A mostra integra o acervo permanente do MIS e será itinerante levando a história das personalidades pelo interior do Estado. Cada imagem tem nela a força e a beleza dessas protagonistas captadas pelo olhar sensível e apurado de cada profissional
Campo Grande (MS) – Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, a Secretaria de Estado de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação (Sectei), em parceria com a Subsecretaria de Políticas Públicas para as Mulheres (Sedhast), realiza a exposição “Mulheres Protagonistas da Nossa História”, com fotografias e textos explicativos homenageando mulheres pioneiras que se destacaram ou ainda se destacam em várias áreas no Estado de Mato Grosso do Sul. A abertura acontece no dia 8 de março, às 19 horas, no Território Ocupado do Memorial da Cultura e da Cidadania, 1º andar.
A proposta do evento é homenagear essas mulheres e seu protagonismo na sociedade, mostrando as diversas facetas das suas atividades como coadjuvantes na construção do Estado. O projeto, além de caráter artístico, tem uma intenção educativa que ensinar sobre a história. Após 15 dias no Espaço Ocupado, a exposição vai percorrer diversos municípios do interior do Estado.
Idealizada pelo Museu da Imagem e do Som (MIS), esta é um forma de criar um acervo importante com fotografias de diversas percursoras e revolucionárias do MS, como por exemplo, Tia Eva, Helena Meirelles, Glauce Rocha e Conceição dos Burgres. Representantes pioneiras ainda vivas como a primeira médica a atuar no estado, a primeira cacique mulher de uma aldeia indígena e outras que se destacaram no âmbito da segurança pública, artes, ambientes sociais e econômicos também serão homenageadas.
As imagens que serão expostas foram capturadas pelas lentes das fotógrafas Vânia Jucá, Marycleide Vasques e Farid Fahed sob a curadoria de Elis Regina Nogueira. Já as imagens das personalidades que já não estão entre nós são do acervo do fotógrafo Roberto Higa. Cada imagem tem nela a força e a beleza dessas protagonistas captadas pelo olhar sensível e apurado de cada profissional.
Segundo a curadora, “Mulheres Protagonistas da Nossa História” é uma exposição que convida o espectador a ir além da fotografia. “Estas mulheres são pioneiras e corajosas, estavam e estão à frente do seu tempo. São protagonistas e não coadjuvantes na construção de nossa cidade, nosso estado. Cada imagem não será apenas uma imagem, mas a síntese de mulheres únicas com suas facetas reveladas”, revela Elis Regina.
Para o secretário Athayde Nery homenagear estas personalidades é quase uma obrigação, uma vez que todas elas tiveram ou ainda têm o papel fundamental na construção social e cultural da região. “Ontem, hoje, amanhã e sempre. Todas as vidas são marcadas do começo ao fim de sua existência pelas mulheres. Para nós é uma honra homenagear essas personalidades e quase uma obrigação lembrá-las, especialmente as que ainda vivem entre nós”, afirmou o secretário.
Ressaltando a importância das ações transversais entre as secretarias, a subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres, Luciana Azambuja comenta sobre a iniciativa. “Selecionar mulheres que se destacaram em diferentes segmentos da sociedade sul-mato-grossense é uma ação bastante louvável, pois valoriza e reconhece a importância da mulher nos diferentes espaços de poder e decisão, como a drª Neli, primeira médica do nosso estado, ou Olivia Enciso, educadora que foi a primeira deputada estadual da nossa história. Parcerias de ações transversais como essa são muito bem vindas nas políticas públicas para as mulheres e é o objetivo maior da subsecretaria”, contou Luciana.
Texto: Alexander Onça – Sectei
Fotos da atriz Glauce Rocha: Acervo MIS
Relação das homenageadas
Delinha
Grande dama da música do Mato Grosso do Sul. Delanira Pereira Gonçalves, a Delinha, foi a primeira mulher do Estado a gravar em estúdio na década de 50 em São Paulo. Possui uma discografia extensa e mais de 200 composições registradas em discos. Formou dupla com Délio por mais de 5 décadas. Com quase 80 anos, a “Lua” continua na ativa em carreira solo arrancando aplausos por onde passa.
