Mundialmente reconhecido por sua trajetória múltipla no Teatro de Animação, Grupo teatral paulistano apresenta espetáculos, debates e oficina na cidade
Destaque na pesquisa de linguagem do teatro de animação, criador e diretor de grandes festivais e ponto de referência nesta arte, dentro e fora do Brasil, o Grupo Sobrevento – fundado no Rio e radicado em São Paulo – comemora 30 anos de trabalho apresentando seus dois espetáculos mais recentes, para adultos, no Marco – Museu de Arte Contemporânea. Sala de Estar será apresentado no dia 26 de abril, enquanto o espetáculo Só tem lugar nos dias 27 e 28 de abril. As apresentações acontecem às 19h e os ingressos podem ser trocados até uma hora antes, por 1 litro de leite + 1 quilo de alimento não perecível, que serão doados a entidades filantrópicas. O Museu de Arte Contemporânea fica na Rua Antônio Maria Coelho, 6000, Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande. O telefone é (67) 3326-7449.
A história do Sobrevento mistura-se à do Teatro em Mato Grosso do Sul, pelo estreito laço que o Grupo mantém com quase todos os nomes de maior destaque do panorama das Artes Cênicas no Estado, onde tem realizado espetáculos, oficinas e festivais há cerca de 25 anos e onde tem realizado intercâmbios e colaborações artísticas com diferentes espetáculos. Luiz André Cherubini, um dos fundadores da companhia dirigiu o espetáculo Crianceiras, de Márcio de Camilo e Manuel de Barros, e foi curador do Festival SESI Bonecos. Sandra Vargas é a curadora do FITO, Festival Internacional de Teatro de Objetos, que também teve lugar em Campo Grande. O Grupo tem trazido quase todos os seus espetáculos a MS, valendo-se de prêmios e verbas privadas e federais para a Cultura, em busca de promover a multiplicação e o desenvolvimento do Teatro no estado. O Grupo também se apresentou em Ponta Porã, Corumbá, Dourados e Bonito.
Nos dias 27 e 28 de abril, das 14h às 17h, o SOBREVENTO coordena oficina de Introdução ao Teatro de Objetos. A atividade é gratuita e as inscrições podem ser feitas em www.sobrevento.com.br. Este projeto foi contemplado com o PRÊMIO FUNARTE DE TEATRO MYRIAM MUNIZ/2015.
SALA DE ESTAR
A fragilidade humana: este foi o ponto de partida da pesquisa empreendida pelo GRUPO SOBREVENTO para a criação do espetáculo SALA DE ESTAR. Este é um espetáculo itinerante e lembra uma instalação plástica, onde os espectadores devem se aproximar de cada cena, como para ver um quadro, o que garante à montagem um clima de intimidade e proximidade.
O espetáculo é dividido em seis estações cênicas, onde são desenvolvidas histórias cujo estopim partiu de um segredo, de uma confissão de cada ator. Cada intérprete, ainda na fase da pesquisa, foi instado a confessar um segredo (não necessariamente ou totalmente verdadeiro), algo que, emocionalmente, fizesse diferença na trajetória de vida deles. Brotou, nesse momento, junto com o tom confessional, a fragilidade do ser humano.
A partir da ótica de cada um dos atores, são compartilhados com o público, com delicadeza e singeleza, as lembranças e segredos – nem sempre verdadeiros – adormecidos em suas memórias. Para o desenvolvimento da ideia, os atores se valem de objetos – gaveteiros, escrivaninhas, sofás, chapeleiros, bloquinhos, cartas – para, junto com a dramaturgia, dar corpo e voz à fragilidade de cada um dos personagens.
DRAMATURGIA E CONCEPÇÃO DA MONTAGEM
Para criar SALA DE ESTAR, o SOBREVENTO explorou a linguagem do Teatro de Objetos, cruzando-a com o tema fragilidade. Na primeira fase, o grupo investigou as possibilidades da construção de uma dramaturgia intimista e delicada a partir de depoimentos pessoais dos atores, em improvisações baseadas nas suas relações com os objetos. Nasceu, desse processo confessional, a dramaturgia do espetáculo, que resultou em seis cenas, que transitam entre a verdade e a mentira, a confissão e a ilusão, cada uma delas feita por um ator. A encenação apresenta recortes de salas de estar de diferentes pessoas, de diferentes épocas.
O iluminador Renato Machado e o figurinista João Pimenta, artistas premiados e de grande destaque em suas áreas, ficaram responsáveis pela ambientação das cenas e ajudaram a criar módulos de grande impacto visual, onde atores e objetos se fundem aos ambientes nos quais estão encerrados, nos quais se incrustaram, por suas histórias.
