Corumbá (MS) – O Quebra-torto com Letras reuniu um time de escritores e poetas de primeira grandeza em um grande momento para a literatura, na manhã desta sexta-feira, na sede do Instituto Moinho Cultural Sul-Americano, no segundo dia do Festival América do Sul Pantanal. E dessa vez com um enfoque mais intenso na literatura regional.
Poeta corumbaense com participação em 50 coletâneas no Brasil e no exterior, ativista cultural, Benedito C.G.Lima abriu o evento recitando um de seus poemas preferidos, “Quem disse que sou poeta?”. No primeiro verso, ele diz: “Quem disse que sou poeta/Deve ser que se enganou!/Poeta, é aquele que ouve as estrelas;/Que conversa com as pedras;/Que esgarça as frases nas asas da garça;/Que Urucumeia o céu do Pantanal/Na escrita crepuscular do poente!”
Trata-se de um poema com forte influência de Manoel de Barros, como se observa no estilo e na temática de outros poetas regionais. Fundador da Academia Corumbaense de Letras e a Academia de Literatura e Estudos de Corumbá (ALEC), Benedito resumiu a sua trajetória, desde os tempos como aluno da Escola Estadual Maria Leite, depois como professor de História, compositor nos Festivais da Canção de Corumbá e agora como coordenador de coletâneas de poetas corumbaenses – a mais recente delas, “Florilégio da Esperança”.
É comum Benedito reencontrar antigos alunos, agora já formados, que o param para agradecer os conselhos e ensinamentos. E no Quebra-torto com Letras não foi diferente: Ana Lúcia de Oliveira Francellino Galvão, de 30 anos, sua ex-aluna na Escola Rotary Club, levou um abraço ao mestre. “Se hoje sou professora de História devo muito a ele, que me inspirou”, contou Ana Maria.
Jornalista, produtora cultural e mestre em Estudos Fronteiriços pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Lívia Gaetner estreou na mesa de debates como escritora e poeta. E apresentou um de seus poemas, inspirado em uma de seus passeios pelo Jardim Independência, área verde moldurada pelo coreto e antigas estatuetas, no coração de Corumbá.
Diz o poema: “O velho coreto alemão sonda minha solidão/Encurvada num banco de concreto,/Na manhã da praça quando tudo por ela passa,/Traçando um rastro no meu reduzido horizonte que, outrora foi amplidão:/Senhoras pardas com enormes bolsas,/Jovens e seus apressados sonhos./Ouço vendedor de picolé anunciando novos sabores,/Homem nervoso ao falar no celular;/Doidos perdidos em tiques e solilóquios;/O antigo balanço rangendo no parque;/E lá vem curioso o cão a passear encoleirado;/Crianças uniformizadas rumo à escola;/Rodas de bicicleta em sincronia;/Garis e vassouras recolhendo o que sobrou da madrugada,/Talvez o papel de bala fosse de beijo de namorados;/Eis que vem chegando um senhor, dois, três, …/Para formar a mesa de dominó/E eu seguindo ali/Como estátua de herói da Guerra do Paraguai/Observando, apenas observando…
O escritor corumbaense Henrique de Medeiros, publicitário e jornalista, presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, revisitou suas principais obras “O Azul Invisível do Mês que Vem”, “Pirâmide de Palavras” e “Que as Dores se Transformem em Cores”.
A Bruxa da Sapolândia
Outro destaque foi o escritor campo-grandense André Alvez, diretor regional da União Brasileira de Escritores, que leu alguns trechos do romance recém-lançado pela Editora Chiado, “A Bruxa da Sapolândia”, baseado em fatos reais. “Nos anos 60, havia no antigo bairro da Sapolândia, em Campo Grande, uma mulher conhecida como bruxa que fazia trabalhos malignos, que matava crianças, que acabou sendo presa durante dois anos e foi inocentada”, contou Alvez. “Me baseei no processo contra ela para fazer a pesquisa”.
André Alvez contou que busca inspiração em três grandes autores que escrevem dentro do estilo do “realismo fantástico” que tanto aprecia: Gabriel Garcia Marquez nos romances, Júlio Cortázar nos contos e Rubem Braga nas crônicas.
O poeta e jornalista paraguaio Mário Rubén Alvarez relatou que costuma escrever seus livros em guarani e espanhol, buscando diversificar a linguagem e atingir um público maior. Como pesquisador de arte popular publicou a coletânea “Las Voces de La Memoria” e o livro “Folklore Paraguayo”.
A mediação do Quebra-torto com Letras foi de Edson Silva, doutor em Comunicação e Jornalismo pela Universidade Autônoma de Barcelona, Espanha, e professor no curso de jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e da doutora em sociolinguística e colunista Rosângela Villa, autora e organizadora de livros e da coluna semanal Coisas da Língua no jornal Diário Corumbaense.
Na plateia, muitos estudantes, que no final puderam saborear o quebra-torto, prático típico da comitiva pantaneira – arroz de carreteiro, feijão gordo, paçoca, mandioca – produzido pela equipe culinária do Moinho Cultural.
Assessoria de Comunicação FASP