Enir Bezerra Da Silva
Enir Bezerra da Silva foi a primeira cacique mulher de uma aldeia indígena de Mato Grosso do Sul – a Marçal de Souza, em Campo Grande, a primeira delimitada em uma área urbana. Mãe de 7 filhos e avó de 11, abraçou a missão de unir seu povo para reconstruir uma identidade, conquistar direitos e dignidade. Levou a luta indígena para o mundo em cursos e conferências.
Raimunda Luzia de Brito
Mulher e negra, essa sul-mato-grossense é assistente social, advogada, mestre em serviço social e doutora em ciências da educação. Há mais de 3 décadas milita no movimento negro. Foi Coordenadora Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial de Mato Grosso do Sul e integrante da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra.
É uma referência nacional na luta pela igualdade racial.
Ana Maria Gomes
Pesquisadora, doutora em sociologia e professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Ana Maria Gomes trabalha há mais de 30 anos com questões relacionadas aos direitos da mulher. Defende a mudança cultural como principal caminho para a igualdade entre os sexos.
Sandra Regina Alt
Primeira tenente-coronel da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul. É graduada em Segurança Pública pela Academia de Formação de Oficiais, advogada, e pós graduada em Gestão de Segurança e também em Gênero e Políticas Públicas. Foi coordenadora especial de políticas públicas para a mulher do Governo do Estado e também da assessoria de comunicação da Polícia Militar. Hoje é subdiretora da Policlínica da PM.
Maristela de Oliveira França
Gaúcha de nascimento, economista, mestra em Desenvolvimento Local. Iniciou no Sebrae/MS como estagiária em 1992 e exerce atualmente o cargo de Diretora Técnica . É a única mulher na diretoria da Instituição; protagonista na atenção aos núcleos de empreendedorismo feminino.
Cris Stefanny
Foi a primeira travesti a assumir um cargo no executivo. Nascida na Paraíba, é fundadora da Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul. Protagonista da luta pelos direitos LGBT no Estado, também se destaca nos movimentos sociais de luta pelos direitos humanos de outras minorias e no combate a homofobia. É uma referência nacional na luta contra o preconceito com as minorias.
Maria da Glória Sá Rosa
Cearense de nascimento, foi professora da UFMS, onde trabalhou durante 26 anos. Pesquisadora, escritora, ativista da cultura, esteve a frente de importantes projetos. Foi secretária-adjunta da Secretária de Desenvolvimento Social e Diretora Executiva da Fundação de Cultura. Ocupa uma cadeira na Academia Sul-mato-grossense de Letras. Referência para várias gerações, é querida e admirada pela classe artística do Estado.
Marisa Serrano
Professora de formação iniciou na vida pública em 1977. Foi vereadora, deputada federal, vice-prefeita e a primeira senadora da história de Mato Grosso do Sul. Atuante na área da educação, participou da redação final da Lei de Diretrizes e Bases da Educação e da elaboração Plano Nacional de Educação. Atualmente é conselheira do Tribunal de Contas do Estado.
Luiza Mitiko Matsusita
A ex-cabeleireira tem mais de 40 anos dedicados ao comércio da região central de Campo Grande. Começou em 1968 como vendedora ambulante e inaugurou a primeira loja na rua 14 de julho, em 1973, onde se mantém até hoje. Fez história no comércio varejista. É o exemplo da garra da mulher sul-mato-grossense.
Aparecida Gonçalves
Secretária-executiva de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) do Governo Federal, é incansável no desenvolvimento de ações de promoção de igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres. À frente do Programa Mulher Viver sem Violência, foi a responsável pela implantação em Campo Grande da Casa da Mulher Brasileira.
Jaceguara Dantas da Silva Passos
Procuradora de Justiça do Ministério Público Estadual de Mato Grosso do Sul, doutoranda em direito, tem um trabalho reconhecido pela atuação na construção de uma sociedade que valoriza a diversidade étnico-racial. Responsável pela implantação da primeira Promotoria de Direitos Humanos do MPE/MS. Foi uma das sócio-fundadoras do grupo TEZ – Trabalho Estudos Zumbi, primeira entidade do grupo negro do Estado de Mato Grosso do Sul.
Antonia Maria dos Santos Costa
Militante dos direitos humanos e do Movimento de Mulheres Camponesas e ativista da luta de mulheres do campo. É graduada em geografia com pós-graduação em Educação do Campo e foi professora da Rede Estadual. Hoje integra a coordenação Nacional e formação política do Movimento de Mulheres Camponesas- MMC/Brasil.
