Campo Grande (MS) – Na manhã desta terça-feira (18) aconteceu a segunda parte da Oficina de Gestão Cultural e Elaboração de Projetos Culturais, na sala da Assessoria de Projetos da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. A oficina faz parte da Semana Pra Dança 2015, e é ministrada por André Fonseca, consultor e pesquisador independente em gestão cultural, de São Paulo. André trabalha desde 1997 na área cultural e em 2008 abriu a Projecta, empresa que dirige e na qual trabalha como consultor com agentes culturais. É a primeira vez que está em Mato Grosso do Sul, a convite do Governo do Estado por meio da Secretaria de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação (Sectei).
André iniciou os trabalhos falando sobre a estruturação dos projetos culturais. “Tem muita ideia boa, com projetos ruins, sem consistência, mal escritos. É o que tenho visto na maioria dos projetos que eu analiso”. O consultor tem experiência como membro em Comissão de Editais, como o da Fundação Cultural Caciano Ricardo, em São José dos Campos, em 2015, e o edital do Ministério da Cultura (Minc), em 2013.
Ao falar sobre as análises de viabilidade e contexto do projetos, ele lança a pergunta: “Qual o ponto de partida de vocês para desenvolver um projeto?”
Marcos Mattos, da Cia Dançurbana, responde: “da necessidade do contexto, do cenário. A ideia tem que comunicar, temos que transformar a ideia em projeto que buscamos viabilizar, pensar no contexto, em como fazer, adequando a ideia com os cenários que vão aparecendo”.
O ministrante explica que escrever um projeto demanda tempo, análise para ver se vale a pena empreender o esforço. “Enquanto o proponente está escrevendo o projeto ele vai analisando a viabilidade”.
Ao fazer a análise de viabilidade, com um projeto básico, é necessário avaliar se há um cenário favorável para a realização e quais os riscos. “O cenário te favorece ou é um obstáculo? Há como minimizar os riscos? É preciso considerar as variáveis sobre as quais não se tem controle, desde questões estruturais, como temperatura, ar livre, até imprevistos com artistas, mudanças de diretoria, alvarás, licenças, direitos autorais, para evitar problemas”, explica André.
A gerente de Desenvolvimento e Difusão de Programas Culturais da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Soraia Ferreira, deu o exemplo de uma das edições do Festival América do Sul, em que o grupo Skank estava escalado para fazer show. “Aconteceu um imprevisto, o pai do Samuel Rosa, o vocalista, morreu, daí acionamos o Lulu Santos, que prontamente nos atendeu e fez o show”.
O ministrante citou o caso do Festival de Música Eletrônica no Ibirapuera, em São Paulo, no fim dos anos 1990, em que desabou a estrutura do palco. “Naquela época não existiam redes sociais como hoje, a facilidade de comunicação que temos. O público não foi avisado, compareceram ao evento e chegando lá, não teve o festival”.
O elaborar um projeto cultural é necessário verificar que a equipe tem a experiência necessária. “Tem que provar a capacidade de execução dos proponentes no projeto. Ao lidar com grupos ou proponentes não conhecidos, é aconselhável ter um nome conhecido, com mais experiência, mais antigo, na equipe, para alavancar o projeto”.
Também é preciso avaliar se há tempo hábil para a execução, para buscar parcerias, meios de funcionamento, se há possibilidades de financiamento. “A maioria dos projetos não anda sem um mínimo de funcionamento. Encontrar fontes de financiamento demanda tempo e conhecimento”, afirma André. Durante a elaboração do projeto básico, prévio, precisa ser estabelecido quem poderá captar os recursos e se existe verba para cobrir os custos da fase de desenvolvimento do projeto e captação.
Para se elaborar um projeto deve-se fazer a análise do contexto, que fornece argumentação e sustentação para o projeto, amplia as possibilidades de se atingir o objetivo e quebra a imagem do projeto improvisado. Foram apresentados os seguintes tipos de análise de contexto: territorial/entorno (avaliar riscos, infraestrutura adequada, vizinhança, espaço, que tipo de comunicação funciona em cada cidade); setorial/de mercado (políticas públicas, espaços de atuação, públicos, comunicação, projetos similares/concorrentes – a conjuntura de políticas públicas pode facilitar o que se pretende fazer ou não); antecedentes (projetos anteriores – olhar para trás e ver o que funcionou e o que não funcionou); interna (proponente/equipe).
As ferramentas de análise de contexto são objetivas (informações, pesquisas, estatísticas, documentos, estudos, mapeamentos, antecedentes) e subjetivas (opiniões de profissionais da área, observações pessoais, entrevistas, estudos de casos). Um diagnóstico da análise de contexto sintetiza e relaciona as análises realizadas, ajuda a identificar quais devem ser as mudanças de rota e onde poderão ocorrer problemas.
Durante a oficina, os participantes puderam observar como se dá a estruturação de um projeto, iniciando pelos objetivos: o que o projeto irá realizar e o que pretende alcançar (expectativas que se pretendem atingir por meio das atividades desenvolvidas). André dá algumas dias: “Não se deve confundir objetivos do projeto com objetivos do proponente; usar verbos de ação; evitar objetivos que não possam ser avaliados; evitar objetivos muito amplos, ou que possam gerar diferentes interpretações;; podem ou não ser divididos em geral e específicos (ou principal e secundários); objetivos demais podem indicar falta de foco”.
O bailarino Marcos Mattos pergunta que tipo de ações são mais eficazes para a formação de público “ou adoção de público, como diz o ator Cacá Carvalho”. O consultor independente explica que essas ações podem acontecer de diferentes modos. “Depende de cada contexto. Tem gente que acha que bate-papo depois do espetáculo é uma delas. A ação de formação de público implica em continuidade. De fato, uma ação só não resolve. Entrada franca é ação de formação de público? Talvez não seja uma ação consistente, mas é aceita como uma”, explica.
Os trabalhos continuam com exposições sobre a justificativa de um projeto, que são as razões de este existir ou estar sendo proposto, o que fundamenta o projeto. “A justificativa é do projeto, não do proponente; pode variar conforme o interlocutor (quem vai ler o projeto); deve evitar autoelogios e discursos panfletários/ideológicos/didáticos”, expõe o diretor da Projecta.
O tópico seguinte a ser abordado em um projeto é a estrutura, que trata do conteúdo do projeto, quais as atividades e ações desenvolvidas. Depois vem o público-alvo: a quem o projeto é destinado e qual o perfil de público. “Não existe projeto que possa atingir qualquer perfil de público. Perfil envolve algumas informações sobre os hábitos e comportamentos. É possível estimar o público direto e o indireto em determinados projetos”, explica o instrutor.
As datas e locais de realização devem estar incluídas em um projeto cultural. É preciso prever o tempo necessário para a captação de recursos; identificar períodos que podem ajudar o projeto a ter mais viabilidade ou atingir mais facilmente o público desejado; identificar locais que sejam frequentados pelo público desejado; verificar as condições e infraestrutura dos locais; checar se haverá necessidade de alvarás, liberações e/ou pagamentos de taxas.
O último tópico abordado pela manhã foi o Plano de Comunicação, que estabelece os meios e veículos da mídia que serão utilizados para divulgar o projeto e as estratégias de comunicação, que precisam estar fundamentadas. Se houver utilização de mídia, deve-se descrever os veículos, os formatos de anúncio e a cobertura.
A oficina continua no período da tarde, em que será abordada a inscrição de projetos em editais de financiamento à cultura: identificação da adequação (ou não) do perfil do projeto ao perfil do edital. Mais informações no Núcleo de Dança da FCMS pelo telefone (67) 3316-9169.