As argilas retiradas das margens do rio Paraguai e os retalhos de tijolos doados pela olaria da Cerâmica Bela Vista são colocados de molho em caixas d’água para depois serem triturados e peneirados. Estas duas matérias-primas sovadas, como no preparo de uma massa de pão, dão consistência às futuras obras de artesanato idealizadas e manipuladas pelos oito artesãos associados que levam em frente o trabalho desenvolvido pela Casa Massa Barro de Corumbá, uma das instituições parceiras do 12º Festival América do Sul Pantanal. Com a oficina de escultura em argila, ministrada pelo associado Enilson de Campos, o espaço cultural e turístico da Cidade Branca divulga o artesanato local e propicia que os talentos potenciais que transitam pelo festival, adquiram os conhecimentos básicos para modelar suas primeiras peças, experimentando assim a satisfação de um trabalho minucioso de observação, que exige uma dose extra de paciência.
“Cada um de nós faz a sua produção dentro de uma ética que combinamos. Se um já executou uma quantidade suficiente de uma Nossa Senhora do Pantanal, por exemplo, o outro não produzirá mais para fazer concorrência”, explicou Enilson. Na casa, os visitantes encontram peças de tuiuiús, garças, papagaios, araras, tucanos, jacarés e até navios da marinha mercante e personagens militares e religiosos como o São Francisco.
Depois de modeladas, as peças são guardadas para secarem naturalmente e depois são queimadas em um forno a 800 graus. Só depois são pintadas e colocadas a venda. “Procuramos atender encomendas e entregar dentro do prazo. Gostamos de cumprir nossa palavra”, destacou o mestre artesão. Esta responsabilidade, segundo ele, vem de pessoas que trabalham exclusivamente na produção deste artesanato. São artistas “sobreviventes”, que deixam outras opções de trabalho para fazer o que realmente lhes proporciona satisfação. Mandamos peças para Brasília, Campo Grande e Bonito.
A Casa Massa Barro existe há 33 anos e funciona de forma independente. Um entusiasta da iniciativa cedeu o espaço da sede da instituição e o trabalho não possui apoio de nenhuma empresa. Apenas 20% do valor da peça é deixada para investimento no empreendimento cultural. O número de artesãos é reduzido e só adultos podem aprender o ofício. “Isso porque as obras que porventura são feitas por crianças em cursos, não podem ser vendidas, pois esta prática é configurada como exploração de trabalho infantil. Só que para não perdermos a finalidade do projeto e incentivarmos nosso ofício, em datas especiais ministramos cursos para as crianças em algumas escolas e instituições. Mas isso não é frequente”, contou Enilson. Os associados atualmente estão reelaborando seu estatuto para conseguirem recursos municipais, estaduais e municipais de incentivo à cultura.
Gisele Colombo – Fundação de Cultura