Joelma Lúcia Damasceno Fachini
Pastora Conferencista, incansável na luta pelas crianças e adolescentes. É presidente da Casa da Criança Peniel, uma organização cristã, não governamental que atua há mais de 20 anos em prol dos direitos de menores afastados do convívio familiar. Foi Conselheira Estadual da criança e do adolescente.
Neyla Ferreira Mendes
Defensora Pública, militante de direitos humanos, especialmente nas áreas indígena, da mulher e LGBT. Organizou e coordenou o primeiro casamento coletivo homoafetivo do Estado. É presidente do Conselho Estadual dos direitos da pessoa humana em Mato Grosso do Sul e integra o Comitê estadual de enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Conceição Buainain
Fundadora da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Mato Grosso do Sul, esteve à frente da entidade por mais de 30 anos. Seu nome é sinônimo de luta incansável pela prevenção, combate e, principalmente, apoio aos pacientes em tratamento de câncer.
Irmã Sílvia
Diretora-presidente do hospital São Julião, referência no tratamento da hanseníase na América Latina. Atua há 50 anos numa grande rede de solidariedade e luta contra o preconceito que envolve a doença. Seu nome é sinônimo de humanidade e atendimento aos necessitados.
Beatriz de Almeida
Carioca de nascimento, essa bailarina tem a determinação e a coragem como marca registrada. Foi bailarina do Teatro Municipal e solista do Stuttgart Ballet da Alemanha, uma das mais importantes companhias do mundo. Voltou ao Brasil em 1998 onde mantém o Estúdio de dança Beatriz de Almeida. Despediu-se do palco em 2008 e, desde então, atua como coreógrafa.
Conceição Leite
Atriz, diretora, contadora de história, professora. Aliou o teatro à pedagogia e conquistou crianças, adolescentes e adultos para esse mundo mágico. Fez do grupo Curumins seu projeto de vida unindo 5 grandes paixões – educar, divertir, atuar, dirigir e sensibilizar. Desde então se dedica a temáticas diversas, utilizando o teatro, como ferramenta de transformação e conscientização social.
Carla Moretti
Major do Quadro de Oficiais do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul e Subdiretora de Ensino, Instrução, Pesquisa e Educação da corporação, onde ingressou através do primeiro concurso público que admitiu mulheres, em 1999. Além da formação Superior do Curso de Formação de Oficiais, é formada em Direto e Pós Graduada em Gestão de Segurança Pública. É a oficial mais antiga da Corporação no Estado.
Zenóbia da Silva Pedrosa
Advogada, delegada de polícia, pioneira no trabalho de combate a violência contra a mulher em Mato Grosso do Sul. Responsável pela implantação da primeira delegacia da mulher do Estado. Foi Superintendente da Diretoria Geral de administração do Sistema Penitenciário e Secretaria de Estado de Trabalho, Assistência Social e Economia Criativa.
Cristina Mato Grosso
Atriz, dramaturga e diretora teatral. Graduada em Letras, doutora em Teoria e Prática Teatral. À frente do grupo GUTAC (Grupo Teatral Amador Campo-grandense) trouxe o teatro de resistência para Mato Grosso do Sul e revelou a cultura do estado ao Brasil. Autora de textos que retratam problemas de ordem social é considerada a “Dama do teatro sul-mato-grossense”.
Idara Negreiros Duncan
Carioca de nascimento, é formada em Letras e pós graduada em Língua Portuguesa. Foi professora universitária e teve destacada atuação na área pública como presidente da Fundação de Cultura de MS e secretária de Estado de Cultura e Esportes. Incentivadora e idealizadora de importantes projetos na área cultural como a criação do Museu da Imagem e do Som (MIS) e a Lei Estadual de Incentivos Fiscais à Cultura. É um dos ícones do movimento cultural de Mato Grosso do Sul.
Oliva Enciso
Educadora, foi a primeira vereadora de Campo Grande e a primeira deputada estadual da nossa história. Como legisladora e profissional lutou incessantemente pela educação profissional e ajudou a fundar, em 1967, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). Historiadora, poetisa, foi também fundadora e a primeira titular da cadeira 22 da Academia sul-mato-grossense de letras. Educou e fez história.