SÓ
Cinco personagens transformam objetos como baldes, cadeiras em miniatura, pequenos aviões e muito mais em elementos poéticos e metafóricos. “Os cinco personagens, mais que cinco vidas, são cinco caminhos que terminam por encontrar-se, nas suas solidões”, define o autor e diretor Luiz André Cherubini.
Esta é a primeira apresentação de Só fora da cidade de São Paulo, registre-se. A seguir, o espetáculo entra em cartaz no Rio de Janeiro.
Só é fruto de um intercâmbio internacional com duas referências mundiais do Teatro de Objetos: a artista belga Agnés Limbos, diretora da Companhia Gare Central, um dos nomes mais importantes do Teatro de Objetos no mundo, e Antonio Catalano, um dos maiores atores da Itália, artista plástico premiado na Bienal de Veneza e fundador da Casa Degli Alfieri. O músico brasileiro Arrigo Barnabé, autor da trilha sonora original, soma-se à equipe oferecendo texturas no mínimo diferenciadas, enquanto a iluminação cabe ao premiado Renato Machado, colaborador e integrante do Sobrevento desde sua fundação.
Só estreou em julho de 2015, no Itaú Cultural, na cidade de São Paulo, e ficou em cartaz no Espaço Sobrevento, até setembro. Além de críticas elogiosas, o espetáculo recebeu indicação ao Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), como Melhor Espetáculo, e indicações ao Prêmio Aplauso Brasil, como Melhor Espetáculo e Melhor Trilha Sonora Original.
A pesquisa partiu do livro “O Desaparecido ou Amerika”, romance inacabado de Franz Kafka, escrito entre 1912 e 1914. Trata das desventuras de um rapaz alemão expulso de casa pelos pais, depois de ter engravidado a empregada. No entanto, o Sobrevento percebeu que as palavras não davam conta da narrativa e por isto não tentou encenar o texto de Kafka, mas a partir dele iluminar e desenvolver a questão da desumanização nas grandes cidades e no mundo moderno. “Embora as palavras de Kafka não estejam em cena, a atmosfera de sua obra terminou por impregnar o espetáculo. E para criar esta realidade particular, o Sobrevento uniu-se a artistas reconhecidos pelo desejo de criar novos mundos”, explica Sandra Vargas.
Levando à cena abordagens sobre o desajuste, a necessidade de se relacionar que parece cada vez mais árdua num mundo cada vez mais populoso, cada vez mais conectado e menos humano, Só tem na trilha sonora do compositor Arrigo Barnabé – de quase duas horas – a partitura que quebra o silêncio e a ausência de diálogos. O figurinista João Pimenta, colaborador do Sobrevento desde 2013, criou figurinos impactantes. Mais que cobrir as personagens, propôs revelá-las por meio de elementos que utilizou na confecção das roupas.
Atmosfera onírica
Só é uma encenação envolvente, com uma atmosfera onírica construída a partir de imagens soltas, efeito obtido graças à pouca distância entre o espectador e a cena e à primorosa iluminação de Renato Machado. Com ela, os detalhes ganharam força. Não há uma sequência cronológica a orientar a narrativa. A luz propicia também a troca de cenários, sem o previsível black out, e o efeito de mixagem visual de algumas cenas: com uma cena ainda iluminada, outra começa a se insinuar, transferindo o foco de atenção do espectador e propondo novos significados. Um cenário vai dando lugar a outro e o espaço vai se transformando no decorrer da apresentação, mas cada cena deixa um “rastro”: um objeto que fica, suspenso ou abandonado pelo chão, para compor uma instalação final, que pode ser visitada pelo espectador como uma exposição, um “museu da solidão”.
Com a colaboração de artistas de peso, o Sobrevento pôde chegar a um espetáculo maduro, digno de comemorar uma trajetória ininterrupta de 30 anos de trabalho, dedicado à pesquisa do Teatro de Animação para adultos. Só traz um novo olhar para o Teatro de Objetos.
