Campo Grande (MS)- Tirésias. O mais famoso adivinho cego da Grécia antiga, recebeu das mãos de Zeus o dom de ler o pensamento das pessoas e até prever o futuro. Se ele existiu ou não, pouco importa, pois seu espírito parecia estar presente na noite desta quinta-feira (26), no palco do teatro Aracy Balabanian, acompanhando o mentalista Rick Thibau no seu espetáculo “O Experimento Tirésias”, como parte da Mostra Sul-Mato-Grossense de Teatro Boca de Cena, com a programação gratuita.
Rick entrou no teatro passando pelo público de olhos vedados, enquanto narrava explicações de sua arte, que mistura telepatia, psicometria e recognição. No palco, além da perfeita iluminação de Camila Jordão, apenas uma lousa, uma estante de livros e uma caixa misteriosa e suspensa no ar.
Logo no começo ele se virou de costas e jogou uma chave para alguém da plateia pegar. O sortudo seria então nomeado o Guardião da Noite. O jovem Rafael agarrou a chave, que, ao final do show, iria abrir a caixa revelando a todos o que há dentro dela.
Como ele fez isso?
Na entrada, foi pedido às pessoas que escrevessem em um papel e depositassem no globo ali presente, perguntas para serem lidas e respondidas pelo mágico no meio da apresentação.
“Eu fiquei surpreso como ele adivinhou meu nome, o que escrevi e até como eu era. Sei que os mágicos têm seus truques, mas ele não tinha como saber aquilo sem me conhecer, tem alguma coisa sobrenatural nisso”, contou espantado Lucas Lopes Gomes, de 18 anos, aluno da Escola Municipal Consulesa Margarida Maksoud Trad, colégio que levou uma turma participativa para o Boca de Cena. A pergunta de Lucas adivinhada na íntegra por Rick era: como eu serei daqui a 90 anos?
Depois de alguns números tão espantosos quanto, daqueles de deixar todos de queixo caído e com cara de quem está pensando: “como ele fez isso?”, Rick, de costas para o público, jogou uma pequena bola de cor laranja pedindo que as pessoas arremessassem para trás por mais duas vezes. Quem segurou a bolinha foi o percussionista Romulo Castro, convidado a subir no palco e escolher um dos mais de 100 livros da instante e pensar em uma palavra aleatória escrita nele. O livro era Harry Potter e as Relíquias da Morte, de J. K. Rowling.
Vedado, o mágico escreveu na lousa a palavra “direção” e mostrou ao público sem que Chicão pudesse ler. Em seguida, pediu ao sorteado que dissesse em voz alta qual palavra do livro ele havia pensado. Ele respondeu: “direção”. A plateia entrou em choque, só se ouvia frases de espanto, alguns duvidando, outros admirando, mas todos de certa forma admirados.
“Estou até agora pensando como isso é possível, ele estava de costas para mim, vedado com um pano. Eu mesmo escolhi o livro e a palavra, não tem como ele decorar todos esses livros, a gente acaba acreditando que é algum tipo de magia”, relatou Chicão.
Foram diversos números com a participação de dezenas de pessoas ali presentes. Mas o “gran finale”, como foi anunciado no começo pelo mágico, ficou para a caixa misteriosa. Rafael, o Guardião da Noite, subiu ao palco com a chave na mão e abriu a caixa tirando de dentro dela cartazes contendo figuras e palavras descrevendo todas as adivinhações e temas escolhidos naquela noite.
Após o espetáculo, o público dialogou com o mágico em um descontraído bate papo, marcado mais por dezenas de elogios do que críticas e sugestões.
“Eu prefiro ser eu mesmo no palco, sou um mentalista, mas não atuo em minha apresentação, procuro ser verdadeiro, fanático por mágica de verdade. Tento me inserir em uma tradição milenar cultivada por grandes mágicos no mundo. Para mim a mágica não é teatro, e nela sou eu mesmo, um cara dramático”, descreveu Rick sobre sua própria personalidade.
Boca de Cena
A Mostra Sul-Mato-Grossense de Teatro Boca de Cena é realizada pela Secretaria de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação de Mato Grosso do Sul (Sectei), com organização e produção da Fundação de Cultura de MS e do Coletivo Setorial de Teatro de Campo Grande.
Ainda hoje (27) a programação segue com os espetáculos “Dedo Verde”, da Associação Florescer do Cerrado, direção de Lu Bigatão, às 14h no Teatro Aracy Balabanian, depois às 19h, no Teatro Grupo de Risco, com a peça “Os Guardiões”, do Teatral Grupo de Risco e às 20h30 no Aracy o espetáculo “O baixio dos Doidos”, do grupo Fulano de Tal.
“Boca de Cena” é realizada em comemoração ao Dia Internacional do Teatro e Dia Nacional do Circo, 27 de março, e traz para a população uma programação com peças teatrais representativas da recente produção teatral do Estado.
Todas as apresentações são gratuitas. Mais informações com Márcio Veiga, coordenador do Núcleo de Teatro da Fundação de Cultura de MS, pelos telefones (67) 3318-9170 ou (67) 9272-9770.