Nilda Coelho
A eterna primeira dama de Campo Grande era conhecida como uma verdadeira “mãezona”. Trabalhou arduamente pelos mais carentes durante os mandatos do marido à frente da administração municipal. Se na política a participação era discreta, na área social arregaçou as mangas e fez crescer creches nos recantos mais pobres da Capital.
Conceição dos Bugres
Gaúcha de nascimento, criou na década de 70 um dos maiores ícones da cultura sul-mato-grossense – os bugrinhos, talhados em madeira . É considerada a principal escultora do Estado com reconhecimento internacional. Levou uma vida modesta e depois de sua morte, em 1984, seu trabalho continuou sendo realizado pelo marido, depois pelo filho e pelo neto.
Tia Eva
Benzedeira, rezadeira e, muitos acreditam, milagreira, a ex-escrava veio em uma comitiva em 1905 para estas bandas. Tinha 45 anos e três filhas. Em 1910 decide pagar a promessa a São Benedito e constrói uma capela em agradecimento ao santo. Está enterrada dentro desta pequena igreja, a mais antiga da cidade. Deixou 2 mil descendentes espalhados pelas comunidades negras do Estado.
Maria Constança Barros Machado
Professora, chegou a Campo Grande ainda moça, vinda de Cuiabá. Enérgica, prezava pela disciplina e progresso dos alunos. Em 1954 foi a responsável pela implantação do ensino noturno em Campo Grande. Dedicou-se, depois de aposentada, às obras sociais. Dá nome a um dos mais importantes colégios do Estado – o Maria Constança Barros Machado, na região central da Capital.
Helena Meirelles
Violeira, cantora e compositora brasileira, reconhecida mundialmente. Cresceu rodeada de peões, comitivas e violeiros. Aprendeu a tocar escondida da família. Ganhou reconhecimento mundial depois de uma matéria na imprensa internacional. Apresentou-se em um teatro pela primeira vez aos 67 anos e foi escolhida em 1993 como uma das “100 mais” por sua atuação nas violas de 6, 8, 10 e 12 cordas. Sua música é reconhecida como expressão das raízes e da cultura da região.
Glauce Rocha
Atriz. Musa dos anos 60 por seu estilo e personagens que interpretava no teatro, no cinema e na televisão. Foi uma das primeiras a lutar pelo reconhecimento da profissão e enfrentou a ditadura do regime militar. Sua forte consistência intelectual, levou-a desenvolver a direção, a produção, a dramaturgia e a crítica em sua vida artística. Foi uma das mais importantes atrizes brasileiras.
Alisolete Antônia dos Santos Weingartner
Uma das mais importantes defensoras do patrimônio histórico, urbanístico e paisagístico de Campo Grande/MS.
Professora em sala de aula por mais de 50 anos, lecionou da alfabetização até o doutorado.
Atuou por 27 anos como Chefe de Departamento de História da Universidade Católica Dom Bosco onde fundou a Associação Nacional de História – núcleo de Mato Grosso do Sul, promovendo importantes encontros nacionais e internacionais.
Publicou livros e artigos com temas como o Movimento Divisionista e a luta dos trabalhadores pelos direitos sociais.
Neli Figueiredo
Nascida em 18 de fevereiro de 1924, foi a primeira médica a atuar em todo o Estado do antigo Mato Grosso, atendendo em Cuiabá, Bela Vista e também São Paulo por quase 50 anos.
Em uma época onde a medicina era consagrada apenas por homens, Neli superou os obstáculos e com pouco recurso se formou médica especializada em fisiologia. Mas, como só havia médicos homens em meados dos anos 50 e 60, a notícia de uma mulher na medicina logo se espalhou pelo estado, e a doutora passou a ser preferência de gestantes e mulheres que sentiam a necessidade da presença feminina no atendimento.
Raquel Naveira
Reconhecida como uma das maiores e mais sensíveis vozes poéticas do Centro-Oeste, autora de 18 livros de poesia e ensaios, Raquel Naveira é profunda conhecedora das obras de Manoel de Barros. Sua obra tem enorme fortuna crítica, sendo reconhecida e apreciada por escritores de todo o país.
Natural de Campo Grande, formou-se em Direito e Letras pela FUCMT, atual Universidade Católica Dom Bosco. Atualmente pertence à Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e ao Pen Clube do Brasil.