Em terra onde relações humanas são flexíveis, quem se expressa com o corpo é rei. O espetáculo “Se você me olhasse nos olhos”, da Ginga Cia de Dança fez o público aplaudir de pé a manifestação dos bailarinos, na noite desta sexta-feira (19), no Sesc Morada dos Baís. A apresentação fez parte da Semana pra Dança, evento realizado pela Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), em parceria da Câmara Setorial de Dança de Campo Grande que conta com uma extensa programação de workshops para bailarinos, estudantes e amantes da dança.
Desmistificando a questão da dança contemporânea que normalmente tem temas mais pesados, “Se você me olhasse nos olhos”, é uma readaptação da peça “Amor Líquido” (baseada no livro do sociólogo Zygmunt Bauman) de 2008 e mostra claramente o resultado de um grupo que se reinventa com genialidade depois de 30 anos de história. “É uma pesquisa a respeito da liquidez dos relacionamentos, era um trabalho forte, queríamos rever o trabalho e ele acabou indo para esse caminho. A ideia principal era fazer uma coisa bem mais leve pra que a gente pudesse apresentar em diferentes lugares, não necessariamente em uma casa cênica, o público tem que estar perto”, disse a diretora Renata Leoni. Mesmo sob sua direção, ela conta que a peça também foi construída de forma coletiva.
O espetáculo da noite foi uma homenagem a artista Mirian Gimenez, uma das fundadoras do Giga, que faleceu em março deste ano. Nos autofalantes, canções que variavam entre a famosa trilha da Pantera Cor-de-Rosa e “Eu te darei o céu”, do rei Roberto Carlos, agitavam os bailarinos em uma coreografia impactante e descontruída de regras, demonstrando claramente a tão discutida fragilidade dos laços humanos.
Tamanha interação e improviso chamou atenção de quem assistia. “É sempre bom ver uma pesquisa em cena, pesquisa de corpo, de mensagem, expressividade e o que querem falar através da dança. O que vi foi uma dança não só de coreografias, mas de bailarinos intérpretes que criam os movimentos, que vão para a cena de acordo com o que estão sentindo. É satisfatório ver o resultado em cena”, elogiou a artista Michelly Dominiq.
Abrindo as portas da desconstrução sobre as relações amorosas e suas particularidades, a manifestação calorosa dos dançarinos deixou no ar uma interpretação individual. “O espetáculo fala sobre o que você faz quando alguém te olha nos olhos, se abraça, se beija, ou você se nega? Trabalhamos muito com técnicas de improvisação e tentamos trabalhar com ela o tempo todo. A experiência é essa no tempo presente, então não tem uma mensagem, talvez a dança não carrega uma mensagem, cada pessoa vai se relacionar com o espetáculo de acordo com a experiência dela”, finalizou o bailarino Marcos Mattos.
Texto: Alexander Onça
Fotos: Helton Perez