Jornalista Júlio Maria fala na Flib 2025 sobre como escreveu as biografias da Elis Regina e do Ney Matogrosso

  • Publicado em 21 set 2025 • por Karina Medeiros de Lima •

  • Encerrando o Circuito Literário durante a Feira Literária de Bonito, neste sábado (20), às 20 horas, na Praça da Liberdade trouxe uma conversa com Júlio Maria, “Encantar Biografias, com a mediação de Maria Adélia Menegazzo, no Pavilhão das Letras. Júlio Maria é jornalista, crítico musical do Estadão e autor das biografias “Nada será como antes”, da cantora Elis Regina, e “Ney Matogrosso – A biografia”.  

    Júlio começou falando que as pessoas querem fazer a biografia definitiva, mas que isso não é possível. “Todo mundo tem que ter essa vontade de fazer a biografia definitiva. E eu poderia dizer que, nossa, uma biografia da Elis saiu em 2015, e dez anos depois eu refaço a biografia, coloco mais histórias, porque a mulher, mesmo morta, produz fatos biográficos, como tem artistas vivos que, às vezes, deixou de produzir fatos biográficos, tem mortos que continuam produzindo fatos biográficos. Acreditem, a Elis Regina é uma delas, dessas pessoas. Então, mesmo refazendo essa biografia, e trazendo, no dia em que saiu essa biografia, já apareceu um fato novo, que era uma gravação da Elis descoberta por alguém cantando uma música que é um jogo muito importante que ela faz no final da carreira, quando ela está já sob experiência com drogas, infelizmente, no final da carreira, e aparece esse fato então no dia em que sai o livro novo, revisado, que poderia chamar de biografia definitiva, ou seja, não é definitiva. Então, eu espero daqui a dez anos voltar ao livro da Elis, eu poderei fazer uma nova revisão tranquilamente e uma nova ampliação dessa biografia. Acrescentar fatos”.

    O jornalista disse que existe uma diferença entre biografar uma pessoa viva e uma pessoa morta, como foi sua experiência em biografar a Elis Regina e o Ney Matogrosso. “O vivo vai ler a biografia. Eu acho que tá aí a maior armadilha mental que se arma, que se cria pro autor. Nossa, eu tenho que tomar cuidado com o que eu vou colocar porque o meu biografado vai me ler. Isso começa a querer agradar o seu biografado. E aí você acaba com a sua biografia. A biografia não é para o Ney Matogrosso. Não é um objeto de… reverência. Não é uma reverência. Não pode ser. Tem gente que faz isso. E aí eu falo, não é um trabalho de fã, né? Com todo o carinho que a gente tem por esses caras, se eu me coloco como fã da Elis ou fã do Ney, eu vou tentar encobertar coisas em algum momento. Ou então com o interesse de me aproximar do Ney, ser aceito pelo círculo, do Ney. Me dá pavor quando eu vejo o Ney no set de filmagem, anotando o que ele quer ou o que ele não quer no filme. Eu acho que o Ney que é a liberdade de expressão em carne e osso. Então, como jornalista e biógrafo, eu primo pela liberdade de fazer. Agora, então eu acho que é isso, se libertar da ideia de agradar e se ater aos fatos que você apura, vou usar, porque isso aconteceu”.

    Júlio Maria abordou também a questão da inteligência artificial. “Eu estou fazendo vários testes na inteligência artificial. E realmente ela escreve um relise para um artista maravilhoso, muito melhores que relises feitos por assessores de imprensa que estão no mercado. Ôpa, eu não quero perder para a inteligência artificial, então sejam melhores que ela. A biografia está blindada por uma razão, a inteligência artificial vai buscar os dados que estão na internet inteira. Só que o que alimenta as grandes biografias é o ineditismo, esse ineditismo não está no ambiente da internet. Sobreviverão os originais. Eu estou achando que vem aí o desafio da originalidade. O que não for original vai ser descartado porque isso a inteligência artificial vai fazer melhor do que a gente”.

    Texto e foto: Karina Lima

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