Flib 2025 traz uma conversa com a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras

  • Publicado em 20 set 2025 • por Karina Medeiros de Lima •

  • O terceiro dia da Feira Literária de Bonito trouxe na Praça da Liberdade o Circuito Literário às 18 horas, que foi uma conversa com a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, com a participação do seu atual presidente, Henrique de Medeiros, e a acadêmica Lenilde Ramos.

    Lenilde falou sobre seu novo livro, que se trata de um livro sobre sua vida. “Hoje vendo a minha história, nasceu a vontade de eu escrever a minha história. Por conta de quando eu tinha sete anos, que eu perdi minha mãe. E meu pai me colocou num internato. E lá no internato eu trompei com uma freira. De repente a gente se trombou nessa situação, a gente teve que conviver uma com a outra, desafiando, eu desafiando, ela me desafiando, e ela se tornou praticamente assim uma mãe de criação, então ela, essa rebeldia dela fez com que ela saísse do colégio aos domingos e começasse a vasculhar a periferia da cidade, e ela me levava junto, então eu ia com ela para aqueles bairros longínquos, ela visitava, entrava na casa das pessoas, e até que numa dessas andanças dela, ela descobriu que existia em Campo Grande um leprosário. E ela nunca tinha ouvido falar, né? Mas ela só me deixou entrar lá quando eu fiz 18 anos. Mas antes eu já acompanhava o trabalho dela, e me apaixonei pelo lugar, gente, lugar mais tenebroso. Que uma pessoa, acho que, poderia ver naquela época, porque hoje a hanseníase, que tem esse nome, não se fala mais lepra, hanseníase tem cura, então não existe mais aquela situação de decadência física, de… os leprosários eram verdadeiros campos de concentração, não tinha saída, a única coisa que o governo podia fazer era pegar aquelas pessoas, era um estado de escravidão mesmo, sequestraram as pessoas da sociedade, colocavam ali”.

    Lenilde conta em seu novo livro sua relação com o Hospital São Julião: “Eu entrei dentro desse leprosário em 1970, no mês de agosto, eu estou lá até hoje. Então isso significa que eu juntei esse tempo todo de história e eu falei, um dia eu tenho que escrever essa história. Então ‘História sem nome’ é isso. Começa com meu pai, minha mãe, porque eu fui parar no colégio, o briefing tá todo aí. E o que eu vi e a grande volta por cima que esse lugar operou, que aconteceu. As pessoas que trabalharam lá, as vidas daqueles pacientes que foram tirados daquele estado de degradação para um estado de dignidade humana. Algumas pessoas daqui talvez tenham entrado no hospital São Julião. E, hoje em dia, é um lugar maravilhoso, é o lugar mais bonito da cidade. As pessoas chegam e falam ai, que lindo São Julião, maravilhoso, bonito. Mas eles não sabem como era. Eu falei, então eu vou escrever toda essa história. É uma história punk, viu? Não é drama também, sabe? Às vezes as pessoas falam, ah, eu vou ler ‘História sem nome’. Imagina, ler muito, escrever um lugar tão bonito. De jeito menino, é um livro divertido. É, por incrível que pareça. Minhas tragédias são tudo divertidas”.

    O presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras falou sobre a aproximação da Academia com a população e sobre a parceria com a Fundação de Cultura. “A gente está justamente nesse trabalho há vários anos, assim, nessas últimas diretorias, tentando realmente mostrar a importância da cultura, porque a importância da cultura, da literatura, ali a gente tenta não abrir espaço só para a literatura, mas também abrir espaço para a música. A gente até tem um espaço um pouco mais chamado do que o dito, porque está sendo pouco interpretada dentro da cidade, belas artes, e trazendo a Academia Brasileira de Letras uma parceria maravilhosa com a Secretaria de Cultura e com a Fundação de Cultura do Estado. Isso ajuda a gente a desmistificar essa questão da cultura e mostrar a importância da educação, a importância do conhecimento, a importância da divisão de pensamentos para poder você buscar transformar a sociedade. E isso eu acho que tem sido legal, tem sido interessante, eu acho que está havendo um resultado aos poucos. Você vai trabalhar com cultura, vai trabalhar com educação, não é um processo muito simples, não é um processo muito fácil. Mas eu acho que devagarinho a gente está conseguindo chegar nesse ponto de abrir, passando as pessoas entenderem que aquilo ali são portas abertas, roupas fortes, a vontade de pensar, a vontade de conversar, a vontade de conhecer as coisas. Eu acho que é aí que a gente tem que chegar em algum lugar”.

    Henrique falou também sobre a biografia que ele escreveu sobre o David Cardoso. “É um personagem que eu sempre adorei, o Davi é meu amigo grande e ele tem uma vida muito interessante. Totalmente inversa até no aspecto do empresário, no aspecto do cineasta, da imagem, até que se tem, porque o que se tem é a imagem do David, de um momento da cinematografia nacional até contestada, do aspecto da pornochanchada, em determinado momento, mas que passa por inúmeros fatores, passa pela censura, passa por um momento histórico do cinema nacional, passa por um homem que nunca recebeu um gestão, vamos dizer, de valores documentais para poder fazer as suas obras, estabelecer exclusivamente com a iniciativa privada a vida inteira, sabe? Se ele mesmo produziu os seus próprios filmes, sem nenhum apoio, único e simplesmente, realmente, ou com interesse areado ou com seus recursos próprios, e fez um semelhante enorme. Então é um personagem muito bonito e um sul-mato-grossense. A gente tem que falar sobre o Brasil, além de Mato Grosso Sul. Tiveram um momento e tiveram importância no Brasil, no país, isso devia ter um nome nacional, é um nome que merece uma biografia.

    Texto: Karina Lima

    Foto: Luana Chadid

    Categorias :

    Feira Literária de Bonito

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