TEATRO DE ANIMAÇÃO MODERNO PARA ADULTOS
O Teatro de Animação moderno é uma ampliação dos limites que o senso comum estabeleceu, preconceituosa e equivocadamente, para o Teatro de Bonecos. Espalhado por todas as épocas e por todos os lugares do mundo, o Teatro de Animação funde linguagens cênicas, mistura modernidade e tradição, mistura erudição e popularidade, tem como palco qualquer espaço e tem como alvo públicos de todas as idades e grupos sociais, um de cada vez ou todos de uma só vez. Em São Paulo, no entanto, vemos poucos espetáculos que exploram a linguagem do Teatro de Animação para adultos, por sua inviabilidade econômica, o que, muitas vezes, não acontece quando o Teatro de Animação se dirige ao público infantil. O SOBREVENTO é um dos poucos Grupos de Teatro de Animação do Brasil que se têm dedicado ao público adulto e, sempre, com grande profundidade e êxito. O Grupo tem lutado por difundir a ideia de que o Teatro de Bonecos deve ser antes Teatro e depois de Bonecos e que toda técnica deve estar a serviço daquilo que se quer dizer. Dominando um grande número de técnicas de animação, o Grupo montou, entre outros, os espetáculos SUBMUNDO, UBU!, O THEATRO DE BRINQUEDO, BECKETT, O CABARÉ DOS QUASE-VIVOS, QUASE NADA, ORLANDO FURIOSO, SÃO MANUEL BUENO MÁRTIR, SALA DE ESTAR, EU TENHO UMA HISTÓRIA e SÓ, apresentados em quase todos os estados do Brasil e em países de quatro continentes.
SOBREVENTO CELEBRA 30 ANOS
Em 2016, o SOBREVENTO festeja os seus 30 anos. Desde 1986, o grupo tem se dedicado à pesquisa da linguagem teatral e é considerado, internacionalmente, um dos maiores expoentes brasileiros do Teatro de Animação. Desenvolve um trabalho contínuo que envolve a apresentação de seu repertório, realização e curadoria de Festivais e eventos, além de diferentes atividades de formação e difusão do Teatro de Bonecos.
Há seis anos, o SOBREVENTO vem pesquisando o Teatro de Objetos. Explorou a linguagem, sob diferentes abordagens, em cinco montagens. Foi responsável por trazer ao Brasil os seus principais representantes. Responde pela curadoria do FITO – Festival Internacional de Teatro de Objetos, realizado em várias capitais brasileiras. Tem dado assessoria técnica em montagens de outras companhias interessadas nesta pesquisa, por todo o Brasil. É um dos maiores especialistas brasileiros nesta linguagem e um dos poucos grupos no país que direcionam sua pesquisa ao público adulto.
O Teatro de Objetos que interessa ao SOBREVENTO e que ele vem pesquisando profundamente é pouquíssimo difundido e conhecido no Brasil e na América Latina. As oficinas coordenadas ou promovidas pelo SOBREVENTO têm atraído artistas e pesquisadores de algumas das principais companhias e instituições de ensino de todo o país e de países vizinhos. Para todas as atividades, há um número muito maior de inscritos que o número de vagas oferecidas.
O SOBREVENTO acredita que esse enorme – e crescente – interesse esteja ligado à abordagem que vem fazendo do Teatro de Objetos e às novas possibilidades expressivas que têm derivado desse processo. Uma forma teatral cuja força não está na manipulação, mas na memória que suscita, que é aquilo a que o objeto remete de mais poético, profundo e simbólico, para o ator e para o espectador. O Teatro de Objetos desafia o ator a ser também dramaturgo. Isso abre um leque enorme de possibilidades dramatúrgicas, que podem renovar o Teatro de Animação para adultos. E, quem sabe, o próprio Teatro ou o modo como o público o entende e o vê.
SERVIÇO:
Espetáculo “SALA DE ESTAR”
Dia 26 de abril, às 19h.
Ingressos disponíveis uma hora antes, no local. Cada ingresso pode ser trocado por 1 litro de leite + 1 quilo de alimento não perecível, que serão doados a entidades filantrópicas. Lotação: 90 lugares.
Museu de Arte Contemporânea – Rua Antônio Maria Coelho, 6000, Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande. Telefone: (67) 3326-7449.
Espetáculo não recomendado para menores de 16 anos.
Espetáculo “SÓ”
Dias 27 e 28 de abril, às 19h.
Ingressos disponíveis uma hora antes, no local. Cada ingresso pode ser trocado por 1 litro de leite + 1 quilo de alimento não perecível, que serão doados a entidades filantrópicas. Lotação: 100 lugares.
Museu de Arte Contemporânea – Rua Antônio Maria Coelho, 6000, Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande. Telefone: (67) 3326-7449.
Espetáculo não recomendado para menores de 16 anos.
Oficina INTRODUÇÃO AO TEATRO DE OBJETOS, com Sandra Vargas
Dias 27 e 28 de abril, das 14h às 17h.
Museu de Arte Contemporânea – Rua Antônio Maria Coelho, 6000, Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande. Telefone: (67) 3326-7449.
ENTRADA FRANCA – Inscrições em http://sobrevento.com.br
Ou pelo link www.sobrevento.com.br/oficinamy2015.php