei para estar aqui. A música e a energia da roda me atraíram. A vibração e o ritmo foram um incentivo a mais para pensar em começar a fazer capoeira”, revela Júlia, que acompanhou as cantigas com entusiasmo e se envolveu com a apresentação.
Para Julia, a experiência foi como uma forma de terapia. “Foi bem leve e a música, principalmente o batuque, realmente chegou até mim.” Ela também destacou que a apresentação a inspirou a considerar a prática de capoeira. “Foi um incentivo para isso”.
Lucas Castro, Festival de Inverno de Bonito
Fotos: Álvaro Rezende