Publicado em 24 ago 2025 • por Daniel •
Com o rio Formoso como cenário, público trocou mergulho por sanfona, forró, hip hop e dança
O último dia do Festival de Inverno de Bonito 2025 foi de contrastes: se o frio surpreendeu moradores e turistas, com uma queda brusca de 14 graus de um dia para o outro, a programação cultural do Balneário Municipal garantiu calor humano, dança e emoção até o fim da tarde.
A abertura ficou por conta de Gauchinho Sanfoneiro e Banda, que transformaram o gramado do balneário em um verdadeiro bailão. Radicado em Bonito há 35 anos, o músico lembrou sua trajetória: “Vim do Rio Grande do Sul para trabalhar na construção civil e, três anos depois, já estava tocando. Hoje me sinto bonitense de verdade e tenho orgulho de cantar no festival”, contou.
No repertório, um destaque especial emocionou o público: a música “Bonito”, composta por Bone Miranda e gravada por Gauchinho. “É uma canção que levo com orgulho, porque fala da nossa cidade. Já fui homenageado como cidadão bonitense e cantar essa música aqui tem um significado ainda mais especial”, disse.
A professora Tabatha Mesquita, de Campo Grande, não resistiu à sanfona: “Pena que esfriou, mas o festival é assim, de inverno. O balneário me surpreendeu, até com dança pra esquentar o corpo, já que não dá pra tomar banho. Eu já fui muito baileira, cheguei a ser prenda, e hoje aproveitei pra colocar a dança em dia”.
A sequência foi da banda Ipê de Serra, que participou pela primeira vez do festival. O percussionista Juninho Zabumba destacou a escolha do repertório: “A gente sempre prioriza o pé de serra, com Luiz Gonzaga, Dominguinhos, mas também misturamos com Falamansa e versões da MPB. O forró é quente por natureza, difícil alguém ficar parado. Mesmo com o frio, a gente conseguiu trazer o público pra dançar”. Formada em 2023, a banda viajou ao evento na van batizada de Maria Bonita, que percorre o estado levando forró pé de serra às comunidades e festas.
Ritmo – O início da tarde no Balneário teve também a apresentação de Leonardo Bugalu, músico com quase três décadas de carreira. Com um repertório inspirado em grandes compositores da MPB e na tradição regional, ele explicou sua escolha: “Sempre busco canções que façam pensar, que tragam poesia e contexto. Hoje, no palco, resgatei músicas que não aparecem tanto nas grandes mídias, mas que são essenciais para manter viva a nossa cultura”.
Bugalu, que prepara seu primeiro álbum autoral após anos de composições guardadas, fez questão de incluir no repertório uma canção própria. “Tenho músicas escritas há muito tempo, mas só agora começo a acreditar nelas. Quero lançar um trabalho que una a regionalidade sul-mato-grossense com a rítmica brasileira, sem perder a essência de nenhum dos lados”, disse.
Durante o show, ele convidou ao palco os jovens do coletivo Entrelaçando Ritmos, dando espaço para que rimassem junto com ele. “Foi emocionante ver essa integração. Eles já têm músicas próprias, já estão no Spotify, e merecem ser vistos como grandes artistas”, comentou Bugalu.
Depois da participação especial, o grupo de hip hop voltou ao palco com sua estreia oficial na carreira musical. Formado por jovens de Bonito, o coletivo nasceu há dois meses e traz o rap como ferramenta de transformação social.
“O hip hop salva vidas, como salvou a minha. Tem gente que vê o rap como coisa ruim, mas a gente mostra que é o contrário: é caminho, é salvação”, afirmou o MC Foganelli, de 18 anos. O parceiro Guilherme GRZ completou: “Nossa meta é colocar o Mato Grosso do Sul no cenário do rap. A gente fala de desigualdade, de vivência de rua, mas também de liberdade de expressão. É dar voz ao que vivemos”.
Para Lachefsosa, a missão do grupo é inspirar quem vem depois: “Muita gente da fronteira acaba indo pro tráfico. A gente quer mostrar outro caminho: transformar a dor em letra, inspirar quem começa agora a sonhar com algo diferente. Como fez o Sabotage, nossa referência”.
Estudantes – O protagonismo juvenil também esteve presente na Escola Estadual Bonifácio Camargo Gomes, que brilhou em duas frentes: com os alunos do programa de estágio do festival e com os vencedores de seu sarau cultural.
Segundo o professor André Vieira, a iniciativa de estágio partiu do próprio grêmio estudantil: “Eles queriam se sentir parte do festival. Acompanharam montagem, bastidores, organização, e perceberam que tudo exige qualificação. Foi uma imersão para mostrar que o evento não é só para turistas, mas também para o bonitense”.
A aluna Ludmila Andrade, 16 anos, contou com entusiasmo o aprendizado: “Foi incrível conhecer os bastidores. A gente só vê o show pronto, mas conversar com gente da TV, da produção, entender os detalhes, me fez sonhar em seguir nessa área. Me senti privilegiada”.
No palco, o grupo AKL, formado por alunos do ensino fundamental, apresentou uma coreografia que uniu dança africana e hip hop. Alan Batista, 12 anos, explicou: “Escolhemos essas músicas para trazer um pouco da cultura ancestral, da dança africana, junto com o que a gente gosta hoje, a dança de rua”. Já Isis dos Santos, também de 12 anos, resumiu o sentimento coletivo: “A dança é terapia, ajuda a esquecer os problemas e unir amizades. Ensaiamos todos os dias por duas semanas para estar aqui. É muito especial”.
Entre sanfona, zabumba, rimas, poesia e dança, o Balneário Municipal se transformou em um grande palco da diversidade. O frio intenso não espantou o público, que encontrou no festival música para aquecer o corpo e experiências para guardar na memória.
FIB 2025 – Até domingo (24), Bonito será palco de apresentações de música, dança, teatro, literatura, moda, artes visuais e gastronomia. Os quatro palcos principais: Sol, Águas, Futuro e Lua, receberão artistas regionais e nacionais. O festival reafirma ainda valores de acessibilidade e sustentabilidade, com tradução em Libras, gerenciamento de resíduos, plantio de mudas e ações de educação ambiental.
Para mais informações e a programação completa, acesse: https://mscultural.ms.gov.br/festival/festival-de-inverno-de-bonito/ e no Instagram @festivaldeinvernodebonito
texto: Evelise Couto – Ascom/FIB
fotos: Diego Cardoso – Ascom/FIB