Bonito (MS)- O Grupo Omstrab, de São Paulo, apresentou no Festival de Inverno de Bonitona tarde desta sexta-feira, 29 de julho, na Praça da Liberdade, o espetáculo “Cidade”. A proposta é uma redescoberta da cidade de São Paulo, enquanto uma entidade viva e pulsante, para buscar estabelecer um diálogo direto, corporal e auditivo por meio de elementos sonoros e movimentos que acabam se perdendo na urgência do dia-a-dia.
Trata-se de um espetáculo de dança contemporânea e música ao vivo construído no caminho entre os espaços da cidade, espaço de ensaio e espaço cênico. O Omstrab partiu em pesquisa de campo à procura de um novo olhar sobre a metrópole, observando as diferentes regiões, tendo como norteadores aspectos culturais relevantes de cada uma delas. Em seguida, o núcleo voltou aos espaços pesquisados e realizou intervenções públicas.
Neste diálogo direto, corporal, auditivo com a cidade de São Paulo, por meio da percepção de elementos sonoros e de movimentos que acabam se perdendo na urgência do dia-a-dia, este projeto é uma oportunidade de integrar o fazer artístico com a cidade.
O grupo é formado por Alex Martins, Willy Helm, a Rossana Boccia, Vagner Cruz, Pedro Peu, Diego Lisboa e o fundador do grupo e coreógrafo, Fernando Lee. Fernando compõe as músicas para o espetáculo de forma intuitiva, ouvindo sonoridades de cada região. “Cada região sugere uma cena nova, uma música nova. Depende de cada cena, às vezes a música vem antes, às vezes os movimentos surgem primeiro. A partitura vai virando coreografia, o texto do relise já virou música, tento o máximo integrar as coisas”.
Rossana Boccia está no Omstrab desde 2013. Ela começou com balé clássico aos quatro anos na escola de bailados, depois se identificou com a dança contemporânea. “O clássico é mais conto de fadas, queria falar sobre os nossos temas, nossos problemas”.
No espetáculo “Cidade” há uma cena em que os bailarinos dançam com tapetes. Rossana explica que trata-se da representação de moradores de rua que carregam seus papelões. “A casinha deles, que vão montar. Também é a cidade grande em espaços menores, pequenos, os apartamentos. As pessoas vão se adaptando cada vez com menos espaços nas cidades, que vão te engolindo”.
O bailarino Vagner Cruz começou na dança aos nove anos fazendo capoeira; aos 13 praticou na dança situações de um padrão mais comercial com o balé clássico; aos 16, as propostas foram mais maduras com a dança contemporânea. “A coisa era pra valer, eu entrava em cena em prol de ações institucionais”.
Ele está no Omstrab desde 2009. Agora com 28 anos, se sente realizado profissionalmente. “É um caminho que me realiza. É um tipo de trabalho que me favorece a exercitar um caminho na arte não só de intérprete. O processo é de escuta do criador aos artistas que contribuem para a idéia principal. Nós também temos essa possibilidade”.
Ele explica que a cena que representa pessoas segurando placas com nomes num aeroporto é uma situação de espera. “Omstrab compôs a cena a partir de experimentação de espaço que se aproxime de onde vai ser apresentado [o espetáculo], explorando regiões, diferenças de comportamento das pessoas que estão ali, a pesquisa é feita em vários pontos extraindo elementos, estruturando situações cênicas”.
Vagner gostou de Bonito. “As pessoas tem um tipo de comportamento que aproxima, é bem artístico, você se sente tranqüilo consigo mesmo. Sou de Salvador, a gruta daqui é mais profunda que a de lá. As riquezas não são muito divulgadas”, finaliza.
texto Karina Lima
foto Daniel Reino